Crítica TV: The Following

The following
Fotos: Divulgação
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APENAS MAIS UM POLICIAL
Kevin Bacon se garante como protagonista de TV em The Following, mas série não faz jus à presença ilustre

Por Lidianne Andrade

Quem acompanha um pouco a carreira de Kevin Bacon já sabe que ele é um menino do mal. Ele já foi mocinho, mas como malvado se sai melhor. Rio Selvagem, Garotas Selvagens, O Homem Sem Sombra, X-Men: Primeira Classe são alguns dos filmes em que o lado mal de Bacon desponta com louvor. Carreira longa em mais de 30 anos de sucesso em grandes telas e algumas aparições no palco, o ator resolveu ousar e se tornar protagonista pela primeira vez na TV com o seriado The Following.

A série de suspense policial traz Bacon como personagem principal interpretando o ex agente do FBI Ryan Hardy. Ryan teve sua aposentadoria forçada, mas é chamado de volta pela reabertura de um antigo caso seu. O assassino serial Joe Carroll (James Purefoy) foge de sua prisão de segurança máxima pela porta da frente. Ryan descobre que o caso não é apenas recapturar o preso, mas também cuidar de seus seguidores que, obcecados pela poesia nos assassinatos de Carrol, querem encontrar uma forma de se sentir parte daquele mundo.

O interessante, mas nem tanto para o público brasileiro, é a inspiração de Joe Carroll nas obras de Edgar Allan Poe. Sonhando em ser um escritor, o assassino e ex professor de literatura universitário cria uma livre leitura das obras do romancista inglês e acaba por tentar reproduzir o ápices dos livros com suas vitimas. Matando apenas meninas, vai preso em pena perpétua, mas consegue com sua boa lábia parceiros para continuar sua matança.

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Um mix do gênero mocinho-bandido

O criador da série Kevin Williamson já deixou bem claro que o telespectador não vai ver nada de novo em The Following. Ele mesmo contou no making off apresentado na TV que fez pesquisa em diversas séries e livros policiais, historias reais de serial killers e dramas em longa metragem. Logo, o que vemos em tela é uma grande mistura de Criminal Minds, CSI e Zodíaco, com uma leve pitada de Dexter e uma vaga lembrança de Hannibal.

Tanta leitura e tanta inspiração talvez pudesse trazer à tela algo melhor. Ele bebeu em boas fontes, mas não soube digerir. Joe Carrol é menos simpático que Dexter, com uma lábia tão diminuta que deve deixar Hannibal gargalhando por aí e com um atrativo em palavras tão fajuto que não convence o espectador. Como as vitimas caíram em tão falso carisma? Só coisa de televisão mesmo.

O drama sem muito suspense parece ter bebido bastante em Criminal Minds. Nesta série, em cada episódio o telespectador aprende como cada serial killer diferente se comporta, como são formadas seitas e o fator desencadeador do mal. Vemos tudo claramente em The Following e de forma bem didática: frustrado por não ter feito sucesso no universo editorial (o fator estressante), Joe Carrol parte para provar ao mundo que entende de literatura e cria poesia matando suas vitimas da forma mais dolorosa possível.

Coleciona objetos de suas mortes como todo bom assassino serial. Procura ficar próximo da policia como o próprio Zodíaco. Cria uma seita secreta para perpetuar seu legado como muitos líderes religiosos à beira da loucura (tem um episódio só sobre seitas em Criminal Minds, hein?). Tenta ser dissimulado como Hannibal e tenta ser vago e metafórico quando lhe interrogam (tenta mesmo). Quer algo mais arroz com feijão que isso? Impressionante é ver policiais burros o suficientes para falar em voz alta ao lado de um assassino e apontar a bala para a própria cabeça. São essas incoerências que devem levar o fã de seriados policias a abandonar The Following sem remorso.

Será que a série se sustenta por muitas temporadas?
Os motivos para a série não passar da primeira temporada são vários: muitos personagens surgindo sem necessidade real, a escolha de um detetive aposentado e disfuncional mais que comum em filmes policiais e séries, abuso de policiais burros morrendo em cena por idiotices, um assassino que acha que está criando uma obra, abuso de frases de efeito, drama de mãe que perde o filho, romances inacabados, motivação de traição da esposa para a vingança, dentre outros que deixaria este texto muito cansativo.

Não se pode esperar muita inovação de Kevin Williamson. Seu currículo de roteiros fala por si: a franquia Pânico, a sequência Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, Dawson’s Creek, The Vampire Diaries como co-roteirista e The Secret Circle.  Trazer Kevin Bacon para a série foi um dos poucos acertos do programa, mas é preciso bem mais que o um bom ator para segurar um texto mediano e poucas novidades.

THE FOLLOWING
Criada por Kevin Williamson
[Quintas, 22h50, na Warner]