Da resistência à cultura: o simbólico encontro entre os navios negreiros e o reconhecimento da cultura africana no Brasil inspirou Majur a criar Gira Mundo, seu mais novo álbum de trabalho, que será lançado nesta quarta-feira (14), em todas as plataformas de streaming.
O disco, com 16 faixas em iorubá, explora uma estética afropop contemporânea e se destaca pelo uso de instrumentos orquestrais, como piano, baixo acústico, clarins e atabaques. Sob direção musical baiana de Ícaro Sá e Ícaro Santiago, a cantora e compositora homenageia, em cada música, uma força da natureza — os orixás, como são conhecidos no Brasil — com cantigas e mensagens. Para Majur, o disco vem com a proposta de reconhecer as origens brasileiras.
“Voltar aos navios negreiros é resgatar a cultura africana no Brasil colonial. É entender com profundidade essa diáspora tão presente e, ao mesmo tempo, tão silenciada. O candomblé surgiu como um ato de resistência, pois o nosso país não aceitava outras culturas e crenças. Quero, portanto, retornar esse contexto histórico e o reapresentar através de uma nova narrativa com elementos futuristas e atuais da nossa história. Afinal, eu acredito que o Brasil é um país plural e miscigenado, e reconhecer a cultura afro-brasileira — sem preconceitos ou demonizações — é essencial para valorizar a nossa própria identidade”.
Gravado na Bahia, o novo álbum de Majur tem como faixa foco “Iroko”, que significa, tempo, no candomblé, a passagem das gerações e a força da natureza. “Estou usando o tempo para demarcar a cultura no Brasil sob outro olhar, sob outra narrativa. Por isso, eu escolhi a música principal do álbum como Iroko. Já que o tempo está acima de todas as coisas e abaixo de Deus”, explica Majur. “Oxumaré e Ewá”, “Ibeji” e “Oxalá” (última música da tracklist) são outros três destaques do disco.

Gira Mundo é o desfecho de uma trilogia, que amadureceu após um período de quase cinco anos. Em seu primeiro disco de trabalho, “Ojunifé”, Majur abre a tracklist do álbum com a música “Agô” e diz, em iorubá: “Lati Kori Agbara dos Orixás”, que significa: “eu canto o poder dos Orixás” representando a sua iniciação no candomblé. “Eu estava me reconhecendo e me conectando à religião, inclusive dentro de mim. Era um processo de lagarta ainda”, diz ela, que em 2023 lançou ARRISCA, seu segundo álbum da carreira.
Já nesse terceiro ato, Majur não quer só mostrar a sua potência musical, mas sim quer desmistificar os preconceitos associados à sua crença. Tanto que no visualizer de Gira Mundo, a cantora convida o público a conhecer como é um dia no terreiro e como ela se conecta aos ancestrais, seus orixás.
“Apesar de evidenciar a intolerância religiosa e o racismo no Brasil, esse álbum não é sobre religião. É sobre recontar a nossa história nos tempos de hoje. É sobre transformação e conexão, informação para o povo, sem mais”, conclui a artista.