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HQ “Céleste e Proust” se inspira na sensorialidade de Marcel Proust para contar história do escritor e sua governanta

Pelos traços de Chloé Cruchaudet conhecemos o retrato de uma mulher simples, sensível e de grande imaginação capaz de cativar um dos ícones da literatura mundial

HQ “Céleste e Proust” se inspira na sensorialidade de Marcel Proust para contar história do escritor e sua governanta
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Céleste e Proust
Chloé Cruchaudet
Nemo, 256 páginas, 2025 / R$ 132,90
Tradução de Renata Silveira

Nos últimos anos de sua vida, o escritor francês Marcel Proust passava a maior parte do tempo em casa, deitado no seu quarto em meio a achaques e crises de asma. Em 1913, o autor de Em Busca do Tempo Perdido propôs à esposa de seu motorista que se ocupasse em buscar e levar sua correspondência. Céleste Albaret, uma moça simples do campo, não era muito prendada e não se interessava por muita coisa. Aos poucos, porém, discretamente, ela passou a dominar os hábitos de seu patrão e se tornou sua governanta. 

É essa historia que a quadrinista francesa Chloé Cruchaudet transformou na HQ Céleste e Proust, em comemoração aos cem anos da morte do escritor em 1922, e que finalmente chegou ao Brasil pela editora Nemo. A partir de uma pesquisa minuciosa em diversas fontes, Cruchaudet desenhou um retrato apaixonante da secretária de Marcel Proust e traduziu em desenhos a atmosfera de uma época, misturando, com destreza, realidade e ficção.

Por conta dos problemas de saúde, Proust escrevia à noite e dormia a maior parte do dia. Céleste se adaptou a vida reclusa do escritor e o ajudava respondendo aos telefonemas, limitando o acesso de pessoas que forçavam passagem para ter acesso a ele e fechando os olhos sobre suas relações homossexuais. 

A HQ relata essa relação particular entre a governanta e o escritor, onde, em cada cena, transparece a admiração de Céleste por seu patrão e a necessidade de Proust de ter uma pessoa sensível e fiel ao seu serviço. A partir da narrativa criada por Chloé Cruchaudet, apreendemos que apesar do ambiente sombrio e austero do apartamento em que Proust morava  e a necessidade de atender às suas exigências, ela experimentou por oito anos uma aventura excêntrica que marcou sua vida. 

Nas pesquisas que realizou para desenvolver seu trabalho, Chloé percebeu que entre Céleste e Proust surgiu uma amizade que mesmo muitos anos depois da morte do escritor, a governanta guardava, em sua conduta, traços de coisas aprendidas durante a convivência com ele. Proust lhe contava as suas noitadas mundanas na ópera e nos restaurantes, pois admirava a imaginação e curiosidade da sua governanta a qual lhe retribuía a confiança contando-lhe histórias e fazendo imitações que o divertiam.

Céleste, inclusive, foi homenageada pelo escritor como uma das raras pessoas no Em Busca do Tempo Perdido a ter seu verdadeiro nome citado na narrativa. Todo esse contexto e a personalidade da governanta levaram Chloé a desenhar Céleste inicialmente um pouco fugaz como numa aquarela para, aos poucos, fazer com que as linhas que a delineiam se tornem mais firmes e persistentes.

Em entrevista à revista Télérama, Chloé conta que na concepção geral da HQ, ela também se inspirou na sensorialidade da obra de Proust, pois, segundo ela, o escritor não descrevia os personagens no presente, mas percorrendo suas memórias e seu mundo interior. A quadrinista diz que aplicou a mesma lógica na construção do roteiro aproveitando o quanto os quadrinhos podem ser um meio ideal para colocar em destaque flashbacks e realidades múltiplas que se misturam e se superpõem.

A consagração de novela gráfica Céleste e Proust não é, portanto, gratuita. Os desenhos têm frescor, leveza, e refletem, nas cores e na disposição das figuras, o estado de espírito que ligava os dois personagens principais da história, embora, fique claro, ao lermos a HQ, que para a artista, o foco da narrativa é a governanta, pela forma dedicada com que Chloé a concebeu.

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