cinema de 2023

Os 25 Melhores Filmes de 2023

Barbie, Retratos Fantasmas, Rotting Sun, Pedágio, o novo de Scorsese e muito mais entre os destaques do audiovisual este ano

Ilustração: Rogi Silva
Edição: Paulo Floro e Alexandre Figueirôa

Não sabemos se os filmes abaixo listados são realmente os melhores de 2023, mas com certeza são obras que tocaram fundo nos nossos corações e mentes. Boa parte deles são produções de baixo orçamento e alguns não estiveram nos grandes centros da indústria do entretenimento (leia-se Hollywood), ou nos palcos da exibição cinematográfica como o Festival de Cannes.  Mas gostamos deles e compartilhamos com os nossos leitores para concordarem ou discordarem de nossas escolhas.

A nossa lista contempla sobretudo a diversidade de temas, de gênero, de linguagens. São filmes que abordam questões sociais ou que flagram as relações íntimas e os conflitos da existência a partir de um olhar poético, de uma sensibilidade que faz da imagem e do som articulado porta voz do nosso tempo.

A multiplicidade de telas e percursos do audiovisual contemporâneo é um desafio para quem segue os caminhos da sétima arte (sic), por isso ficamos felizes de ver produções pernambucanas e nacionais compartilhadas nesse rol de imagens selecionadas não por fidelidade geopolítica, mas porque são obras de valor estético e temático. Desfrutem.

Acompanhe nosso especial de Melhores de 2023

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Os 30 Melhores Discos

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Consuella, o filme que lançamos em 2023

2023 foi bem especial pra gente! Lançamos o curta Consuella, dirigido por Alexandre Figueirôa, editor-executivo da Revista O Grito!. O filme resgata a história de uma importante personalidade artística do Recife, que viveu seu auge nos anos 1970-80 e que abriu portas para diferentes artistas LGBTQIA+. O curta percorreu o circuito de festivais e teve uma première concorrida no Teatro do Parque, com a presença de pessoas que conviveram com Consuella, além da equipe que produziu a obra. Trata-se de uma importante memória da excelência trans, de alguém que ousou peitar as convenções tradicionais e conservadoras de sua época.

Os 25 melhores filmes de 2023


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(Foto: Nathalia Tereza/Divulgação).

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Rio Doce, de Fellipe Fernandes

Longa de estreia do diretor pernambucano Fellipe Fernandes, Rio Doce traz um retrato vivo e acolhedor do bairro olindense que dá título ao filme, sempre o colocando em perspectiva com outros espaços da cidade. Em constante movimento, o filme desbrava a paisagem urbana para percorrer temas urgentes e delicados como paternidade, masculinidade, racismo e preconceito de classe. Um exame sensível e introspectivo sobre como questões mais universais de natureza política e social podem se entrelaçar de maneira complexa com a nossa experiência individual. – Gabriela Agra.


Os 25 Melhores Filmes de 2023 - Noites Alienígenas.
Foto: Divulgação/Vitrine Filmes.

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Noites Alienígenas, Sérgio de Carvalho

A cidade de Rio Branco, no estado do Acre, apesar de estar situada na Amazônia, não escapa dos dramas urbanos das periferias das cidades brasileiras. Nela, a tradição dos povos da floresta entra em confronto com o tráfico de drogas e as facções do crime organizado, arrastando seus jovens para um mundo perpassado pela violência. O estado de choque desses personagens é inevitável e mostrado em todas as letras neste filme pungente. – Alexandre Figueirôa.

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Foto: Divulgação/Diamond Films.

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Beau Tem Medo, de Ari Aster

Um dos nomes mais expressivos do terror psicológico hoje, Ari Aster desbravou novos horizontes e flertou com camadas cômicas em Beau Tem Medo. Protagonizado por Joaquin Phoenix, o filme nos arrasta para o funil de medos, paranoias e ressentimentos de um homem de meia-idade inseguro e incapaz de tomar as rédeas da própria vida. Um dos maiores acertos está em elevar o já conhecido jogo de dualidade entre delírio e realidade à enésima potência, navegando muitas vezes entre um surrealismo sombrio e um riso auto piedoso. – Gabriela Agra.


