Dentre as várias ganhadoras que já passaram por RuPaul’s Drag Race, atualmente em sua 16ª temporada do reality, Bianca Del Rio provou-se uma das mais drag queens mais engraçadas e carismáticas. Personagem criada por Roy Haylock, de Nova Orleans, nos Estados Unidos, a drag queen é um dos maiores nomes do universo drag e da comunidade LGBTQIA+ e expandiu seus talentos para além do programa e se descobriu nos shows de stand-up comedy. “NÃO FAÇAM ISSO! É uma armadilha. Eu pensei em fazer uma vez por diversão”, brinca. Bianca, de passagem com shows de comédia no Brasil, retorna agora com apresentações de sua nova turnê, Dead Inside, no Recife, nesta quinta-feira (31).
Quando a primeira temporada de RuPaul’s Drag Race foi ao ar, em 2009, a produção modesta e o alcance pequeno pareciam indicar que o reality show não faria sucesso. Pouco tempo depois, porém, a competição entre drag queens comandada pela diva desse mundinho RuPaul provou-se um fenômeno, principalmente dentro da comunidade LGBTQIA+. Com uma história marcada pela marginalização, o universo das drag queens virou o jogo ao menos na TV: nunca foi tão popular, especialmente no Brasil, que em 2023 ganhou uma versão brasileira da franquia comandada por Grag Queen, além de diversos outros programas aos moldes de RuPaul’s Drag Race.
Essas artistas conquistaram fama e reconhecimento por meio da televisão e, principalmente, puderam exibir ao grande público seus multi-talentos artísticos, que vão desde a criação de roupas até grandes apresentações de lipsync, técnica de sincronia labial usada em dublagens musicais.
Desde que venceu a 6ª Temporada da RuPaul’s Drag Race, em 2014, Bianca Del Rio continuou sua trajetória ascendente de sucesso, lançando filmes, livro e fazendo turnê de shows de comédia stand-up. “Não há regras em drag”, opina Del Rio.
“Dead Inside” segue o enorme sucesso das duas turnês de comédia mais recentes de Bianca: “Unsanitized”, em que ela se apresentou para públicos lotados em 99 cidades de 27 países, e “It’s Jester Joke”, fazendo história como a primeira drag queen a se apresentar na Wembley Arena e Carnegie Hall, lotando ambos emblemáticos locais.
Em entrevista exclusiva à Revista O Grito!, a drag falou sobre a popularização da cultura drag no mundo, política, humor e muito mais. Confira:
O que podem os fãs esperar do seu novo espetáculo de stand-up comedy?
Eu sempre digo que esperem o inesperado porque você nunca vai saber como a noite vai ser. Eu estou no Brasil, então isso depende de quantas caipirinhas eu tomar. E também depende da audiência. Parte do show é escrito e tem script, que é meu ponto de vista da vida e do mundo ao meu redor como uma drag queen que está envelhecendo. Mas também eu interajo com a audiência durante o show. Cada audiência é diferente então cada show é um pouco diferente, mas é sempre um momento legal. Eu digo: sente-se, tome um drink, esqueça suas preocupações e apenas dê boas risadas comigo.
Que conselho daria às jovens rainhas que estão a começar?
NÃO FAÇAM ISSO! É uma armadilha. Eu pensei em fazer uma vez por diversão. E agora tomou quase 30 anos da minha vida. Brincando gente hahaha. Eu acho que você poderia tentar de tudo e se apoiar com diversão principalmente. Não há regras em drag. A única coisa que eu penso sobre as queens jovens é que deveriam evitar tentar imitar outra queen. O que funciona para alguém não necessariamente funciona para você. Pense no que você é bom e o que lhe diverte e vá nessa! Esse é o melhor jeito de se estabelecer e brilhar.
Como a audiência drag mudou ao longo do tempo?
Quando eu comecei muitos e muitos anos atrás drag era principalmente em clubes LGBTQIA+, então a audiência era apenas de homens gays. Agora está mais mainstreaming e o público está mais diverso. Mulheres heterossexuais das áreas rurais representam uma grande parte do público drag agora.
O que pensa do fato de RuPaul’s Drag Race agora ter uma grande audiência composta de pessoas brancas mulheres e garotas heterossexuais?
Drag Race? O que é isso? É um filme? Quem está nele? É sobre o quê? Eu não tenho ideia sobre o que você está falando. 😉
Você acha que o racismo é um problema na cena drag ?
Eu sou dos Estados Unidos da América. Racismo é um problema em todo lugar. Isso é tão lamentável e ridículo e apenas direi isso: os mais estúpidos, os mais mal educados e os de mente fechada que encontrei na vida são racistas.
O que você acha da política climática nos Estados Unidos agora?
Quanto tempo nós temos? De fato, quanto tempo nós temos? Esse é um profundo e frustrante assunto. Se você me deixar falando sobre a política americana eu nunca vou calar a boca. A política climática ao redor do mundo está fodida. Eu abordo um pouco no meu show então sempre eu digo o seguinte: jovens precisam sair e votar, parem de deixar velhos fodidos mandar na sua vida.
O que você vai fazer depois de terminar essa turnê?
Estou em turnê com o meu show de comédia Dead Inside até março 2025. Existem alguns projetos em potencial que eu estou trabalhando quando eu acabar essa turnê. Em breve, meu novo grande projeto será confirmado e estará pronto para ser anunciado. Eu falarei sobre isso na rede social. Fiquem ligados!
O humor é uma forma de resistência?
Você já viu minha maquiagem? Eu pareço um palhaço, então humor foi o caminho mais lógico para mim.
Bianca, você conhece alguma drag brasileira? Qual você conhece e admira?
Eu tive o prazer de conhecer Silvetty Montilla muitos anos atrás durante minha primeira viagem para o Brasil. Eu absolutamente a adorei. Considerando minha agenda de shows, não vou ter tempo de ver outras ao vivo, mas tem algumas que sigo no Instagram e me divirto assistindo como Mime Victoria e Desiree Cher. Essa é apenas minha pequena lista. Eu sempre estou sempre procurando outras para adicionar mais.
Os ingressos para o show desta quinta-feira no Teatro Riomar estão disponível no site.
Tradução: Anderson Lavor.
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