Foi de um amor intenso, que nasceu o segundo single de Vitoria Faria, “Dois Centímetros”, que tem participação especial da cantora Assucena Assucena. Calcada no rock e no blues, em diálogo com o acordeon e a brasilidade, a música com vocais rasgados, narra a história vivida pela própria acordeonista, que se apaixona por uma pessoa em transição.
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“Na época, a pessoa para quem escrevi a canção, uma grande paixão da minha vida, estava passando por um processo de transição de gênero. Essa música é a fotografia do nosso último encontro. Acho louco pensar que o meu chão estava desabando, eu não sabia onde colocar todo aquele amor mas não sabia também, que exatamente naquele momento, ela estava num processo interno e pessoal de transição. Escrevi a letra pra falar do meu amor, mas de fato simbolicamente existiam outros mundos parando naquele instante, dentro dela e dentro de mim. Acho bonito que essa música seja viva, como uma foto que retrata um sentimento tão único e real. E não importa o que se passou depois, todos os desdobramentos que a vida teve, essa carta de amor se estende, continua válida e eterna a essa pessoa que me marcou”, explica a artista.
A parceria com Assucena é recente, Vitoria já tocou com a antiga banda de Assucena, as Baías, segue acompanhando a artista em sua carreira solo e foi a admiração pelo trabalho da baiana de Vitória da Conquista que o convite para o feat foi feito.

“Acho que o motivo de eu convidar Assucena para esse single é múltiplo. Primeiramente Assucena é uma das vozes que eu mais admiro dentro da canção popular brasileira hoje. Assucena para mim é uma artista completa que domina a técnica vocal esplendorosamente, que entrega no palco performance e presença e que desenvolve a sua carreira com muita consciência, discutindo a arte profundamente, discutindo corpes e sociedade, discutindo gênero. Para mim é muito importante que esse álbum traga diversas vozes, diversos recortes do que é ser mulher para além da minha vivência como mulher branca. Trazer Assu é trazer outros pontos de vista que somam e tornam esse discurso muito mais real”, relata Vitoria.
Influenciada pelo rock ‘n’roll e pelo blues, a canção tem vocais que vão fazer lembrar o trabalho solo de Assucena e artistas como Cássia Eller e Gal Costa, que souberam muito bem usar a voz também como instrumentos nas músicas que interpretavam. E traz uma certa novidade na vida de Vitoria que cresceu escutando música brasileira.

“Essa canção tem uma influência clara do rock and roll e do blues. Eu acho engraçado porque eu fui criada dentro de um ponto de cultura, onde a cultura nordestina e a cultura popular brasileira folclórica eram as únicas referências presentes. Acho interessante que a sonoridade rock and roll e a sonoridade pop acabaram surgindo naturalmente dentro das composições deste álbum, mesmo tendo sido compostas por mim na sanfona. Eu gosto da visceralidade do rock and roll e acho que o discurso desse álbum clama pela sonoridade da guitarra elétrica, do baixo elétrico e da bateria, já que o disco fala sobre os tempos das grandes cidades e de corpes dissidentes em meio a esse sistema capitalista”, confessa a artista.
O disco é Vacas Exaustas e está previsto para sair em maio deste ano, tem produção de Guilherme Kastrup, foi gravado no estúdio Toca do Tatu (SP), mixado por Caio Alarcon e Kastrup no estúdio Ponta Lab (SP) e masterizado por Ricardo Prado no estúdio Canto da Coruja (Piracaia-SP).