Sleater-Kinney se reinventa novamente em “Little Rope”, disco que aborda superação de um luto

Banda veterana do rock norte-americano se reconecta com raízes punk em disco inspirado

sleater kinney
Sleater-Kinney se reinventa novamente em “Little Rope”, disco que aborda superação de um luto
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Sleater-Kinney
Little Rope
Loma Vista, 2024. Gênero: Rock


Carrie Brownstein e Corin Tucker, as duas integrantes remanescentes do duo de rock norte-americano Sleater-Kinney se reinventam mais uma vez em um trabalho que nasce de uma tragédia.

Enquanto estavam escrevendo o álbum, a mãe e o padrasto de Brownstein morreram em um acidente de carro durante uma viagem de férias pela Itália. O álbum, no entanto, jamais cede à tristeza e a melancolia com as guitarristas-vocalistas direcionando os sentimentos para faixas intensas em que retomam o tom pesado das guitarras e letras que falam de luto, mas também de celebração à vida, superação e cumplicidade. Há ainda espaço para a catarse que nasce da raiva e comentários sobre a difícil tarefa de seguir em frente.

Little Rope, o 11ª disco do grupo, figura como um dos melhores trabalhos da banda desde que retornaram de um hiato de mais de dez anos com o ótimo No Cities To Love (2015). Ainda distante de seus melhores momentos, trata-se de um retorno à sua estética mais central após um período atribulado que resultou da saída da baterista de longa data, Janet Weiss, em 2019.

Agora como um duo, o Sleater-Kinney reacende o estilo que acompanha a banda desde seu surgimento, em meio à ebulição da cena punk e riot grrrl de Olympia, Washington (EUA) no final dos anos 1990. O novo disco se conecta com clássicos do grupo, como Dig Me Out (1997) e The Woods (2005), sobretudo pelo duelo de guitarras de Browstein e Tucker e na dinâmica das diferentes interpretações e timbres de vozes das duas.

Sleater-Kinney.
A banda fez parte da cena riot grrrrl nos anos 1990. (Foto: Chris Hornbecker/Divulgação).

O disco inicia com um clima sombrio em “Hell”, em que Brownstein devaneia sobre o luto e parece refletir sobre aquele momento em que cai a ficha em relação a uma morte. “O inferno não tem dúvidas / inferno é apenas um lugar onde / Parece que não conseguimos viver sem eu me despedaçar”, canta. Com uma voz mais gutural, Tucker aborda a tristeza incapacitante e o medo que se seguem em tragédias em “Hunt You Down”: “eu fiquei triste por tanto tempo / que paguei aluguel ao chão”, diz sarcástica, para adiantar no refrão “a coisa que você mais teme vai te assombrar”.

Apesar das letras, Little Rope não soa como um disco triste, ao contrário: soa como até catártico em alguns momentos. Produzido por John Congleton, que trabalhou com nomes como Swans e Death Cab For Cutie, o disco reaviva o melhor do Sleater-Kinney, uma das mais longevas e quase sempre subestimada do rock norte-americano. Há faixas que tem tudo para entrar para o cancioneiro roqueiro da banda, com potencial para atingir novos públicos, como “Small Finds” e a irônica “Dress Yourself”.

Ouça Sleater-Kinney: Little Rope

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