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Foto: Divulgação.

Um papo com Thomás Aquino, que vive Josué em “Guerreiros do Sol”: “Um personagem com mais olho no olho, de dizer as coisas sabendo o que queria”

Ator pernambucano fala sobre os desafios de dar vida a um personagem inspirado em Lampião

Premiado nos palcos e nas telas, o ator pernambucano Thomás Aquino interpreta Josué, personagem central da novela Guerreiros do Sol, superprodução original do Globoplay que estreou no dia 11 de junho e marca também o lançamento do Canal Globoplay Novelas. Criada por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de Rogério Gomes, a obra é ambientada no sertão nordestino entre as décadas de 1920 e 1930, e se inspira livremente na trajetória de figuras históricas como Lampião e Maria Bonita. Ao lado de Isadora Cruz, que vive Rosa, Thomás dá vida a um dos casais centrais da trama, marcada por amores intensos, disputas familiares, vinganças e reviravoltas.

Em conversa com a Revista O Grito!, Thomás Aquino compartilhou os bastidores da preparação para o papel, falou sobre sua relação com a figura histórica de Lampião e comentou os desafios de interpretar um protagonista em um cenário marcado por tradição, violência e afetos. Leia a entrevista na íntegra.

Você vive Josué, protagonista de Guerreiros do Sol, série ambientada no sertão das décadas de 1920 e 1930. Como foi o processo de preparação para interpretar esse personagem dentro de um contexto tão marcante como o do cangaço?

Uma boa parte do elenco, antes de começarmos a gravar o projeto, foi levada a fazer uma imersão no sertão, em algumas das cidades que iríamos filmar, por 15 dias, para poder sentir o clima, o ambiente, o sol, tudo isso com uma parte do figurino que já estava pronta, para se ambientar com esse sertão que viria a ser também nossa casa. Fizemos trilhas com guias especializados na história de Lampião e Maria Bonita, e conhecemos lugares incríveis e histórias para nos imbuirmos de conhecimento geral do que iríamos contar. Durante as filmagens, ficamos dois meses e meio no sertão, e filmamos a maior parte da novela no Projac e ao redor do rio, em cenários cenográficos. Por isso, vale ressaltar a importância de antes ter vivido o sertão, pois as memórias vieram à tona quando filmávamos num ambiente cenográfico, trazendo sua verdade.

Tivemos também preparação corporal com Márcia Rubin, de prosódia com Íris Gomes da Costa, e uma preparação geral com Andrea Cavalcanti. Então, estivemos muito bem direcionados com tudo para que esses personagens viessem com força e verdade.

A trama é inspirada em figuras históricas como Lampião e Maria Bonita. De que forma essa referência influenciou sua construção de Josué e como você trabalhou para criar uma identidade própria para o personagem?

Por ele ter sido uma pessoa inteligente, firme e que causava esse impacto do medo, me influenciou no sentido de construir um personagem menos titubeante. Um personagem com mais olho no olho, de dizer as coisas sabendo o que queria. É claro, somado a isso, eu trouxe minha humanização, um pouco de charme, com risadas, com brincadeiras, com leveza nas cenas, para que o personagem pudesse ter várias camadas e não saísse de uma forma só: a brutalidade. Buscar sair do estereótipo gerado em torno de Lampião, desse homem bruto, mas sim desse homem com uma vida vivida, cheia de cores.

Você contracena com nomes como Irandhir Santos e Isadora Cruz. Como foi a troca com esse elenco e o trabalho com a equipe criativa da série?

Irandhir Santos eu sou muito fã faz tempo. Tinha feito uma figuração em Febre do Rato, filme de Cláudio Assis, e tinha visto ele ali pela primeira vez, e não sabia que ele era ele haha. Me lembro que, nessa cena, ele subia na mesa interpretando um poeta, e eu pensava, enquanto assistia à cena fazendo minha figuração: “Nossa, esse poeta deveria ser ator!” E logo depois descubro e pesquiso sobre o grande Irandhir! Fui muito feliz por fazer grandes cenas com ele, de trocar olhares e palavras. Um grande presente. Pude aprender bastante observando Iran no set, nos ensaios… ele realmente é um grande ator.

