Crítica: Troye Sivan, um artista queer para os dias atuais

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Divulgação.
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A literatura entronizou como cânone a narrativa do indivíduo gay que analisa seu amadurecimento e suas vivências de um ponto de vista distanciado. Essas trajetórias queers geraram obras na qual jovens LGBTs – que passavam pelos mesmos dilemas e experiências – puderam se relacionar. Mas foram escritas quando seus autores já tinham passado por tudo aquilo. André Aciman, Edmund White, Larry Kramer, entre outros, são exemplos dessa leva de autores que desafiaram visões de sua época para tratar de uma outra forma de amor e sexo. O sul-africano naturalizado australiano Troye Sivan, cujo segundo disco acaba de sair, vive uma situação diametralmente oposta: fala de temas do universo queer ao mesmo tempo em que vivencia essas experiências.

Troye Sivan Bloom 1535461313 640x640Bloom chega após os singles de sucesso “My My My” (uma ode à liberdade) e “Bloom”, que trata de, bem, perder a virgindade do sexo anal. Aos 23 anos, Troye trata do tema da homossexualidade com exuberância, abordando diversos aspectos da vida LGBT contemporânea. Em “Seventeen”, a faixa que abre o trabalho ele aborda o fato de mentir a idade para poder se relacionar com outros homens no Grindr (o maior app de pegação gay). “Ele diz que a idade é apenas um número / podemos fazer o que quiser”, conta ele na faixa. Já “Good Side” mostra vulnerabilidade do autor ao analisar o fim de relacionamento. A cadenciada e sexy “Dance To This”, com Ariana Grande, fala de intimidade a dois.

Diversos temas abordados em Bloom dizem respeito a aspectos do cotidiano da geração de Sivan. Até o modo como ele chamou atenção da indústria – passando de YouTuber para astro pop – é parte desses novos processos de construção das personas artísticas. Seu talento maior foi unir essas vivências em uma sofisticada mistura de dance pop. E fez isso de forma honesta, assertiva, dialogando diretamente com jovens ouvintes que vivem o mesmo que ele.

Sivan é parte de uma geração que chega ao estrelato com um discurso mais transparente sobre sexualidade, a exemplo do Years & Years e Janelle Monáe.

Para quem tem hoje menos de 30 isso até pode parecer algo banal, mas é poderoso quando falamos de uma indústria do entretenimento ainda bastante homofóbica. Astros como David Bowie e Morrissey, entre outros, foram pioneiros ao questionar o modo de vida de suas épocas. Mas mesmo esses não conseguiram levar o tema de maneira tão aberta quanto se vê hoje em dia.

Falar de coisas enquanto se vive, despido de qualquer perspectiva, dá a Sivan ainda mais aunteticidade e ímpeto. Seu registro chega com uma força de se arriscar ao mesmo tempo em que se apóia no melhor que o pop comercial tem de melhor, a exemplo de batidas bem produzidas, lampejos sensuais e bela instrumentação.

É um trabalho muito bonito e que entrará, definitivamente, para o cânone de obras queers, bem como marca um momento muito particular e positivo do pop.

TROYE SIVAN
Bloom
[Polydor, 2018]