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Os 30 Melhores Discos de 2023

SZA, Martinho da Vila, Noname, Ana Frango Elétrico, Lana Del Rey e Maciel Salu são alguns dos álbuns de destaques em nossa lista

Ilustração: Rogi Silva
Edição: Paulo Floro e Alexandre Figueirôa

Vivemos tempos pós-pandêmicos e as inquietações desse período ainda não foram totalmente compreendidas. Os discos de 2023, em certa medida, conseguem dar conta dessa miríade de sentimentos, que não conseguimos explicar totalmente. Estamos celebrando a vida e nossa existência queer com o álbum de Troye Sivan, mas também estamos sarcásticos e irônicos com a loucura do cotidiano como Sophia Chablau. Em outros momentos, o que nos importa é mesmo nosso microcosmo, nossas relações, como no altamente pessoal SOS, de SZA e no novo de Lana Del Rey. E o que falar de nossa faceta mais política, como percebido em trabalhos de Martinho da Vila, ANOHNI e Mateus Fazeno Rock? Celebre conosco essa terapia coletiva que são os melhores discos lançados este ano.

Observação: um dos discos desta lista foi lançado em dezembro de 2022, mas foi incluído aqui porque já tínhamos publicado a lista do ano passado quando o trabalho saiu. Por isso, consideramos o álbum elegível para os melhores álbuns de 2023.

Ouça a playlist especial que fizemos com os Melhores Discos de 2023.

Acompanhe nosso especial de Melhores de 2023

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yussef dayes

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Yussef Dayes
Black Classical Music

A estreia solo de Yussef Dayes é uma das mais gratas surpresas do jazz em 2023 e reforça as potencialidades desse gênero. Deyes, conhecido por ser frequente colaborador em projetos mais pop, trouxe aqui um olhar inovador para o ritmo, com uma pegada mais grooveada, mas que foge de obviedades. Seu disco agrega referências do rock psicodélico, do soul e da música clássica. Um disco que marca a assinatura muito própria desse jovem artista.


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Marcelo D2 – IBORU

Marcelo D2 expande os horizontes da música ao emprestar as batidas do rap para o universo do samba, criando o que chama de um “novo samba tradicional”. A partir dessa fusão, o cantor inaugura não apenas uma inédita e revigorante fase na carreira, mas, sobretudo, apresenta ao mundo um som experimental  – e, porque não dizer, revolucionário –, que pulsa amor e vitalidade. – Gabriela Agra.


Yves Tumor

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Yves Tumor – Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds)

Conhecido por seu trabalho experimental que mescla elementos do rock e da eletrônica, Yves Tumor lançou em 2023 o seu trabalho mais acessível, mas nem por isso menos ambicioso. Ao pegar uma estrada mais pop, o artista seguiu inovando na sua mistura inusitada de indie-rock, dance, psicodelia, glam rock, shoegaze, R&B, trip hop, industrial e punk. O resultado é uma bizarra coleção de canções que comentam assuntos díspares, que vão desde traumas espirituais, capitalismo e ansiedade em tempos modernos. Um dos artistas mais inventivos do nosso tempo. – Paulo Floro.


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Os Tincoãs – Canto Coral Afrobrasileiro

Gravado originalmente em 1983, este registro d’Os Tincoãs permaneceu inédito até hoje, quando ganhou lançamento nas plataformas digitais. O trio vocal formado por Dadinho, Mateus Aleluia e Badu construiu um legado importante para a música popular brasileira, o que é reforçado por este disco, que surge na busca do grupo em criar um gospel afrobrasileiro. Neste trabalho, o trio alia a complexidade sonora do candomblé aos elementos barrocos da cultura católica. Há ainda a participação do Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro. Um disco que certamente vai levar o legado d’Os Tincõas para novas gerações. – Paulo Floro.


