Eurovision: A vitória da drag-queen Conchita contra a Europa intolerante

Conchita Wurst
Foto: Divulgação.

Como a vitória da drag barbuda e talentosa Conchita Wurst foi um soco contra a onda de intolerância em países como a Rússia

Esse domingo, o tradicional concurso de música europeu terminou com a vitória da drag queen Conchita Wurst, que conquistou a audiência e jurados com a balada “Rise Like a Phoenix”.

Mais do que o visual extravagante, a vitória de Conchita é histórica e sintomática sobre as forças divergentes que convivem (capengamente) na Europa nos dias atuais. Enquanto a maior parte dos países dava a vitória para ela, Ucrânia, Armênia, Rússia e Bielo-Rússia registraram petições contra sua participação, segundo a AFP. O deputado russo Vitaly Milonov, o mesmo que disse que os atletas gays deveriam ser presos em Sochi por promover a homossexualidade para menores de idade, disse que a participação de Wurst era “um insulto aos milhões de russos”, informou a Time. (A dupla que representava a Rússia, as gêmeas Anastasiya e Maria Tolmachevy caíram nas semi-finais e recebiam vaias a cada ponto ganho).

Ela se sagrou campeã com 290 pontos, 52 a mais que a segunda colocada, candidata da Holanda. Ao vencer, Conchita disse: “Esta noite é dedicada a todo mundo que acredita em um futuro de paz e liberdade”. O discurso ecoa em uma Europa em tensão após a crise na Crimeia, que revelou um lado mais bélico do presidente russo Vladimir Putin. É também na Rússia onde rolam os maiores episódios contra os direitos gays. Uma lei nacional proibiu demonstrações públicas de homossexualidade. Há diversos registros de violências e perseguições contra gays, segundo a revista The Advocate. Perguntada em uma entrevista pós-show se gostaria de dizer algo a Putin, a cantora disse: “não sei se ele está assistindo isso agora, mas quero dizer: não podem nos parar”.

Após a vitória de Conchita, o presidente austríaco Heinz Fischer declarou o seguinte: “Não se trata apenas de uma vitória para a Áustria, mas acima de tudo para a diversidade e tolerância na Europa. Falando em tolerância, a Dinamarca aproveitou o evento para fazer um ato político que atinge diretamente a Rússia homofóbica: a cidade de Copenhague casou três casais do mesmo sexo russos para comemorar 25 anos de casamentos gays no País.

Outra que deu um recado foi a Suécia. “Parabéns Conchita! Formidável votação. Cidadãos da UE, utilizem agora seu direito de voto por uma Europa aberta”, escreveu no Twitter a ministra sueca de Assuntos Europeus, Birgitta Ohlsson, fazendo referência às eleições europeias, que serão celebradas entre 22 e 25 de maio.

Conchita Wurst é o nome artístico de Thomas Neuwirth, um jovem austríaco de traços delicados e praticamente desconhecido fora da Europa antes do concurso. Tido como brega e cafona, o Eurovision, que tem 58 anos de idade, tem sua parcela fervorosa de fãs. O evento revelou o Abba, mas recentemente não tem conseguido emplacar novos ídolos. Hoje, por conta de uma alegoria política, voltou a atrair atenção.

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