Dicionário de Silêncios
Léo Asfora
Mirada, 2024. 84 páginas. R$ 53
A obra Dicionário de Silêncios, de Léo Asfora, é uma investigação literária sobre a complexidade do silêncio e a multiplicidade de sentidos que podem ser extraídos das palavras, especialmente aquelas que, à primeira vista, parecem escassas em conteúdo. O autor, ao longo de seus versos, constrói um espaço onde o silêncio não é ausência, mas presença ativa, carregada de significados implícitos.
Asfora sugere, em sua poesia, um elemento constitutivo da expressão. As palavras, muitas vezes reduzidas à sua forma mais essencial, exigem do leitor um esforço de introspecção e reflexão. O poeta desafia o leitor a decifrar o que é dito, assim como o que permanece nas entrelinhas. As suas palavras não se satisfazem com a explicitação imediata de sentidos; elas convocam à interpretação, ao desconstruir de sentidos estabelecidos, proporcionando ao leitor uma experiência que é simultaneamente desafiadora e reveladora.
O vazio, longe de ser uma simples ausência, é aqui uma superfície fértil, capaz de refletir as angústias, os dilemas existenciais e as tensões sociais do nosso tempo.
A proposta poética de Asfora não se limita a uma exploração do silêncio enquanto tema, mas se utiliza deste elemento como estrutura que sustenta e dá forma ao discurso. O autor se utiliza de uma linguagem concisa e precisa para representar o abismo entre a palavra e o que não pode ser dito, e ao fazê-lo, ele nos confronta com a dor e o vazio existencial da contemporaneidade.
Ao interagir com o vazio proposto por Asfora, somos desafiados a refletir sobre os nossos próprios silêncios, sobre as lacunas não preenchidas. O vazio que atravessa os versos não é um fim em si mesmo, mas um caminho que, ao ser percorrido, abre portas para uma compreensão mais ampla de nós mesmos. É pessoal.
Leia mais resenhas
- “A Moranga Sagrada”: J.C. Marçal desvenda a pós-modernidade em contos entrelaçados
- “Água Turva”: um thriller entrelaçado com a realidade e o fantástico
- Entre perguntas e naufrágios, Manoella Valadares explora poesia anfíbia em “Ninguém Morreu Naquele Outono”
- “Dicionário de Silêncios”, de Léo Asfora: a poética do vazio e da ausência
- “Nunca é triste um corpo que fala eu te amo”, de Carlos Gomes Oliveira, abraça a complexidade do amor