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Blur – The Ballad of Darren

Quando ninguém esperava, o grupo britânico retornou este ano com a formação original completa para um disco que retoma o legado do grupo. É como se uma das maiores bandas inglesas de todos os tempos nunca tivesse parado. Tudo permanece intacto: as melodias melancólicas, mas ao mesmo tempo irônicas, as guitarras dançantes misturadas a uma percussão cheias de personalidade, os elementos eletrônicos pontuais, mas certeiros e, claro, a interpretação lânguida de Damon Albarn. Mas eles não ficaram acomodados: é um álbum altamente antenado com as questões atuais, cientes da relevância da banda hoje e que comenta o vazio existencial dos tempos atuais, marcado por uma ansiedade coletiva ainda pouco compreendida. Só mesmo o Blur, que captou essa mesma inquietação na virada do século passado, para falar com sensibilidade sobre isso. – Paulo Floro.


Jessie Ware That Feels Good

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Jessie Ware – That! Feels Good!

Jessie Ware parece caminhar confortável nesse revival da disco music, mas sua música é mais complexa do que parece. A cantora inglesa consegue buscar as referências das pistas de dança dos anos 1970 e 80 e dar um verniz contemporâneo muito autoral. Com isso, não há o cheiro de natfalina de quem apenas decalcou o som de uma época, mas sim um estilo sonoro muito particular. De quebra, ainda consegue ativar a nostalgia no ouvinte de maneira muito tranquila. O álbum é recheado de hits (“Pearls”, “Free Yourself”, “Begin Again”, entre outros) que reforçam seu enorme entendimento do seu público e do gênero em que atua. – Paulo Floro.


Paramore 1www

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Paramore – This Is Why

Mais uma vez, a banda liderada por Hayley Williams mostra que não se contenta em permanecer inerte. Após brilhar com o synth-pop colorido e dicotômico do After Laughter, o grupo está de volta com uma sonoridade mais sóbria, mergulhada em influências pós-punk e carregada de novas ansiedades e angústias. É um trabalho que reflete a inquietação urgente e o amadurecimento inevitável da banda, que felizmente não parece estar disposta a reciclar velhas fórmulas. – Gabriela Agra.


Luiza Lian – 7 Estrelas Quem Arrancou O Ceu

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Luiza Lian – 7 Estrelas | Quem Arrancou O Céu?

O 4º álbum de Luiza Lian pinta um retrato sombrio. Composto por duas metades distintas, a primeira exibe crueza e inquietações, enquanto a segunda apresenta melodias radiantes e distorcidas. A produção é como um pano de fundo abstrato, com texturas e batidas fragmentadas, transformando a voz de Lian em um instrumento ruidoso, especialmente nas faixas industriais. A narrativa do álbum sugere uma jornada poética e emocional, partindo da escuridão para a luz, culminando em uma sensação de libertação. – Antonio Lira.


Rodrigo Ogi – Aleatoriamente

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Rodrigo Ogi : Aleatoriamente

Rodrigo Ogi deu espaço para os seus sentimentos mais intensos e os seus pensamentos mais pesados em Aleatoriamente. O álbum é um caldeirão de raiva, ressentimento e indignação com o pior que existe na paisagem urbana e, de certa forma, é possível entender o disco como a narrativa de uma pessoa que passa por todas as provações cantadas nos versos. As percussões fortes e os graves dão o tom do disco como um espaço onde são externados sentimentos mais intensos do eu lírico. O disco é um testamento de coragem, indignação e força de vontade, tudo isso interpretado com maestria por Ogi, que fornece a força que seu produto demanda. – Antonio Lira.


