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No Ar Coquetel Molotov 2023: o novo samba tradicional de Marcelo D2 desembarca no Recife pela primeira vez

Artista inaugura nova fase da carreira com o disco 'IBORU, que sejam ouvidas nossas súplicas'

Foto de Rodrigo Ladeira/Divulgação.

Vinte anos depois de À Procura da Batida Perfeita, Marcelo D2 volta a propor um novo diálogo entre o samba e o rap no mais recente disco IBORU, que sejam ouvidas nossas súplicas, lançado no último mês de junho. No próximo dia 21, ele subirá ao palco do No Ar Coquetel Molotov para apresentar o novo trabalho ao vivo. Será a primeira vez que a capital pernambucana receberá o show, batizado de Marcelo D2 e Um Punhado de Bamba.

Diferente das incursões musicais anteriores do cantor, desta vez, é o rap que invade o universo do samba e empresta suas batidas para formar um “novo samba tradicional”, como ele mesmo define. “Nesses últimos anos, eu percebi que o grave do 808 que o rap propôs dominou a música pop. Tudo o que você ouve hoje em dia, de sertanejo à música pop americana, tem esse grave eletrônico”, destacou em entrevista coletiva realizada na última quinta (5).

Para D2, o álbum vem como um trabalho, antes de tudo, experimental. “Porque eu amo Paulinho da Viola, mas ele tem o samba dele. Eu amo Zeca Pagodinho, mas ele tem o samba dele. Eu amo Martinho da Vila, mas ele também tem o samba dele. Eu gostaria de ter o meu samba”, destacou o rapper, que, em 2010, chegou a gravar um disco apenas com interpretações de músicas de Bezerra da Silva.

“Está na hora do samba ser reconhecido do jeito que ele tem que ser reconhecido. O samba é uma música revolucionária. É uma música de tradição. É uma música tão bonita que carrega tanta coisa.”

Marcelo D2

Porém, IBORU não apenas inaugura uma nova fase para o artista Marcelo D2 como também reflete um novo momento da vida de Marcelo Peixoto. “São coisas que mexeram com a minha vida e acabam fazendo do disco uma experiência pessoal muito grande de amor, de fé, de comida. Não só de música.” Há dois anos, ele perdia sua mãe, Paulete Peixoto, homenageada nas faixas “Pedacinhos de Paulete” e “Saravá”, e simultaneamente celebrava o nascimento da sua filha caçula, fruto do casamento com a produtora Luiza Machado.

“Esse disco começa com o meu encontro com a Luiza, minha esposa. Ela me mostra que eu sou um cara de fé”, compartilhou. “Eu me iniciei no Ifá [religião de matriz africana] e descobri a fé, não a fé de uma religião, mas a fé enquanto filosofia de vida sabe. Um cara que faz um Planet Hemp com 20 anos tem que ter muita fé. Fé na utopia, fé num mundo melhor, fé na amizade.”

Dividido em três partes, IBORU inicia com canções que destacam o DNA experimental inerente ao projeto para depois, no segundo ato, evidenciar a ancestralidade que o artista busca evocar, trazendo as participações de Mateus Aleluia e do trio Metá Metá, e, por fim, transbordar a veia popular do samba de terreiro ao lado de grandes nomes como Alcione, Mumuzinho, Zeca Pagodinho e Xande de Pilares.

“É um disco que reacendeu em mim o amor por fazer música. Encontrar uma coisa nova depois de 30 anos de carreira tem me deixado maluco. Não estou nem dormindo direito com as possibilidades que tem”, contou o rapper, que lançou ainda um curta-metragem homônimo, roteirizado por ele e codirigido com Luiza Machado. O filme ficcional conta a história de um encontro entre Pixinguinha, João da Baiana e Clementina de Jesus, em 1923.

Clementina, aliás, aparece para D2 como uma grande influência. “Luiza, Simas e Clementina de Jesus são os três pilares desse disco”. O Simas ao qual ele se refere é Luiz Antônio Simas, professor de História, escritor e compositor, com uma extensa obra publicada sobre a cultura popular carioca e brasileira. “Ele é um professor no melhor sentido da palavra. Para mim, ele é o maior influencer que tem no Brasil hoje em dia”, brincou.

Marcelo D2
D2 no palco: “É um disco que reacendeu em mim o amor por fazer música. (Foto: Wilmore Oliveira/Divulgação).

Contemporâneo e amigo de Chico Science, D2 também destaca o papel decisivo que o Manguebeat teve em pavimentar o caminho que hoje o conduz a esse “novo samba tradicional”. “Ninguém ouvia maracatu nos anos 1990 e o Chico resgatou isso. Acho que [IBORU] tem muito disso sabe”, pontuou. “Está na hora do samba ser reconhecido do jeito que ele tem que ser reconhecido. O samba é uma música revolucionária. É uma música de tradição. É uma música tão bonita que carrega tanta coisa.”

“Em À Procura da Batida Perfeita, eu rodei 37 países tocando o que era o meu samba naquela época. Então, eu acho que o IBORU tem essa função de reconectar a nova geração com o samba”, ressaltou. Agora, a expectativa é que o projeto abra portas para outras possibilidades e investidas musicais. “Eu acho que vamos ter anos aí para a frente de muita coisa acontecendo. Eu estava falando que era a ponta de iceberg, mas acho que vou mudar. Isso que está acontecendo agora é a raiz de uma árvore que ainda vai dar muitos frutos.”