Voragem: Exposição coletiva discute apagamento social com Paulo Bruscky, Gilvan Barreto e Bárbara Wagner

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Os Troféus de José Paulo. (Divulgação.)
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Série Sombras, de André Hauck. (Divulgação).

Amparo 60 recebe a exposição coletiva Voragem, com curadoria de Eder Chiodetto. As obras discutem o apagamento das pessoas que vivem à margem. A abertura será no dia 22 de julho e vai até 3 de setembro de 2017.

A mostra reúne tanto artistas que fazem parte do casting, como Bárbara Wagner e Benjamin de Búrca, Gilvan Barreto, José Paulo, Lourival Cuquinha, Paulo Bruscky e Isabella Stampanoni, como outros convidados especialmente para essa ocasião André Hauck, Ivan Grilo, Jonathas de Andrade.

O atual momento vivido no Brasil foi o impulso para conceber Voragem para a Amparo 60. O nome da mostra remete aos redemoinhos que se formam nas águas, arrastando tudo para baixo, de forma truculenta. “O nome Voragem vem justamente desses ciclos de movimentos à direita, à esquerda, instantes de maior liberdade civil e tolerância racial, religiosa, comportamental e outros momentos de refluxos que levam parte dessas conquistas para trás sob a sombra do obscurantismo”, explica o curador.

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Obra de Gilvan Barreto foi o ponto de partida da expo. (Divulgação).

O ponto de partida foi a obra Postcards from Brazil, de Gilvan Barreto, que ganhou recentemente o Prêmio Pierre Verger. A obra mapeia as belezas naturais que serviram de cenário para crimes da ditadura militar e toda a sua violência institucionalizada, a tortura e o desaparecimento de corpos.

“Gilvan trabalha de modo contundente a forma dissimulada com a qual os brasileiros lidam com o passado, especialmente com os assassinatos cometidos durante o período da ditadura militar. A série propõe imagens muito bem articuladas, capazes de expor as feridas do mal estar histórico que continuamente voltam a cobrar uma tomada de posição, uma coerência, uma reflexão sem concessões”, diz Chiodetto.

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Os Troféus de José Paulo. (Divulgação.)

Partindo da ideia de apagamento, ocultação e esquecimento, o curador foi em busca de artistas cujos trabalhos trouxessem esse debate social e político. Esses corpos que não importam, que são esquecidos e marginalizados, estão presentes na mostra, ainda que não apareçam diretamente. Os trabalhos reunidos apontam que, apesar deles não encontrarem legitimação social, de serem excluídos, eles não desaparecem.

“Ao ocultar os corpos o silêncio ficou ensurdecedor. O grupo de trabalhos é muito incômodo. Não se trata de uma exposição contemplativa, é um barril de pólvora com o pavio aceso e alguns coquetéis molotov à espreita. Falamos do ocaso da política, do diálogo, da mediação, da temperança”, reflete Chiodetto.

Desde março, a Galeria Amparo 60 funciona na sobreloja do Edifício Califórnia. A estreia do novo espaço aconteceu com a exposição coletiva Evoé, que reuniu obras dos mais de 30 artistas do casting e ficou em cartaz até o fim de junho.

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Postais de Barreto denuncia desaparecimento e violência da ditadura através das belezas naturais. (Divulgação).