Assim como conhecer Isadora Cruz, que é essa belíssima atriz jovem que está crescendo em seu potencial, e a gente se deu bem desde o início. Ela trazia essa beleza dela com uma verdade poética que me cativava, para que eu pudesse ser Josué de forma verdadeira com ela. Tinha muita escuta, e também me ensinou bastante. Sempre tivemos uma boa troca!

Espero um dia voltar a trabalhar com eles novamente.

Nos últimos anos, você tem se destacado em diferentes formatos e plataformas, do teatro à TV, do cinema ao streaming. Como enxerga esse momento da sua carreira, em que protagoniza tantas produções nacionais e internacionais?

Me sinto muito contemplado com toda a dedicação que tenho tido até agora. Me sinto feliz demais. É um orgulho pra mim viver da minha arte nesse país. Não me vejo fazendo outro ofício. Já tive muitos momentos difíceis na carreira, assim creio eu, como vários outros artistas, mas nunca desisti. E, quando chegaram as oportunidades, pude abraçá-las tão forte que ainda estou as segurando rsrs. Então, enxergo esse momento como um reconhecimento das pessoas que estão vendo e admirando meu trabalho. O que sempre busquei na minha carreira: ser famoso não pela fama, mas sim por esse reconhecimento do ofício, onde eu possa talvez inspirar e ser inspirador.

Me sinto pronto pra quaisquer outros desafios, pois, quanto mais projetos faço, mais estudo essa arte. E mais vivo fico.

Thomás Aquino

Guerreiros do Sol marca um novo momento na dramaturgia brasileira ao tratar o sertão com ambiência épica. Como você vê a importância de contar esse tipo de história hoje?

Vejo que é colocar um pouco mais da cultura nordestina em pauta. O Nordeste é muito rico. Temos grandes nomes históricos de artistas como Ariano Suassuna, Alceu Valença, Chico Science, Luiz Gonzaga, Raquel de Queiroz, Nise da Silveira, Mestre Vitalino, dentre tantos outros. São inúmeros. E, quanto mais falarmos sobre essa cultura, mais homogêneo fica nosso Brasil. A gente entra num contexto de dizer que somos um só, e não apenas regiões centrais, que são mais vistas na TV, como o Sudeste.

E, quanto mais se fala e se pauta o Nordeste, mais artistas dessas regiões ganham oportunidades de trabalho e de mostrar que também são capazes. Que também são bons atores e atrizes. Que também são dignos. Que sabem fazer vários personagens e não estereotipados. Fico muito feliz que essa abertura esteja cada vez maior.

Entre os projetos recentes, você também está no elenco de O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho. O que pode nos adiantar sobre esse trabalho e quais são os próximos passos que te animam como ator?

Eu me sinto muito feliz de estar em mais um projeto de Kleber. Bacurau pra mim foi meu divisor de águas, e foi uma experiência muito incrível estar naquele filme com tanta gente incrível. E ser convidado novamente a participar de mais uma produção dele me fez sentir que estou indo num bom caminho de atuação.

O Agente Secreto é um filme muito inteligente, que retrata uma época vivida de uma forma menos vista. Parte de uma tortura mais psicológica e angustiante do que a violência física, que foi própria da ditadura. Meu personagem tem um cunho interessante e pontual na história, que cruza com o personagem de Wagner Moura, o protagonista, onde consigo desenvolver a dramaturgia do filme com uma participação fundamental. Não posso revelar mais que isso, pois é dar muito spoiler rsrs.

E futuros projetos estão chegando. Tenho recebido convites e propostas, tenho analisado. E, de concreto, por enquanto, tenho o lançamento do meu primeiro projeto internacional, chamado Man on Fire, que é uma série da Netflix, pra Netflix internacional, baseada num filme de Denzel Washington. Serão oito episódios, e a previsão de estreia é pra 2026. Eu faço o antagonista da história e me sinto muito feliz e ansioso por essa estreia.

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