Capa Maciel Salu Ogum

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Maciel Salu – Ogum

Curto, mas não por isso menos pujante, Ogum é uma ode à cultura popular e às tradições de terreiro. São cinco faixas que passeiam por ritmos como a cumbia e o afrobeat, entrelaçados ainda às ricas sonoridades do maracatu, do coco e do cavalo marinho. Maciel Salu assume o comando com voz e rabeca para encontrar o bombinho, o trago, a alfaia, a bateria e a guitarra, atestando sua habilidade em inovar e experimentar sem jamais esquecer onde suas raízes estão fincadas. – Gabriela Agra.


sophia

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Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – Música Do Esquecimento

O grupo formado por Sophia Chablau, pelo baixista Téo Serson, o guitarrista e tecladista Vicente Tassara e o pelo baterista Theo Ceccato se destacaram como uma das mais gratas surpresas do rock brasileiro este ano. Após um ótimo primeiro disco, a banda chega ainda mais madura e apostando alto nas letras nonsense e na interpretação cheia de personalidade de sua vocalista. É um trabalho que tenta abandonar convenções do indie-rock para buscar arranjos inusitados e uma verve irônica que perpassa todas as faixas. – Paulo Floro.


mitski TheLandIsInhospitableAndSoAreWe

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Mitski – The Land Is Inhospitable And So Are We

Uma das compositoras mais talentosas da sua geração, Mitski parece se superar em The Land Is Inhospitable And So Are We, sétimo álbum da sua carreira. Embalado por arranjos simples e suaves, o novo trabalho da nipo-americana percorre reflexões sobre amor, relacionamentos, dor e solidão. Tudo de uma forma intensamente subjetiva e introspectiva, capaz de desencadear um senso de identificação profundo em quem a escuta. Uma preciosidade. – Gabriela Agra.


kali uchis

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Kali Uchis – Red Moon In Venus

O terceiro disco de Kali Uchis sedimentou a artista colombiana-estadunidense como um dos nomes mais talentosos de sua geração. Depois de um disco quase todo cantado em espanhol, Kali virou a chave para o inglês em um trabalho pop que reforça seu olhar único para a música pop unindo ritmos latinos, R&B e eletrônica. As composições soaam atemporais e falam de temas como amor, desejo, fé e, claros, corações partidos. – Paulo Floro.


xandecantacaetano

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Xande de Pilares
Xande Canta Caetano

O cantor Xande de Pilares pausou momentaneamente seus trabalhos autorais para soltar suas interpretações do cancioneiro de Caetano Veloso. Mas o resultado acabou sendo um disco altamente autoral com um olhar único para a obra de Caetano, indo fundo nas referências sambistas e dando roupagens novas que trazem uma emoção quase inédita ao ouvi-las. Um trabalho refinado, de arranjos altamente sofisticados e que revela Xande como um excelente intérprete (que era um cantor de voz potente e emotiva, isso já sabíamos). – Paulo Floro.


troye 1

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Troye Sivan – Something To Give Each Other

Quando a minha Retrospectiva 2023 do Spotify disse que tinha alguém mandando um recado para mim, tomei um susto. A surpresa foi ainda maior quando Troye Sivan apareceu na tela do meu celular agradecendo por eu tê-lo entre os meus preferidos do ano. Pois bem, foi isso mesmo. Um dos álbuns que mais escutei foi Something To Give Each Other. Também, pudera, Sivan me pegou com seu pop alegre, dançante e melodicamente irrepreensível dentro do que ele se propõe. Um disco que fala de liberação do corpo para festejar a vida e que nos joga na noite, nas pistas, nos encontros, e nos pequenos desejos transgressores a serem compartilhados. E isso com canções cujas letras falam de melancolia, das experiências íntimas do próprio Sivan e também de suas fragilidades, mas com uma sonoridade equilibrada e uma diversidade musical que mostram a habilidade do artista em conjugar estilos de maneira harmoniosa. Impossível destacar uma faixa. Amo todas de “Rush” a “How To Stay With You”. – Alexandre Figueirôa.


