luedji2
Foto: Henrique Falci/Divulgação.

Luedji Luna reinventa a própria estética em show no Coquetel Molotov: “mais mulher e menos deusa”

Show do "Bom Mesmo é Estar Debaixo D'água Deluxe", último álbum da cantora, se inspira na sonoridade urbana afro-americana e navega pelo blues, jazz e soul

CQTL MOLOTOV 20 ANOS 1

Depois de cinco anos e dois álbuns novos, Luedji Luna retorna ao palco do No Ar Coquetel Molotov neste próximo sábado (21) com o show do mais recente trabalho Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água Deluxe. Para a cantora, este é um retorno todo especial ao Recife, já que sua primeira vez na cidade, cinco anos atrás, foi também no Molotov, mas a experiência foi “sofrida”, por conta dos problemas de saúde que teve na época.

Leia mais: No Ar Coquetel Molotov
_ A nova cena eletrônica do Recife em destaque no palco do No Ar 2023
_ Irmãs de Pau: dupla de funkeiras subverte padrões em seus próprios termos
_ Marcelo D2: o samba é revolucionário
_ A programação completa do No Ar 20 anos

“Foi num Molotov, o show Um Corpo no Mundo e eu estava afônica, inclusive, sofrendo muito pra fazer esse show. Por isso, é muito simbólico voltar para esse festival, porque era minha primeira vez no Recife e eu não estava 100%, estava doente, mas fiz assim mesmo”, conta. 

Já neste ano, Luedji Luna retorna com outra perspectiva, e uma visão sobre si e sobre seu trabalho mais madura e planejada. A cantora baiana vem ao Recife com o show que funde seus dois últimos álbuns: o Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água (BMDA) – lançado em um ano de pandemia e algumas incertezas para os artistas – e  o Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água Deluxe (2022), que foi lançado pela vontade de manter o projeto vivo e, em alguns casos, tentar ideias diferentes do original. 

A evolução conceitual da obra aconteceu em um período posterior ao lançamento da versão original e foi criado na expectativa de que os conceitos pudessem ser repensados e melhorados. “No original, que eu lancei na pandemia, eu já queria aparecer diferente, só que não funcionou muito. Eu queria me distanciar daquela imagem de entidade, a coisa mais etérea que o Um Corpo no Mundo acabou me colocando e queria me aproximar mais de uma imagem mais feminina, mais mulher, mais terrena e não funcionou muito”. Ela complementa ainda que o trabalho de amadurecer a ideia do disco acontece pela articulação de toda uma equipe que trabalha na reformulação estética a fim de fazer com a cantora seja “mais mulher e menos deusa”. 

Além do sentido estético, os seus dois últimos álbuns também são resultado de um refinamento sonoro, em uma aproximação com ritmos da comunidade negra norte-americana. No BMDA original, Luedji estava “extremamente jazzy” mas ao desenvolver as faixas do segundo disco, decidiu extrair características de outros gêneros. “No Deluxe eu quis me urbanizar, atualizar esse jazz que está presente no rap, no neo-soul, no R&B. A escolha das participações e das produções e o próprio uso da língua inglesa, que nunca teve presente nos meus discos”, afirma.

A escolha de fundir os elementos da música norte-americana a elementos brasileiros surgiu para Luedji primeiro como resultado de suas experiências musicais em São Paulo, que a aproximou de ritmos urbanos contemporâneos, e depois, a partir de suas memórias da infância ouvindo MPB. 

“Nós fazemos isso: antropofagia, a gente engole e transformamos em algo nosso, algo novo. Os artistas brasileiros fazem isso muito bem.” 

Luedji Luna

“Tem todo um universo aqui [em São Paulo], que respira essa estética. O movimento hip-hop se originou aqui e eu estou aqui, então comecei a ser atravessada por essas influências que eram diferentes das minhas na infância. Mas não tão diferentes porque, sim, tinha também um jazz presente no Milton [Nascimento]; o jazz, o blues e o soul presentes no Djavan, no Luiz Melodia

Para Luedji, o seu trabalho nos dois álbuns faz parte de uma tendência de misturar os ritmos da comunidade negra norte-americana com a música brasileira,  e além dos cantores de sua infância, também cita a presença do soul nas canções de Tim Maia. “Nós fazemos isso: antropofagia, a gente engole e transformamos em algo nosso, algo novo. Os artistas brasileiros fazem isso muito bem.” 

LuedjiLuna42618ceu foto Henrique Falci
Versão deluxe foi lançada um anos depois da versão original. (Foto: Henrique Falci/Divulgação.)

Ao mesmo tempo que a cantora mudou o horizonte sonoro de seu trabalho, as pretensões de mercado também são outras, e o projeto Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água surge como uma oportunidade para se comunicar com os ouvintes internacionais. Parcerias com músicos, produtores e cantores de fora do Brasil foram escolhidas para projetar a artista no circuito internacional. 

“A escolha das participações, a escolha das produções, o próprio uso da língua inglesa, que neste disco entra com a participação da Mereba, do Oddisee. Então foi algo estratégico mesmo, querendo dialogar com esse público, com esse universo e com esse mercado norte-americano”.

O plano tem dado certo. Durante o primeiro semestre deste ano, Luedji tem viajado dentro e fora do Brasil com a turnê e já passou por Suíça, França, Dinamarca, Irlanda, Canadá e, mais recentemente, Japão. Essa já era uma vontade desde o seu primeiro lançamento, ainda em 2017, quando a cantora disse já se pensar como uma “cantora internacional e querendo dialogar com o mundo”.

“Mas esse ano, de fato, tem sido um ano especial.  Um ano com experiências novas com a música. E eu acho que o público recebe muito bem. Obviamente que cada país tem seu jeitinho, sua característica, tem seu público, uma resposta diferente, mas todas são positivas”.

O No Ar Coquetel Molotov 2023 acontece neste sábado, no Campus da UFPE. Ainda há ingressos à venda.

Leia mais entrevistas: