Crítica: Run The Jewels traduz revolta e inquietação política no explosivo “RTJ4”

Novo álbum do duo de rapper manda críticas diretas à brutalidade policial contra negros em um dos trabalhos mais incríveis deste ano

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Foto: Timothy Saccenti.
Crítica: Run The Jewels traduz revolta e inquietação política no explosivo “RTJ4”
4.5

Principais nomes do hip hop mundial, o duo norte-americano Run the Jewels lança seu esperado novo álbum RTJ4. Parte de seu projeto artístico, a dupla formada por Killer Mike e El-P vai fundo nos comentários políticos e crítica social em suas rimas. Por isso, a chegada do novo álbum teve o timing perfeito ao chegar ao público em meio a um dos maiores levantes anti-racistas já vivenciados na América.

Na realidade, o disco teve seu lançamento antecipado para casar com o momento de intensos protestos que se seguiram após as mortes de George Floyd e Breonna Taylor por policiais brancos. O Run The Jewels sempre esteve atento a esses movimentos e toda a carreira da dupla teve como proposta colocar o teor político nas letras em primeiro plano e denunciar o racismo e a violência policial. Por isso, RTJ4 ressoa o coro dos protestos nas ruas.

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Os dois singles do disco lançados antecipadamente, “Ooh LA LA” e “Yankee and the Brave (ep. 4)” já antecipavam que as atenções da dupla se voltariam novamente contra o sistema político que violenta vidas pretas e pobres. A urgência, neste caso, foi sair dias antes dos protestos que explodiram em todo o território norte-americano. Já “Walking In The Snow”, uma das melhores do álbum, com sua cadência pesada vai fundo ao expor a brutalidade da polícia e traz na letra o doloroso lamento repetido hoje como um grito de revolta “Eu não consigo respirar”. A letra foi escrita, segundo Mike, em 2019, mas, ainda que soe profética por conta do assassinato de George Floyd trata também de outras mortes de negros nas mãos da polícia, como Eric Garner, em 2014.

run the jewels rtj4

Além da brutalidade policial, o disco também endereça suas críticas às ganâncias do capitalismo, como “JU$T”, um rap de flow acelerado com participação de Zack De La Rocha, do Rage Against The Machine e “Pulling The Pin”, que trata do sistema mundial baseado em ganância e especulação e que conta com aparição de Josh Homme, do Queens Of The Stone Age.

Na sonoridade, a dupla segue apostando em batidas pesadas com batidas e arranjos que fogem do comum e que se aproximam da crueza do rap ointentista. No entanto, as experimentações estão ampliadas, inclusive com aproximações com o jazz e soul. Tudo é costurado de uma maneira bem orgânica com transições discretas entre as faixas, o que torna tudo muito fluido.

É um trabalho que visa soar como um expurgo para esse lixo de ano que foi 2020. É talvez o mais importante trabalho da dupla, que coloca o hip hop a serviço de uma reflexão urgente sobre uma sociedade fincada na violência.

RUN THE JEWELS
RTJ4
[BMG, 2020]

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