Entrevista Karina Buhr: “Carnaval do Recife foi minha escola”

karina buhr
Karina Buhr também está na programação (Divulgação)

A PUNK DO CARNAVAL
Destaque do Rec Beat este ano, Karina Buhr fala da influência da folia pernambucana em sua obra e dá dicas do que fazer em Olinda e Recife

Karina Buhr é um dos destaques do Rec Beat este ano. A cantora baiana de nascimento e radicada em Pernambuco vem de uma fase elogiada com dois discos lançados em espaço curto de tempo, Eu Menti Pra Você e Longe de Onde. Conhecida pelos seus shows performáticos, Karina também é moça de opinião forte. Ano passado, colocou na web uma ação ao lado de amigos artistas em que critica o machismo (e com os seios à mostra para muxoxo dos mais puritanos).

Para este show no Rec Beat, ela prepara um show com improviso no palco – como pede o protocolo carnavalesco. E o Carnaval do Recife é importante para a obra da cantora. “Digo sempre que é a coisa mais importante da minha vida nesse sentido. Minha maior escola, minha maior inspiração. Comecei a tocar no carnaval”, diz. Em entrevista à Revista O Grito!, Karina fala sobre seus planos para o futuro, dá dicas do que fazer nos dias de folia no Recife e Olinda e o que acha de ser “a mais punk” das cantoras brasileiras. [Por Paulo Floro]

Fotos:  Diego Ciarlariello/Divulgação
Fotos: Diego Ciarlariello/Divulgação

Você fecha uma das noites do Rec Beat. Pode adiantar alguma coisa do show que prepara para este Carnaval?
O show, no sentido do repertório vai ser o que venho fazendo, que é uma mistura de Longe de Onde e Eu Menti Pra Você. Como faz um ano que não toco em Recife e quando fiz era só com músicas do Longe de Onde, posso dizer que é o primeiro desse que vou fazer aí. Mas, o repertório escolhido, no caso desse show, não define por si só o que ele vai ser. Tem muito espaço pra improviso nas músicas e no palco e como isso também tem a ver com o público e no carnaval estão todos improvisando no meio da rua, só vou saber como vai ser mesmo na hora.

Seu trabalho tem muito de performance. Vimos seu show no Abril Pro Rock (2011) e depois no Teatro da UFPE (ano passado). Você pensa todo esse conceito ao mesmo tempo em que desenvolve o disco? Está tudo interligado?
Está tudo interligado, mas não penso nisso quando desenvolvo o disco e na verdade não penso nisso em nenhum momento além de na hora em que acontece, no palco. Não foi um conceito, foi acontecendo naturalmente e segue assim.

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A programação completa do Rec Beat este ano

Já tentaram te colocar um rótulo de “a mais punk” das cantoras femininas do pop brasileiro atual. Esse rótulo chegou a te incomodar?
Não me incomoda de jeito nenhum. Acho um saco rótulos, mas não tem como fugir e se for pra escolher um prefiro que seja o de punk e não o equivocado “regional”.

Você é baiana radicada no Recife, mas hoje mora em São Paulo. Foi difícil a mudança?
Foi bem fácil e um monte de coisa massa aconteceu. Eu fui por conta do convite de Zé Celso, pra passar a integrar de vez o Teatro Oficina. Isso foi muito especial pra mim. E nessa época no Recife, eu tava sem conseguir trabalhar, um ócio forçado e, na verdade, sempre mudei muito de lugar, mesmo dentro da mesma cidade, isso é uma coisa normal na minha vida. Nesses nove anos em São Paulo morei em nove lugares. Quando morava em Salvador vivia indo pra Recife, porque minha mãe e a família dela são daí e quando fui morar aí, bem pequena, vivia indo em Salvador ver meu pai, que é de lá e sempre morou lá.

Qual o significado que o carnaval pernambucano tem na sua carreira, na sua obra?
É muito forte, muito presente, digo sempre que é a coisa mais importante da minha vida nesse sentido. Minha maior escola, minha maior inspiração. Comecei a tocar no carnaval, no maracatu Piaba de Ouro e depois no Estrela Brilhante do Recife, ao mesmo tempo no Boi da Gurita Seca e no grupo de percussão Angáatãnamú, depois no afoxé Ylê de Egbá… e sempre fazendo um monte de show com muitos trabalhos diferentes, em um monte de palcos espalhados por Recife, Olinda e muitas cidades do interior do estado, durante muitos anos, desde que comecei, lá por 1992.

