Cine PE: Política e nonsense em dia de público pequeno

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Cadê Meu Rango? é mais um curta-piada (Divulgação)
Alexina, que teve a história contada em curta, durante encontro com Mao Tsé Tung (Divulgação)
Alexina, que teve a história contada em curta, durante encontro com Mao Tsé Tung (Divulgação)

Público pequeno para ver os curtas do Cine PE
Destaque ficou com o resgate da guerrilheira Alexina e o nonsense Linear

Por Alexandre Figueirôa

Provavelmente por conta da forte chuva que desabou nesse domingo (28) no Recife, durante quase todo o dia, o público presente ao Cine PE foi um dos menores em toda sua história. A sessão da Mostra Pernambuco realizada no período da tarde foi a mais prejudicada, começou com atraso e os realizadores estavam um pouco tristes por não terem seus filmes apreciados por uma plateia mais animada.

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Os curtas da mostra local foram Yara, de Sandra Ribeiro e Entre Lua, a Casa É Sua, de Marcos Carvalho e Edineia Campos. O filme de Sandra integra o projeto As Vozes de Lilith – série de filmes realizados por mulheres – e versa sobre uma católica fervorosa que, enquanto reza no altar, recorda-se de sua iniciação sexual ocorrida na sacristia da igreja. Com cinco minutos de duração entendemos o argumento do filme, porém pelo tempo muito curto e uma certa falta de expressividade do elenco, Yara não revela com a intensidade adequada a situação narrada.

O curta de Marcos e Edineia sobre a chegada de Luiz Gonzaga no céu foi muito aplaudido pela comitiva de moradores da cidade de Exu levada ao Centro de Convenções. O grupo de exuenses participou da equipe de produção e do elenco e estava exultante por entrar no mundo do audiovisual por meio do projeto Cinema no Interior. O curta valoriza o folclore nordestino e suas manifestações, mas apresenta as falhas usuais de quem está dando os primeiro passos na realização fílmica.

O doido e simpático curta Linear (Divulgação)
O doido e simpático curta Linear (Divulgação)

Política e nonsense na Mostra oficialNo turno da noite, a mostra oficial contou com a exibição de mais quatro curtas metragens. Dois filmes se destacaram: Linear, de Amir Admoni e Alexina – Memórias de um Exílio, de Cláudio Bezerra e Stella Maris Saldanha. O primeiro é uma animação mesclada com imagens reais onde vemos uma brocha, conduzida por um ponto, marcando a linha divisória das pistas de uma estrada. O nonsense da situação e as brincadeiras visuais propostas mostram como uma ideia simples pode resultar num filme inteligente.

Numa noite em que o CinePE prestou uma homenagem justíssima ao documentarista político Silvio Tendler, o documentário de Cláudio e Stella estabeleceu um diálogo direto com alguns dos principais filmes do cineasta. Alexina – Memórias de um Exílio resgata a trajetória da esposa do líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião, mostrando a sua atuação política e o papel que desempenhou na luta contra o regime militar brasileiro. O filme nos traz informações curiosas sobre a vida da ex-militante, os encontros que teve com Fidel Castro, Che Guevara e Mao Tse Tung e de seu intento de criar um braço armado das ligas comandadas por seu marido. Revela ainda o desencanto que ela e o filho carregam pelo esforço empreendido em prol de uma revolução que nunca se concretizou.

Cadê Meu Rango? é mais um curta-piada (Divulgação)
Cadê Meu Rango? é mais um curta-piada (Divulgação)

Os outros dois filmes da noite, apesar de serem produções onde se percebe claramente que contaram com bons recursos técnicos, não apresentam os resultados esperados. A animação Cadê meu Rango?, de George Munari Damiani, é sobre um rapaz que todo dia ao acordar e abrir a geladeira descobre que alguém comeu o seu café da manhã. A animação piada é bonitinha, mas acaba não tendo muita graça porque logo adivinhamos o desfecho.

O outro curta Os Contratadores, de Evandro Rogers e Marcus Nascimento é verborrágico e chato. Mostra os integrantes de um conglomerado econômico entrevistando um candidato a membro da organização, mas desconcertados com as repostas dadas pelo entrevistado. A parafernália de recursos cênicos usados não diz a que veio e os diálogos construídos em cima do enfadonho discurso clichê empresarial são ainda mais aborrecidos do que o seu original. Só não deu para dormir porque os atores gritam demais.