Faixa a Faixa: Fernanda Takai comenta Na Medida do Impossível

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Foto: Bruno Senna/Divulgação
Foto: Bruno Senna/Divulgação
Foto: Bruno Senna/Divulgação

Dos outros, do meu jeito

Por Renata Arruda

Desde 1992 no Pato Fu –  que acaba de lançar Não Pare Pra Pensar (Rotomusic/Sony), seu primeiro álbum de inéditas em sete anos -, Fernanda Takai arriscou seu primeiro trabalho solo em 2007 com Onde Brilhem os Olhos Seus, álbum totalmente dedicado ao repertório de Nara LeãoEla gostou tanto da experiência de fazer suas próprias escolhas, que resolveu repetir e o resultado é o bom Na Medida do Impossível, lançado em julho pela Deck, onde apresenta um repertório que vai desde Reginaldo Rossi a George Michael, passando por Julieta Venegas e Marcelo Bonfá, entre outros.

“Eu queria mostrar o meu jeito de fazer disco, com as minhas músicas também, mas sem deixar de lado as músicas dos outros que fazem parte importante do todo”, contou a cantora em entrevista ao Scream Yell. “No Pato Fu é assim. Há muita versão nos discos da banda. É uma coisa normal pra mim. Quando comecei a pensar no disco, cheguei a conclusão: claro, quero colocar o meu lado compositora, mas há muita música que eu quero gravar, que nunca gravei. Algumas são muito famosas, outras já foram famosas e hoje estão completamente esquecidas e músicas com a do Cholly, que praticamente ninguém conhecia – talvez só quem more em Porto Alegre. O Na Medida do Impossível tem um ineditismo. Mesmo que seja uma canção do Benito di Paula.”

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Para o projeto, Fernanda uniu forças com convidados como Pitty, Samuel Rosa, Zélia Duncan, Marina e Padre Fábio de Melo – este último, em uma parceria que fez muitos fãs torcerem o nariz: “O arriscado de chamar um Padre, de fazer deste jeito, é que algumas pessoas nem escutam e já acham ruim. Porque é um padre”, lamentou. “Alguém no Instagram escreveu: vou te dar unfollow porque essa coisa com Padre não dá”. E aproveitou para dizer como enxerga essa interação das pessoas na internet, através das redes sociais: “A opinião das pessoas está mais visível hoje e todo mundo acha que tem o direito de falar sobre qualquer coisa. (…) A pessoa lê o título da matéria, vê a foto, mas não leu a matéria e já tem uma opinião. E essas pessoas vão se envenenando. É um rancor.”

Produzido por John Ulhoa e dedicado inteiramente à mãe de Fernanda, Na Medida do Impossível ganhou seu último clipe em setembro e a canção escolhida foi “Seu Tipo”, canção açucarada cuja letra foi escrita em parceria com a Pitty (“Eu devolvo livros, mas não pergunto signo não. Isso é coisa da Pitty”). Anunciado como o pri­meiro clipe inte­ra­tivo do Brasil, “Seu Tipo” faz parte do pro­jeto Natura Musical e funciona como uma plataforma para troca de objetos usados. O usuário pode escolher e interagir com o objeto enquanto assiste ao vídeo, mas não permite que se interfira na história ou nas imagens. A versão interativa do clipe pode ser vista somente no canal da Natura.

Para a Revista O Grito!, Fernanda Takai disponibilizou um faixa a faixa, onde comenta cada uma das músicas de Na Medida do Impossível, e você confere abaixo:

 

capa_cd_fernanda_takai

Site oficial: http://fernandatakai.com.br/

01 – “Doce companhia” – Ano passado tive a honra de cantar com uma das pessoas mais encantadoras que já conheci. E foi num jantar em minha casa que contei à Julieta Venegas que faria uma letra em português para sua canção.

02 – “Como dizia o mestre” – Eu me perguntava porque nenhuma mulher tinha gravado essa música antes. Benito é craque, um autor de mão cheia que não pode ficar fora de nossas vidas. PJ no baixo deixa forte sua marca.

03 – “De um jeito ou de outro” – Escrevi a letra pra essa música que Marcelo Bonfá fez há algum tempo. Aqui estão os maiores ecos dos anos 80 do disco – uma grande influência minha. Glauco Nastácia mostra porque é dos melhores bateristas de sua geração.

04 – “A pobreza” – Música linda da Jovem Guarda que ouvi ainda criança. A simplicidade e sinceridade da letra sempre me comove. John Ulhoa fez um arranjo bem cinematográfico que é tudo menos pobre…

05 – “Seu tipo” – Tinha muita vontade de chamar a Pitty pra compor comigo. Finalmente aconteceu! Fazia tempo que eu não escrevia algo novo e ela também. Funcionou como o nosso catalisador pra voltar à composição.

06 – “You and me and the bright blue sky” – Conheci essa canção há quase 10 anos e fiquei com vontade de gravá-la. Cholly é americano e vive no Brasil. Apaixonado por vira-latas, tinha um projeto on line onde reunia gente do mundo todo para gravar suas criações.

07 – “Mon amour meu bem ma femme” – Zélia Duncan e eu cantamos juntas em 2011, no Carnaval do Recife, no Marco Zero lotado e fervilhante. A plateia vibrou demais com a visão de duas mulheres entoando um dos hinos de Reginaldo Rossi. Não podia escapar dessa gravação.

08 – “Quase desatento” – Recebi durante anos versinhos do poeta Climério Ferreira. Queria fazer algo com eles e logo imaginei que Marina Lima fosse a pessoa certa para me ajudar. Há tempos ensaiamos fazer algo juntas. Fato curioso é que os pais dela são do Piauí, terra de Climério.

09 – “Amar como Jesus amou” – Chamei o padre Fabio de Melo porque sempre gostava de vê-lo falar em seus programas. Seu timbre de voz é muito bonito e houve uma empatia imediata pelo convite quando mencionei que era uma canção do padre Zezinho. Quando estudava em escola católica, era uma das músicas que eu tocava ao violão. O arranjo é de Toshiyuki Yasuda, japonês que é mestre em arranjos eletrônicos fofos.

10 – “Liz” – Bela faixa lançada originalmente pelo Trio Ternura que tinha um trabalho vocal impecável. Quis manter os desenhos originais de voz e um clima balada emocionante.

11 – “Partida” – Música que fiz pensando nas coisas que acontecem em nossa vida, que mesmo ruins mais tarde fazem algum sentido. Tenho mania de calendários-agenda de parede. Guardo todos os meus desde 2000!

12 – “Pra curar essa dor” – Versão que John escreveu pra música do George Michael. Há uma gravação dele com o Paul McCartney, então pensei em chamar um super astro pop guitar hero brasileiro: Samuel Rosa. Nunca tínhamos gravado juntos em 22 anos de carreira!

13 – “Depois que o sol brilhar” – Pedi à Zélia que escrevesse uma letra para a música do francês Yann Thiersen. Tem arranjos de cello do meu amigo André Abujamra e a participação da chilena Paz García. Música de filme.

https://www.youtube.com/watch?v=CdjE5lmMygY