Quando cantou “Não é à toa que eu sou a Number One”, ela disse muito sobre toda a apresentação. Na noite desse sábado (19), o tradicional sábado de Zé Pereira, Pabllo Vittar atraiu um oceano de foliões para o polo principal no Marco Zero, dentro da programação de shows do Carnaval do Recife. Com um setlist que contemplou diversos momentos dos cinco álbuns da carreira, a drag entregou um repertório digno da festa, marcando como um dos pontos apoteóticos da noite.
Antes de Vittar subir ao palco, o Marco Zero já se embriagava do Frevo, numa extensão do que rolou mais cedo no Galo da Madrugada, que neste ano reuniu mais de 2,5 milhões para a folia. A Orquestra Maestro Duda, nas comemorações dos 80 anos de história com a música de seu regente (Maestro Duda), manteve a chama do lirismo e do frevo tradicional acessa, assim como Almir Rouche que veio logo em seguida, trazendo clássicos e provocando o frenesi de agitar o público.
“Number One” e “Flash Pose” abriram o show de Pabllo Vittar, que chegou performática e entregando uma fantasia perfeita de sua Jutsu Sexy. Mantendo as homenagens aos mangás, coisa que já tinha feito pela manhã no Galo da Madrugada, a drag trouxe referências a Naruto.
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Durante as primeiras músicas, Vittar fez um desabafo, contando que não tinha dormido da noite anterior para aquela, confessou certa rouquidão e pediu a ajuda do público para cantar as músicas. A maratona começou em Salvador e passou pela manhã e, na ocasião, à noite no Recife. Mas se de fato o problema fosse não poder cantar, Pabllo ganhou uma solução imediata: o povo cantaria por ela, se preciso fosse. Mais aquecida da energia recifense, não faltaram agudos ovacionados pelos foliões.
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Clássicos e sucessos da drag como “Buzina”, “Open Bar”, “A Lua”, “K.O” e “Problema Seu” dividiram espaço com as recentes reveladas do novo álbum Noitada, representado por “Ameianoite”, “Descontrolada”, “Derretida”, “Culpa do Cupido”, “Penetra” e “Balinha de Coração”, já na boca do povo. Com novas roupagens instrumentais nas faixas que o público conhece há anos, Vittar surpreendeu e inovou na versatilidade de seu som que nesta noite foi pagodão, pop, rock, merengue e brega funk.
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Adiantando o que vinha nas atrações seguintes, Pabllo recebeu para cantar “Disk Me” a cantora pernambucana UANA, e “Amor de Quenga” o também pernambucano Romero Ferro, representando o pop do estado. Em momentos solo, UANA apresentou à multidão seu recém lançado single “Movimento da Fadinha” e Romero cantou entre outras “Tolerância Zero”.
Pabllo Vittar deixou o palco com a tradicional fim de show “K.O”, dispondo performance, carisma, dança (o balé esplendoroso) e uma sensação satisfatória de um show potente entregue. Pode ser que o recifense tenha sentido falta de “Cadeado”, última faixa a ser lançada de Noitada, surpreendendo pelo brega funk tão íntimo e icônico para o público da capital pernambucana. Porém, a chegada do Recife Cidade do Brega supriu a “ausência”.
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O Brega funk no palco principal: mérito e representatividade local
Os Neiffs abriram as atrações do Recife Cidade do Brega, projeto que levou ao palco principal nomes como Elvis, MC Abalo, Lekinho Campos, DJ JohnJohns, Sheldon, Conde Só Brega, Sedutora, Valquíria, Dayanne, Bateu a Química, Michelle Melo, Dany Myler e Amigas do Brega.
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O brega e o brega funk são expressões musicais que permeiam a história recifense e pernambucana. É a periferia em música, e o meio transformador de vidas de pessoas periféricas através da arte. Isso, pudemos perceber nas palavras de Anderson Neiff, quem exaltou a mãe e agradeceu pela oportunidade e nas lágrimas de Elvis quem se viu emocionado com o público cantando suas músicas de peito aberto.
O espaço para o brega no Carnaval do Recife veio forte mas também é verdade que veio tarde. No último Carnaval, em 2020, ano em que o brega funk (principalmente) tomava o gosto do Brasil e passava a ser vitrine dos artistas pernambucanos para fora do estado, o ritmo não ocupou os polos. O desapontamento de alguns foliões sobre o tempo curto das atrações neste ano também são legítimas. O brega passou muito tempo sem ganhar destaque. É esperado que nos próximos anos, com essa porta aberta, os artistas do estilo sejam melhor contemplados, já que assim como frevo e o maracatu, o brega é um patrimônio imaterial da cidade.
Curiosamente, a vertente mais agitada do ritmo, o brega funk tomou as proporções que hoje tem a nível local e nacional durante a pandemia. Com isso, a sensação que deu foi de que o recifense cantou e dançou todo hit e passinho que não cantou e dançou junto nesses últimos dois anos sem Carnaval.
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