Caroline Polachek

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Caroline Polachek – Desire, I Want To Turn Into You

Depois de uma estreia solo marcante, Caroline Polachek mantém o nível de excelência de sua arte com Desire, I Want To Turn Into You. Enérgico e profundo, o seu 2º disco é uma odisseia emocional, na qual Polachek viaja às extremidades do amor, seja ele romântico ou nas amizades. Como compositora, ela se despe de qualquer proteção e dispõe os sentimentos numa linguagem quase mitológica, amores que se projetam pela eternidade e rompem a barreira de seu próprio corpo a ponto de querer se fundir com o outro. Na produção, o Desire é tão autoral quanto todos os projetos da artista norte-americana, com suas percussões criativas, incorporação de instrumentos nada convencionais – como a gaita de fole em “Blood and Butter” – e, óbvio, seus vocais etéreos. Todos estes elementos elevam as canções às proporções épicas de seus versos. – Antonio Lira.


sofia kourtesis

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Sofia Kourtesis – Madres

Sofia Kourtesis vem sendo um dos destaques da cena eletrônica há alguns anos. Peruana radicada em Berlim, ela vem usando referências estéticas e sonoras da América Latina em seus trabalhos, mas em Madres ela decidiu explorar ainda mais as suas raízes. Produzido durante um tratamento experimental de saúde de sua mãe, o disco serviu como uma cura para um período difícil. O resultado acabou sendo um libelo dedicado a todas as mães do mundo, tanto do ponto de vista mais pessoal, mas também político, do que representam essas mulheres para a sociedade. A produção eletrônica é refinadíssima e segue indo para caminhos inusitados, que trazem frescor para o dance-pop de Kourtesis. – Paulo Floro.


Kelela Raven

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Kelela – Raven

Raven é um viagem por uma noite sensível, intensa e melancólica, onde Kelela revisita relacionamentos e conflitos amorosos internos.  O disco é coeso na sonoridade e no lirismo, que consegue prolongar questões emocionais sem soar monótono, sobretudo pela honestidade nas composições. Na produção, as melodias repetidas ao longo do disco e as transições sutis dão corpo ao projeto e demonstram a maturidade de Kelela em desenvolver um álbum sofisticado em todos seus aspectos. – Antonio Lira.


Sufjan sStevens Javelin

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Sufjan Stevens – Javelin

Javelin é uma carta de amor. O folk pop brilha com leveza e melodias ricamente construídas, que abrem espaço para que Sufjan Stevens despeje seus sentimentos nas letras íntimas que revelam sentimentos deixados adormecidos, uma narrativa que complementa o tom de retrospectiva que o álbum tem em relação ao próprio Stevens e sua arte . Os pequenos elementos formam canções cheias de detalhes, tendo como resultado final um álbum que se estrutura como um mosaico. Javelin é uma entrega renovadora e emocionante, que toca na intimidade de um jeito que só Stevens tem talento para fazer. 


Boygenius – The Record

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boygenius – The Record

São poucos os supergrupos capazes de superar a soma de suas partes. E este é, felizmente, o raro caso do trio de indie-rock formado por Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. Após cinco anos do seu autointitulado EP de estreia, elas retornam com The Record, um primeiro álbum espetacular. Navegando por uma melancolia angustiante e simultaneamente despertando para um senso admirável de amor e amizade, o trabalho soa muitas vezes como uma conversa íntima e espirituosa entre amigas e reafirma a capacidade das três em se superar coletivamente. – Gabriela Agra.


OLIVIA RODRIGO GUTS

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Olivia Rodrigo – GUTS

Olivia Rodrigo experimentou uma fama meteórica com o estreante SOUR e suas composições com alta carga confessional. Para nossa sorte, no sucessor GUTS, a jovem cantora demonstrou estar ainda mais segura para ampliar essa abordagem. Muito além dos poderosos desabafos sobre desilusões amorosas, Olivia aumenta a voltagem e habilmente articula as dores e os desconfortos de quem ainda está amadurecendo e descobrindo seu lugar no mundo. O resultado é um trabalho exponencialmente mais vulnerável, embalado por um enérgico pop rock que ressoa honesto e envolvente, como há muito não se ouvia no cenário mainstream. – Gabriela Agra.