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Close, de Lukas Dhont

Pense num filme triste. Para quem gosta de chorar Close é um prato cheio. Mas, convenhamos, é um filme muito bonito. Ele conta a história de dois amigos adolescentes cuja amizade parece inquebrável. A intimidade compartilhada entre os garotos vai sofrer, porém, um grande abalo por conta da homofobia da qual serão vítimas. Interpretações tocantes e a câmera poética explicam o sucesso desta obra sensível e tão atual. – Alexandre Figueirôa.


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Fim de Semana no Paraíso Selvagem, de Severino (Pedro Severien)

O segundo longa-metragem de Pedro Severian (Severino) tem como cenário uma praia do litoral pernambucano marcada por conflitos provocados pela especulação imobiliária e a degradação ambiental de um grande porto em uma de suas margens. A obra nos mostra um realizador maduro e um trabalho cuidadoso na construção de uma narrativa densa com uma fotografia primorosa. – Alexandre Figueirôa.


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Foto: Desiree do Vale/Divulgação.

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Mussum O Filmis, de Silvio Guindane

Em um ano bem produtivo e diversificado para o cinema brasileiro, Mussum O Filmis mostrou que as cinebiografias ainda são um gênero cheio de potencial para entreter e emocionar, mas sem obviedades. O longa de Silvio Guindane acerta ao trazer nuances ao seu personagem principal, na tentativa de abarcar diferentes facetas do incrível artista que foi Antonio Carlos Bernardes, o Mussum (comediante, músico…). Pra completar, Aílton Graça dá show. – Paulo Floro.


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Foto: Divulgação.

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Estranha Forma de Vida, de Pedro Almodóvar

Com uma trama que tem como ponto de partida a história de um xerife e um rancheiro que viveram um caso amoroso quando eram jovens e se reencontram vinte e cinco anos depois, Almodóvar nos deu uma pequena joia de puro deleite cinematográfico. Apesar de ter apenas 31 minutos de duração, o filme estreou comercialmente e causou o maior frisson com sua saborosa mistura de western e frangagem. – Alexandre Figueirôa.


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Três Tristes Tigres, de Gustavo Vinagre

Um trio de amigos perambula pelas ruas distópicas de São Paulo. Personagens à margem, eles buscam descobrir outras figuras como eles para, neste encontro com os outros, renovarem seus afetos e a crença no compartilhamento das experiências como motivo para continuar. A história se passa em plena pandemia e o grande desafio é como permanecerem juntos, mesmo afastados. – Alexandre Figueirôa.


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Passagens, de Ira Sachs

Tomas, um cineasta bissexual, se enamora perdidamente por uma professora, apesar de ter um relacionamento estável com outro homem. O triângulo amoroso que eclode desta paixão louca transforma a vida dos três personagens e é o mote deste filme que busca lançar um olhar atual sobre a fragilidade das relações e de como os impulsos do desejo ainda movem o mundo e os filmes. – Alexandre Figueirôa.


Banshees de Inisherin

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Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh

O filme tinha toda a pinta de ser um “bait” de Oscar (e, em certa medida, foi mesmo), mas ao rever Os Banshees de Inisherin quase um ano depois percebi que o longa manteve toda a sua força mesmo distante da temporada de premiação. Apostando no absurdo, Martin McDonagh focou na incrível interpretação de seus atores para compor uma sátira dos relacionamentos humanos (mais especificamente a amizade) e toda a sua complexidade. – Paulo Floro.


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Propriedade, de Daniel Bandeira

Depois de meses de suspense, o segundo longa-metragem do cineasta pernambucano finalmente estreia nas salas comerciais no apagar das luzes do ano de 2023. A espera valeu a pena. Propriedade é um filme porrada, sem meias verdades. Com uma narrativa crua, porém muito bem arquitetada, Bandeira nos dá a real: a luta de classes não tem fofuras, ela é violenta por si. Confiram e tirem suas conclusões. – Alexandre Figueirôa.


