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Detalhe da HQ "Destino Adiado", de Gibrat, lançada pela Pipoca e Nanquim. (Divulgação).

Resenhas de HQs: Jovens Titãs -Ravena, Becky Cloonan, Jason, Destino Adiado, Olympia, e Laerte Total

Breves comentários de quadrinhos lançados este ano no Brasil

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JOVENS TITÃS: RAVENA
Kami Garcia e Gabriel Picolo
[Panini Comics, 192 páginas, R$ 32,90 / 2020]
Tradução de Érico Assis

O livro inaugura no Brasil o selo de publicações da DC Comics focada no público adolescente, a DC Graphic Novels For Teens. A estratégia foi convidar escritores best-seller da literatura juvenil para pensar narrativas mais livres com os personagens da editora, sem a necessidade de conhecer detalhes de cronologia ou sagas. Com focos em novos leitores, essa coleção tem trazido histórias bem interessantes que deverão agradar também aos fãs veteranos.

Nesta HQ acompanhamos a jornada de Ravena para descobrir mais do seu passado. Escrita por Kami Garcia, conhecida pela série Beautiful Creatures (lançada por aqui pela Record), este gibi une a narrativa clássica do high-school americano (a escola, o baile de formatura, a primeira paixão) com elementos de terror e aventura. Vale pela despretensão da leitura e pelo lindo traço do brasileiro Gabriel Picolo. Mas vale lembrar que é uma obra bem conservadora nas ideias e na narrativa. | Compre | Nota: 7.0


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POR DEUS OU PELO ACASO
Becky Cloonan
[Pipoca e Nanquim, 132 páginas, R$ 62,90 / 2020]
Tradução de Alexandre Callari

A antologia Por Deus ou Pelo Acaso reúne três HQs lançadas de forma independente pela norte-americana Becky Cloonan entre 2011 e 2013, “Lobos”, “O Pântano” e “Deméter”. Em comum as histórias trazem a atmosfera medieval e de fantasia para criar narrativas de horror e drama estrelados por lobisomens, reis e feiticeiras. Cloonan tem um traço lindo, limpo, porém altamente expressivo e suas composições de página buscam soluções interessantes para trazer imersão ao quadrinho.

Mas o que torna esse gibi tão interessante é o olhar particular que lança sobre o gênero “espada e feitiçaria”: suas histórias são carregadas de melancolia e discutem o estado psicológico de seus personagens com profundidade. Apesar de breve, é um gibi que repercute bastante após a leitura. As cores de Lee Loughridge são deslumbrantes e valorizam ainda mais a arte de Cloonan. A edição da Pipoca e Nanquim é baseada na versão lançada pela Image Comics e possui ainda esboços e galeria de arte. | Compre. | Nota: 8.5


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DESTINO ADIADO
Jean-Pierre Gibrat
[Pipoca e Nanquim, 132 páginas, R$ 69,90 / 2020]
Tradução de Denise Schittine

Jean-Pierre Gibrat é um dos nomes mais importantes do quadrinho francês e estava inédito por aqui até agora. Sua primeira HQ totalmente escrita e desenhada por ele a chegar ao Brasil é Destino Adiado. A obra fala de Julien Sarlat, um homem que pula de um trem que o levava para os campos de batalha na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

Ele se instala em um vilarejo francês, mas precisa se manter escondido para não ser descoberto e julgado por deserção. Nesse meio tempo ele acaba se envolvendo com Cecile, seu amor de infância e também com a Resistência nazista francesa. O trabalho de Gibrat neste livro impressiona pela construção da atmosfera do período, pela complexidade que ele dá aos personagens e pelo talento em construir a narrativa com diversos movimentos até o seu clímax.

Acaba sendo, em um pano de fundo, uma narrativa sobre os absurdos da guerra e sobre a beleza do cotidiano. Sobre o desenho do autor nem há muito o que acrescentar: perfeccionista, seu traço traz personalidade a cada pincelada e suas aquarelas conseguem trazer dramaticidade à narrativa, seja um pequeno requadro até os belíssimos painéis. É um daqueles gibis em que voltamos à leitura apenas para dedicar um tempo exclusivo à arte. | Compre | Nota: 9.0


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A GANGUE DA MARGEM ESQUERDA
Jason
[Mino, 48 páginas, R$ 44 / 2020]
Tradução de Dandara Palankof

Mais uma obra do finlandês Jason chega ao Brasil. Conhecido por experimentar na narrativa e por explorar as possibilidades da linguagem dos quadrinhos, o autor agora reimagina grandes nomes da literatura como autores de HQs. Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Ezra Pound e James Joyce vivem na Paris dos anos 1920 e precisam batalhar para conseguir trabalho ao mesmo tempo em que discutem sobre a vida e o tempo nos cafés da cidade.

