Crítica: Da angústia criadora ao espetáculo da ausência na estreia de Ney Anderson

Personagens marginais de um Recife contemporâneos são captados em sua essência pelo olhar do autor em uma prosa inquietante e real, que chega a incomodar

Fotos Gustavo Arland Ney Anderson escritor 2
Foto: Gustavo Arland.

Em seu livro de estreia, O Espetáculo da Ausência (Editora Patuá), o jornalista e escritor pernambucano Ney Anderson convida o leitor para um passeio pelo Recife contemporâneo. Mais que atravessar por diversas vezes o Rio Capibaribe, somos convidados a enxergar com outros olhos o seu entorno e as figuras humanas que completam aquela paisagem.

Personagens marginais, tantas vezes ignorados, são captados em sua essência pelo olhar atento de Ney e retratados de forma inquietante e real, a ponto de, às vezes, incomodar. Uma imersão no mundo do outro, na qual podemos sentir os medos, anseios, angústias dessas pessoas invisíveis, que se escondem nos becos e esquinas.

Elementos do folclore local se fundem com memórias afetivas do autor em histórias que se entrelaçam, em uma viagem por vezes iluminada pelas luzes melancólicas do Natal; outras ambientadas em meio às troças carnavalescas, em pleno sábado de Zé Pereira.

Capa do livro 1

Com apresentação, prefácio e pósfácio assinados por nomes como Raimundo Carrero, Andrea Nunes, Assis Brasil e Cícero Belmar, O Espetáculo da Ausência é um retrato do lado obscuro que habita não apenas a cidade, mas o interior de cada um. Um chamado para sairmos de nossa zona de conforto, em uma experiência, por vezes, catártica.

Mais que uma homenagem ao pai, a quem o dedica, o livro é uma ode ao local onde nasceu e cresceu. Uma obra gestada por quase uma década de observações e amadurecimento técnico do autor; mesmo período em que também participou de diversas coletâneas e se dedicou à crítica literária e ao site Angústia Criadora, no qual publica regularmente textos e resenhas.

O ESPETÁCULO DA AUSÊNCIA
Ney Anderson
[Editora Patuá, 2020]
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