Lana Del Rey Did You Know That Theres A Tunnel Under Ocean Blvd

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Lana Del Rey – Did You Know That There’s A Tunnel Under Ocean Blvd

O nono álbum de estúdio de Lana Del Rey representa uma das incursões mais ousadas da cantora pela música e comprova uma indiscutível maturidade pessoal e artística. Composto por 16 longas faixas, o disco mantém as típicas confissões que sempre caracterizam seu trabalho – só que, desta vez, mergulhadas em uma lírica muito mais íntima. É que, além das complexas relações familiares, o medo do esquecimento parece se sobressair para a artista, hoje com 37 anos. “Há um túnel sob o Ocean Boulevard / Não se esqueça de mim”, ela entoa repetidamente na faixa-título. Soando muitas vezes como monólogos internos, as letras vão ao âmago para trazer à tona pensamentos e desejos sobre maternidade, memória, vida e morte. Tudo isso embalado por uma atmosfera soturna e minimalista, fruto da contínua colaboração da cantora com o produtor Jack Antonoff. – Gabriela Agra.


billy wood kenny segal maps art

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billy woods & Kenny Segal – Maps

Poucos discos conseguiram captar todo o sentimento de caos e inadequação que sentimos ao sair da pandemia do coronavírus. Maps tenta captar essas inquietações sem se declarar exatamente como um disco pós-pandêmico. O trabalho do rapper billy woods em parceria com o produtor Kenny Segal é um dos melhores discos de rap de 2023 e vai fundo nas pesquisas temáticas e sonoras para construir um álbum inovador e bastante experimental. Há uma clara aproximação com o jazz, mas Maps experimenta também no flow, nas letras e nos arranjos, sempre inusitados. – Paulo Floro.


Wednesday

07
Wednesday – Rat Saw God

Já falamos e repetimos inúmeras vezes por aqui – sobretudo nas listas de melhores do ano: a relevância do rock hoje é carregado por artistas mulheres, como é o caso do Wednesday liderado por Karly Hartzman. Rat Saw God é um trabalho emotivo que revolve as entranhas das estruturas da cultura estadunidense mais tradicional, do centro nervoso reacionário. É um trabalho cheio de fúria, mas com uma dose de niilismo, de quem enxerga com nitidez a decadência desses valores mais tradicionais. O rock pesado, cantado com uma interpretação única no gênero hoje, vale a pena ser ouvido como uma obra única, do início ao fim (e não em faixas esparçadas). – Paulo Floro.


ana frango eletrico

06
Ana Frango Elétrico – Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua

Ana Frango Elétrico abraça referências da MPB oitentista e as mistura com o pop alternativo e o disco; o resultado é um álbum dançante e excêntrico. O 3º disco da artista carioca é uma série de depoimentos sobre relacionamentos amorosos, nas suas diferentes manifestações, os platônicos, uns que são correspondidos, outros que duram apenas uma noite. Nesse mosaico de possibilidades, as composições são sempre honestas, mas não de uma maneira melancólica; há uma inversão no sentido e os sofrimentos do eu lírico são narradas com um entusiasmo, que é elevado pela produção agitada e pop. O resultado é um produto maduro, leve e enérgico. – Antonio Lira.


noname sundial

05
Noname – Sundial

Noname é uma rapper de Chicago (EUA) que caminha na estrada mais alternativa do gênero. Sundial, seu primeiro disco em cinco anos, reafirma esse interesse de buscar novas saídas sem se afastar no que o hip hop tem de melhor. Trata-se de um trabalho que traduz os incômodos e inquietações da artista dentro da própria indústria da qual faz parte (já disse que não faz música para pessoas brancas e que não gostaria de tê-las como ouvintes), como na faixa “Namesake”, em que que critica nomes como Kendrick Lamar, Beyoncé e Jay-Z. Sonoricamente, Noname segue trazendo elementos do neosoul, eletrônica e jazz ao mesmo tempo em que destaca seu flow único, numa interpretação muito próxima da poesia falada. – Paulo Floro.