Tudo muda quando eles planejam um crime que pode mudar a vida de todos para sempre. A obra é recheada de sarcasmo e diversas tiradas que serão ainda mais saborosas para os leitores dos escritores “homenageados” pela HQ. Jason utiliza a mesma composição de nove quadros em todas as páginas criando uma cadência nervosa e uma fluidez que só o quadrinho consegue dar. Bom ver esse autor cada vez mais publicado por aqui: vá atrás de Eu Matei Adolf Hitler e Shhhhh!, que saíram pela Mino. | Compre | Nota: 8.5


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A GRANDE ODALISCA
Bastien Vivès, Florent Ruppert e Jerôme Mulot
[Pipoca e Nanquim, 128 páginas, R$ 69,90 / 2020]
Tradução de Érico Assis

OLYMPIA
Bastien Vivès, Florent Ruppert e Jerôme Mulot
[Pipoca e Nanquim, 140 páginas, R$ 69,90 / 2020]
Tradução de Érico Assis

Alex e Carole são duas assaltantes de obras de arte experientes, capazes de furtar qualquer coisa não importa quão seguro seja o museu ou galeria. Amigas inseparáveis, elas agora terão que contar com uma terceira colega para empreender o roubo que parece impossível: levar “A Grande Odalisca”, obra-prima de Jean-Aguste Dominique Ingres, que está no Louvre, em Paris. Este é o mote do primeiro livro dos autores franceses Bastien Vivès, Florent Ruppert e Jerôme Mulot. No segundo, após o desfecho inesperado do primeiro tomo (contar mais estragaria a surpresa), as ladras precisarão furtar a famosa pintura “Olympia”, de Manet.

As aventuras dessas personagens fizeram muito sucesso e chama atenção pelo charme das personagens e pelo roteiro que não se leva muito a sério. O trio de quadrinistas assume a canastrice para desconstruir as típicas narrativas de assalto. Eles levam a trama ao cúmulo do absurdo e faz tudo funcionar por conta do ótimo texto e das personagens carismáticas. Diversão pura esses gibis. A Pìpoca e Nanquim lançou os tomos em formato de luxo e capa dura, no formato dos álbuns franceses. Há ainda um volume inédito que deve ganhar edição por aqui. | Compre | Nota: 8.5


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LAERTE TOTAL VOL 1
Laerte Coutinho
[Z Edições, 92 páginas, R$ 63,72 / 2020]

LAERTE TOTAL VOL 2
Laerte Coutinho
[Z Edições, 76 páginas, R$ 61,73 / 2020]

Um projeto que se pretende publicar, de maneira cronológica, toda a obra de Laerte Coutinho merece ser celebrado. A empreitada da Z Edições é, de fato, louvável. Os primeiros oito volumes trazem todas as tiras da série O Condomínio, muitas delas nunca reunidas em coletâneas. Analisamos os dois primeiros volumes e o próximo já está à venda.

O conteúdo é incrível e traz personagens que habitam um prédio de classe média em São Paulo. Entre eles estão nomes como Fagundes, o mafioso Don Luigi, o Zelador, entre outros. É interessante para acompanhar a evolução de Laerte, aqui ainda trabalhando com personagens fixos e apostando em elementos clássicos das tiras populares de jornais, como a repetição e a gag. Seu traço mudaria bastante nos anos seguintes, mas a base do que autoria construiria nas décadas seguintes já aparecia aqui.

Porém, essas duas edições frustram um pouco as expectativas para quem esperava uma edição melhor acabada dada a importância da autora para os quadrinhos brasileiros. Para o colecionador, faltam aqueles detalhes que justificam um investimento tão alto (cada volume oscila entre R$ 60 e R$ 70): o papel não tem uma gramatura tão alta, a qualidade da impressão (sobretudo da capa) não valoriza a arte de Laerte e falta até mesmo a inscrição na lombada indicando ao menos a numeração do volume. Para uma coleção que deverá ter mais de 50 volumes isso deve sim ser levado em conta. | Compre | Nota: 7.0

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