Proclamem nas Montanhas
James Baldwin
TAG, 288 páginas, R$ 94,90
Tradução: Paulo Henriques Britto
James Baldwin é um dos nomes mais importantes da literatura estadunidense contemporânea e conhecer o seu primeiro romance, Proclamem nas Montanhas (1953), é a oportunidade de entrar em contato com a gênese de sua escrita que, no decorrer dos anos, produziu diversas obras ensaísticas e de ficção com uma lúcida observação da vida social e política da população negra do seu país.
A obra de estreia de Baldwin na ficção tem inspiração autobiográfica e revela o reencontro do autor com suas origens, assinalando a sua tomada de posição na luta por direitos civis que marca sua trajetória. O romance conta a história de John, jovem filho de um pastor pentecostal autoritário no bairro do Harlem, em Nova York, na década de 1930.
- Leia mais: “Da próxima vez, o fogo”, de James Baldwin: um livro incontornável para os debates sobre o racismo
O adolescente enfrenta o dogmatismo paterno ao mesmo tempo em que cresce sua curiosidade pelo mundo e ele descobre os primeiros traços de sua homossexualidade. A trama se articula a partir de episódios da vida pregressa dos pais e parentes de John, mostrando como os caminhos por eles trilhados determinaram as relações que eles mantêm com a religião e como isso repercute no cotidiano presente do rapaz.

A imposição de valores morais da igreja que frequenta, a hipocrisia que lentamente vem à tona, a violência racial e como isso reverbera no íntimo de John ganha, pelas palavras de Baldwin, uma força espantosa. O escritor, já nesse primeiro livro, demonstra sua capacidade de enfrentar, com honestidade e sensibilidade, a complexidade das relações entre raça, religião e sexualidade.
Esta edição de Proclamem nas Montanhas lançada pela TAG – Experiências Literárias é a primeira tradução brasileira do romance de estreia de Baldwin. Ele foi uma indicação de Itamar Vieira Junior, autor do consagrado Torto Arado. Segundo Vieira Junior, a leitura da obra o impactou sobretudo pela atualidade do tema e a narrativa envolvente.
Em entrevista publicada na brochura que acompanha o livro, Vieira reconhece Baldwin como um dos autores fundamentais que o ajudaram no processo de escrita a compreender quando a experiência humana íntima é atravessada por nossa história social. Na brochura há também um interessante comentário feito pelo próprio autor do período da sua vida narrado em Proclamem nas Montanhas, publicado na revista The New Yorker, em 1962.
Quem conhece bem os demais trabalhos literários de Baldwin certamente vai identificar, neste primeiro livro, o quanto as experiências brutais vividas por um jovem negro nele narradas estão presentes nos seus personagens futuros. Personagens com os quais o escritor descortinou os efeitos devastadores do racismo, da desigualdade social e quebrou o silêncio em torno das questões LGBTQIAPN+.
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