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Homem-Aranha Através do Aranhaverso
, de Joaquim Dos Santos, Kemp Powers, Justin Thompson

Frente ao esgotamento e desgaste da fórmula dos filmes de super-heróis, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso prova que ainda é possível alcançar níveis elevados de inventividade dentro do gênero. Muito além de reproduzir os méritos do seu premiado antecessor, o novo filme de Miles Morales torna-se capaz de expandir a premissa inicial do multiverso, ampliando suas possibilidades narrativas e estéticas. O resultado é uma experiência visual fascinante, onde diferentes cores, texturas e estilos de animação gritam quase como onomatopeias, levando para as grandes telas a profusão artística dos quadrinhos. – Gabriela Agra.


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Em Outros Tempos, de Goran Stolevski

Este filme de baixo orçamento pega a gente de jeito. Um imigrante sérvio na Austrália, vive um romance intenso com o irmão de sua parceira de dança em ballrooms. As interpretações poderosas e a sensível abordagem do desenvolvimento da relação entre os protagonistas não nos deixa indiferentes. A vida, com um olhar queer, mas sem enfeites. – Alexandre Figueirôa.


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Godzilla Minus One, de Takashi Yamazaki

Uma das maiores surpresas do ano, a nova encarnação nos cinemas de Godzilla recupera os sentimentos perturbadores materializados pelo monstro no imaginário japonês. O longa de Takashi Yamazaki é belo e assustador e revive traumas do Japão, como as catástrofes naturais e o horror das bombas atômicas a partir da ameaça inescapável de um dos mais conhecidos monstros da cultura pop mundial. – Paulo Floro.


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Medusa, de Anita Rocha da Silveira

A diretora e roteirista Anita Rocha da Silveira parte da história da famosa górgona da mitologia grega para criar um terror, antes de tudo, sobre as feridas do Brasil, um país sequestrado pelo fundamentalismo religioso. Na trama, um grupo de amigas religiosas sai todas as noites em uma caça violenta por mulheres consideradas promíscuas. Isso basta para que o filme consiga criar uma atmosfera de angústia e pânico, onde o horror nada tem de fantástico, mas, pelo contrário, brota do sentimento de familiaridade e proximidade depois dos quatro anos que passamos. – Gabriela Agra.


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Foto: Divulgação/Warner.

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Barbie, de Greta Gerwig

O filme da boneca queridinha da Mattel gerou um frisson este ano e conseguiu levar milhões de pessoas aos cinemas (todas vestidas de cor de rosa, claro!). Mas, para além do fenômeno comportamental, Barbie, de Greta Gerwig, provou ter vindo para ocupar um lugar especial na indústria e na cinefilia como um todo. O que a diretora conseguiu aqui não foi pouco. Estampar sua visão artística e criativa em uma megaprodução como esta não é para qualquer um. O resultado é uma comédia inteligente e perspicaz, capaz de celebrar e satirizar o legado da boneca, mas também uma narrativa sensível e encantadora sobre amadurecimento e autodescoberta. – Gabriela Agra.


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Holy Spider, de Ali Abbasi

O diretor irano-dinamarquês Ali Abbasi revela nesse thriller perturbador como as estruturas tradicionais e ortodoxas ajudam a perpetuar um ciclo de violência e misoginia que tem como maior alvo as mulheres. Acompanhamos a história da jornalista Areez Rahimi (interpretada por Zar Amir Ebrahimi, melhor atriz em Cannes no ano passado) que decide lutar contra o sistema para investigar o serial killer conhecido como “Spider” e que matou 20 mulheres em 2001. Apesar da protagonista fictícia, o longa é baseado em um criminoso real. – Paulo Floro.


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TÁR, de Todd Field

A parceria entre o diretor Todd Field e a atriz Cate Blanchett nos rendeu esse incrível trabalho sobre maestria, obsessão e alienação causada pela proximidade com o poder. Blanchett interpreta com precisão uma mulher tão focada em si mesma que parece dissociar à medida em que o mundo ao seu redor não mais a enxerga como ela mesma se vê. A direção de Field abusa de enquadramentos e movimentos pouco usuais de câmera, o que dá uma sensação de estranhamento que conduz ao clímax, com a derrocada e queda de sua protagonista. – Paulo Floro.