Anohni

04
ANOHNI and the Johnsons – My Back Was A Bridge For You To Cross 

A artista e ativista ANOHNI celebra neste novo disco as conquistas das últimas décadas, mas também grita que ainda há muito a percorrer. É um trabalho político que também resgata a memória de nomes pioneiros e corajosos que abriram caminhos, como fica claro pela homenagem na capa para a ativista LGBTQIA+ e símbolo da Revolta de Stonewall, Martha P. Johnson. “O jeito que você fala comigo / precisa mudar! / as coisas que você faz comigo / precisa mudar!”, diz uma das melhores faixas do disco, “It Must Change”. Dona de uma das mais potentes e emocionantes vozes do pop hoje, ANOHNI se reencontra neste álbum com seu antigo grupo, The Johnsons. – Paulo Floro.


martinho

03
Martinho da Vila – Negra Ópera

Aos 85 anos, Martinho da Vila é um dos maiores nomes da cultura brasileira e mostra neste novo disco que tem ainda muito a acrescentar ao cenário musical atual. Negra Ópera é um trabalho refinado de pesquisa e interpretação que conecta a estética e sonoridade dos cultos afrobrasileiro com o legado complexo e cheio de possibilidades do samba. Um espetáculo afrobrasileiro como poucas vezes vimos em tempos recentes, que discute questões importantes como o racismo e representatividade em cantos cheios de emoção e vigor. Magistral. – Paulo Floro.


Melhores discos de 2023 - SZA

02
SZA – SOS

O R&B proposto por SZA ganha novas camadas de inventividade no experimental e enérgico SOS, segundo disco da sua carreira. Com 23 músicas e mais de uma hora de duração, o novo trabalho da cantora se torna capaz de transitar de maneira fluida por diferentes gêneros – do hip hop contemporâneo ao pop rock do início dos anos 2000 – para encarar questões como solidão, amor e rejeição, navegando entre versos descontraídos e os mais autodestrutivos. “Prefiro estar na prisão do que sozinha”, brinca a vingativa “Kill Bill”. Na verdade, o isolamento parece ser a força motriz do projeto, o que se revela pela própria escolha da capa. Nela, a artista aparece sentada em um trampolim branco cercada pela imensidão do oceano, inspiração que veio de uma melancólica fotografia da Princesa Diana, em 1997. Assim, SZA introduz também um novo sentido à sua identidade artística e faz valer os longos cinco anos de espera. – Gabriela Agra.


Melhores discos de 2023 - Mateus Fazeno Rock

01
Mateus Fazeno Rock – Jesus Ñ Voltará

Palco das mais criativas e relevantes inovações da música brasileira contemporânea, as periferias têm revelado uma profusão de novos talentos, e o multiartista Mateus Fazeno Rock surge como uma dessas promissoras vozes. Cria das favelas de Fortaleza, ele surpreendeu este ano com o afiado e inquietante Jesus Ñ Voltará, lançamento que marca seu segundo trabalho de estúdio. Composto por 13 faixas, todas com produção musical do cearense em parceria com Agê, Caiô e Glhrmee, o disco bebe de diferentes referências e gêneros – do funk nacional ao grunge – para expandir e consolidar a proposta iniciada pelo cantor em seu álbum de estreia Rolê nas Ruínas, lançado dois anos atrás. Através de rimas aguçadas e versos dilacerantes, Mateus apresenta um som experimental e contestador. É o chamado “rock de favela”, cujo coro contra hegemônico vem ainda mais fortalecido com as participações de Jup do Bairro, Brisa Flow, Big Léo, Má Dame e Mumutante. Aqui, no Recife, aliás, o cearense fez barulho e foi uma das grandes revelações na programação do No Ar Coquetel Molotov.