Sua agenda está cheia este ano no Carnaval (como em 2012)?. O que gosta de aproveitar na folia pernambucana e que dicas daria para amigos que vêm passar Carnaval aqui?
Esse ano só vou tocar no Rec Beat. Em 2012 fiz 5 shows, entre Recife, Olinda e Vitória de Santo Antão e também um em Fortaleza. Acho maravilhoso também, principalmente porque é logo no primeiro dia e posso me acabar nos outros, gritar, pular muito no sol e ficar rouca, sem problemas (risos). A dica que dou é pegar uma programação de Recife e outra de Olinda, escolher pra onde quer ir e tentar cumprir, na medida do possível.

É massa também ficar de bobeira pelas ladeiras, esperando um bloco passar, mas pode não dar certo e você só levar sol na cabeça e perder um monte de coisa incrível. Acho que tem que tentar ver o máximo de tipos diferentes de coisas e ir escolhendo o que gosta mais. Ir no Homem da Meia Noite, pegar uma saída do Ceroula, sobreviver pro Bacalhau do Batata, acompanhar a saída dos afoxés no Largo de Guadalupe, em Olinda, ir na Noite dos Tambores silenciosos, no Pátio do Terço, em Recife, escolher umas bandas massa pra assistir no Rec Beat, Marco Zero e também nos palcos descentralizados, que são sempre bem bons também. Dá pra ser feliz de um monte de jeito.

Ano passado, você participou de um manifesto online contra o machismo ao lado de amigos artistas. Na sua opinião, a desigualdade de gênero existe também no meio cultural?
Mas, claro! Ela existe em todo lugar e é muito forte, a arte jamais escapou disso. Não é nem uma questão de opinião, é fato mesmo. Quem diz que não, é porque está tão enfurnado dentro dessa doença que nem percebe, já se acostumou e acha normal. Aquele lance que fiz no 8 de março do ano passado, que chamei de “Sexo Ágil” não foi um manifesto, foi um tipo de revista virtual, uma junção de umas coisas que escrevi com aquelas idéias e de fotos que pensei pra ilustrar algumas coisas. O manifesto é todo dia, na intenção de cuspir fora o machismo que existe dentro de todo nós e que é muito forte. Recife, inclusive, talvez seja o lugar mais machista que já conheci. Um lugar onde a grande maioria das mulheres são muito, mas muito machistas.

Sua música é sua opinião? O que te inspira a compor, quais temas hoje mais te incentivam a criar?
Sim, mas não literalmente. Posso escrever do ponto de vista de um personagem que não sou eu, mas aquela letra vai expressar minhas opiniões, nem que seja com ironia, nem que seja até falando o contrário, pra chegar num ponto pelo caminho mais longo. Não tenho isso de temas. Não sei explicar isso de inspiração. Às vezes rola com umas coisas, depois com outras. Às vezes queria falar muito bem sobre uma coisa e acabo falando muito melhor de outra e deixo de falar dessa tal coisa que queria tanto. Não tem regra.

Depois da boa repercussão com Longe de Onde, você já trabalha em um disco novo? O que planeja para este ano?
Lancei dois discos muito próximos um do outro, talvez por isso não tenha pressa nenhuma em fazer outro. Tô completamente envolvida nos shows que estou fazendo agora, nem faz sentido pra mim pensar nesse momento em outro disco. Ando pensando mais em uns remixes de coisas dos dois discos, nuns clipes também dos dois, num tempo que me seja legal e não um tempo próprio do mercado de divulgação.

Esse ano quero fazer muitos shows, se rolar quero gravar um DVD desse show, quero escrever mais. Desde novembro tenho uma coluna mensal na Revista da Cultura (distribuída de graça nas Livrarias Cultura) com texto e ilustração meus. Quero fazer muitas coisas com meus desenhos também, tem algumas coisas legais rolando nesse sentido e em breve vou poder falar. Só gosto de falar quando se concretiza 100%.

O cartaz dos shows de Karina no Carnaval deste ano (Divulgação)
O cartaz dos shows de Karina no Carnaval deste ano (Divulgação)