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Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese

Aos 80 anos, Martin Scorsese mostra sensibilidade para retratar a história de violência que a tribo Osage está submetida. É um anti-western por tentar trazer novas narrativas a um gênero marcado por décadas de conivência com o racismo. Scorsese ainda consegue extrair as melhores performances de um elenco este ano, com excelentes atuações de Lily Gladstone, Leonardo DiCaprio e Robert DeNiro (esses dois últimos trabalhando juntos pela primeira vez). – Paulo Floro.


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Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund

Um iate de luxo em um cruzeiro com bilionários é o palco escolhido pelo diretor sueco propor uma crítica política, econômica e social do mundo moderno. O filme diverte por sua articulação entre o real e o absurdo, tem boas interpretações e, apesar de seu viés de entretenimento cult, provoca incômodo e toca em feridas sociais as quais muita gente costuma ignorar. – Alexandre Figueirôa.


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Monster, de Hirokazu Kore-Eda

Vencedor do melhor roteiro no Festival de Cannes este ano, Monster revela como a burocracia e os absurdos do mundo contemporâneo podem destroçar almas de qualquer pessoa. O drama social de Hirokazu constrói com maestria uma narrativa repleta de mistério e reviravoltas, que dá ao espectador uma sensação de tensão pertinente. A trilha – maravilhosa – é de Ryuichi Sakamoto, que morreu este ano, em um dos seus últimos trabalhos. – Paulo Floro.


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Folhas de Outono, de Aki Kaurismaki

Os acontecimentos mais prosaicos do cotidiano pelas mãos do cineasta Aki Kaurismaki se transformam em histórias surpreendentes. Não por se tornarem grandiosas, épicas ou heroicas, mas pelo que resgatam de personagens comuns plenos de humanidade e cuja trajetória nos é revelada pela maneira ímpar do realizador finlandês flagrar a realidade, borrando os limites entre o cômico e o trágico com ironia e um olhar perspicaz. Imperdível. – Alexandre Figueirôa.


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Rotting In The Sun, de Sebastian Silva

Um artista multimídia depressivo, um influenciador digital aloprado e uma faxineira de meia idade se cruzam numa trama que, inicialmente, parece querer apenas provocar risadas e estranhamentos no espectador. No decorrer da narrativa, todavia, o que parecia ser uma comédia maluca se transforma numa inusitada mistura de suspense policial e comédia de horror com desfecho imprevisível. O filme de Silva chamou atenção por colocar cenas de sexo explícito gay sem nenhum recato, mas ele é muito mais do que uma obra irreverente, pois nos leva a refletir sobre o mundo contemporâneo de uma forma divertida e inteligente. – Alexandre Figueirôa.


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Pedágio, de Carolina Markowicz

A cidade de Cubatão, em São Paulo, já foi conhecida como o Vale da Morte, por ser a cidade mais poluída do mundo na década de 80 do século passado. O nefasto título ficou para trás, mas o lugar continua cinzento e sombrio. É neste cenário que encontramos a cobradora de pedágio Suellen que resolve usar o seu posto de trabalho para ganhar um dinheiro extra ilegalmente e conseguir pagar um seminário de cura gay para o filho. O filme é o retrato de boa parte da população do Brasil contemporâneo, enfrentando conflitos em seus núcleos sociais para garantir a sobrevivência e mergulhada em contradições e na hipocrisia religiosa de pastores evangélicos charlatões. A protagonista vivida de forma intensa pela atriz Maeve Jinkings potencializa as inúmeras reflexões que o filme suscita. – Alexandre Figueirôa.

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Retratos Fantasmas, de Kléber Mendonça Filho

Retratos Fantasmas fala dos temas que marcam a obra de Kleber Mendonça Filho: as imagens (tanto fotográficas quanto cinematográficas), o afeto pela cidade do Recife e o seu apreço pelas salas de cinema que surgem na tela com uma força esplêndida. A obra se equilibra entre o documental e o experimental e com o jeito inconfundível que tem caracterizado o seu fazer fílmico. Kleber é um cineasta que não tem pressa, que gosta de mastigar bem as coisas e de preparar o espectador para apreciar o que ele tem para mostrar. Fruto de uma pesquisa minuciosa e um sofisticado trabalho de edição, o filme tem feito uma carreira internacional brilhante e é sem dúvida o principal acontecimento cinematográfico de 2023.

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