Clube Elefante de Olinda
Conjunto é formado por seis imóveis, sendo quatro chalés que datam do século XIX e dois sobrados vizinhos construídos no século XX. (Foto: Cortesia/Elefante de Olinda).

Elefante de Olinda busca recursos para restaurar casarões cedidos pelo Governo de PE em avançado estado de deterioração

Ministério Público chegou a abrir procedimento solicitando restauração emergencial. Fundarpe diz que se reuniu com representantes do bloco

Atualizado no dia 27 de outubro, às 14h55

O Clube Carnavalesco Misto Elefante de Olinda, um dos mais emblemáticos e tradicionais do Carnaval pernambucano, está em busca de recursos financeiros para reformar um conjunto de casarões no Sítio Histórico da cidade. Os imóveis, popularmente conhecidos como Chalés do Carmo, foram cedidos pelo Governo do Estado no fim do ano passado para serem transformados em sede da agremiação.

Durante seus mais de 70 anos de história, o Elefante nunca teve um espaço próprio para os preparativos dos desfiles, utilizando de forma improvisada as casas dos presidentes e diretores. Por cerca de uma década, a agremiação chegou a instalar uma sede em uma casa alugada na Rua do Amparo, na Cidade Alta, enquanto vinha pleiteando imóveis sem uso para diferentes gestões.

A resposta, enfim, veio há pouco menos de um ano, quando a gestão estadual até então vigente cedeu os Chalés do Carmo, localizados na Avenida Sigismundo Gonçalves, através da Lei nº 17.987, de 13 de dezembro de 2022. De acordo com o texto, o conjunto poderá ser usado pelo Elefante durante dez anos, com possibilidade de renovação ao fim do prazo. Em contrapartida, o clube deve requalificar os imóveis e manter sua preservação histórica, sob pena de rescisão contratual.

O problema é que as edificações encontram-se em avançado estado de arruinamento e degradação, o que demanda um alto montante financeiro para o trabalho de restauração. Formado por seis imóveis, sendo quatro chalés que datam do século 19 e dois sobrados vizinhos construídos no século 20, o conjunto arquitetônico chegou a ser parcialmente recuperado em 2011, quando abrigou a mostra de arquitetura CASACOR.

“Mas, desde então, estão sem uso e houve esse processo de deterioração e de vandalização. Então, têm casas até com problemas estruturais”, relatou Bruno Firmino, diretor do Elefante de Olinda, à Revista O Grito!. “Fizemos uma limpeza no quintal. Tiramos entulhos dos subsolos das casas, colocamos refletores para iluminação, câmeras de segurança, cerca e pintamos também um trecho do quintal.”

Ele ainda detalhou que alguns pavimentos internos estão sem assoalho e parte do piso do quintal, área externa comum ao casario, está cedendo. Um dos chalés, aliás, sofreu um incêndio antes do famoso evento de arquitetura, o que o fez não ser aproveitado na ocasião. Hoje, o imóvel resume-se ao que restou das faixadas, já que o interior se encontra destruído e tomado por uma vegetação de grande porte.

Ministério Público notificou a Fundarpe

Diante do abandono, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) chegou a abrir, em 2018, um procedimento contra a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, a Fundarpe, recomendando o início imediato das obras de reparo e das intervenções emergenciais no conjunto. Em nota enviada após a publicação desta reportagem, o MPPE informou que o inquérito segue em tramitação, mas o Governo do Estado não notificou a promotoria sobre a cessão dos imóveis para o Elefante.

“No âmbito desse procedimento, a última resposta enviada ao MPPE foi por meio de ofício da Secretaria Estadual de Administração (SAD), informando que a titularidade e responsabilidade dos bens foi repassada pela SAD à CIMus [Companhia Independente de Música, da Polícia Militar] em maio de 2022, por meio da assinatura de Termo de Dependência Administrativa, com o objetivo de que os chalés recebessem a sede da unidade policial”, disse. “O MPPE aguarda informações sobre a formalização da cessão de que trata a Lei Estadual 17.987/2022.”

“Além de ser um conjunto que marca a paisagem urbana, é um conjunto que está inserido no imaginário das pessoas. Ele está ali na entrada do sítio histórico”, afirmou o diretor da agremiação. “A gente recebeu essa doação de bom grado, porque vai trazer uma visibilidade muito grande para um dos acontecimentos que marcam a identidade de Pernambuco e de Olinda, especificamente, que é o Carnaval.”

Para viabilizar a reforma, hoje o Elefante de Olinda direciona esforços à captação de recursos em frentes diversas. “Vamos tentar tanto Lei Rouanet, quanto emenda parlamentar e também outros apoios como patrocínio direto ou algum apoio da gestão municipal ou estadual.” Além de sede para ensaios e guarda de material, a proposta é transformar o casario em centro cultural, com exposições, exibições de filmes e apresentações de grupos de cultura popular.

“Vai ser uma oportunidade de a gente capacitar, inserir algumas pessoas no mercado de trabalho formal, dar visibilidade às produções artísticas de quem é a base da artesania do Carnaval. Então, a gente olha essa sede como um espaço de inclusão social a partir do frevo”, destacou o diretor. “A gente vai trabalhar com uma espécie de um campo expandido do frevo, digamos assim. Olhar ele por outro prisma.”

“Nessa primeira etapa, vamos fazer uma captação de recursos para desenvolver todos os projetos de arquitetura e de engenharia e aprovar esses projetos junto às instâncias públicas (Iphan, Prefeitura e Corpo de Bombeiros). Depois de aprovados, vamos fazer a captação de recursos para as obras”, explicou Firmino, que conta já ter iniciado conversas com a senadora Teresa Leitão (PT) e com o Governo de Pernambuco.

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Três dos quatro chalés passaram por reformas, em 2011, para receber a CASACOR. (Foto: Pire/Prefeitura de Olinda).

Procurada pela reportagem, a Fundarpe informou que esteve, na última quinta (19), em reunião com representantes do Elefante, que na ocasião apresentaram a equipe responsável pela captação de apoio e recursos. Contudo, o órgão não prestou esclarecimentos sobre o avançado estado de deterioração em que os imóveis foram entregues à agremiação carnavalesca, que é Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco desde 2020.

“Tal equipe solicitou, durante a reunião, uma declaração de valor cultural dos imóveis, para viabilizar a aprovação do projeto via Lei de Incentivo à Cultura e outros editais semelhantes. Na ocasião, protocolaram o projeto inicial, base para captação, com uma proposta preliminar dos usos estabelecidos para cada imóvel, que será analisada pelo corpo técnico da Fundarpe”, disse em nota.

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O casario sofre com o abandono do poder público. (Foto: Cortesia/Elefante de Olinda).

A expectativa do clube é que o espaço seja aberto entre cinco e seis anos, mas o quintal deve começar a receber atividades antes disso. “A gente pretende colocar uns tapumes ao redor das casas para que o quintal comece a ser utilizado para eventos abertos, tanto do Elefante, quanto eventos de outras agremiações ou de entidades culturais, também como uma forma de reaproximar essas casas das pessoas, da população e dos visitantes de Olinda”, pontuou Bruno Firmino.

De acordo com o projeto preliminar de captação de recursos, documento encaminhado pelo clube à reportagem, o plano é fomentar o espaço durante o ano inteiro. “As sedes carnavalescas servem como espaços de socialização, exercendo o papel de reunir a comunidade carnavalesca para troca de ideias, organizações mútuas e debates do cotidiano, também servindo como equipamento privado, mas de uso coletivo, para a comunidade do entorno”, argumenta o texto.

“Para a gente é uma conquista muito importante, porque o Elefante nunca teve uma sede própria. Então, a gente vai ter essa oportunidade agora depois de 71 anos de fundação, depois do reconhecimento como Patrimônio Vivo e de toda a relevância que o Elefante, junto com outras agremiações de Olinda, possui no Carnaval”, concluiu o diretor do bloco carnavalesco.

Atualização: Esta reportagem foi atualizada no dia 27 de outubro, às 14h55, para incluir a resposta em nota enviada pelo Ministério Público de Pernambuco.

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