Crítica: Girls | 2ª Temporada

Lena Dunham parece entender sua geração como poucas (Divulgação)
Fotos: Divulgação
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Maior trunfo de Girls é criar identificação com seu público-alvo: garotas nos vinte e poucos com medo da vida real

Por Andressa Monteiro

O ano de 2013 não poderia ter começado melhor para a atriz, roteirista e produtora Lena Durham. Criadora da série Girls – cuja segunda temporada está sendo exibida pela HBO no Brasil –  a moça conquistou dois Globos de Ouro: Melhor Série Cômica e Melhor Atriz de Série Cômica. Desde a sua estreia, o seriado tem sido bastante comentada por retratar os dramas existenciais de quatro garotas nova-iorquinas na faixa dos 20 e poucos anos, em busca de novos amores, experiências e/ou definições profissionais e por um pouquinho de diversão.

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“It’s About Time” – primeiro episódio da segunda temporada – começou muito bem, alcançando uma audiência de 4,1 milhões de espectadores, mostrando uma reviravolta na vida afetiva de Hannah (Dunham). A aspirante a escritora termina o seu relacionamento conturbado com Adam (Adam Driver), e logo cai nos braços de Sandy (Donald Glover, da série Community), um jovem negro e republicano. Chega a ser engraçado ver como ambos os personagens, que afirmam ser liberais e livres de qualquer preconceito, mostram seus verdadeiros pensamentos e crenças após a primeira briga do “casal”.

Já a personagem de Jessa (Jemima Kirke) se casa no final da primeira temporada com Thomas (Chris O’Dowd) estranho – porém rico – empresário, que a princípio odiava, mas que acaba virando seu noivo em poucas semanas de convivência. A jovem, então, afirma com a confiança típica da juventude atual, muitas vezes impulsiva e que preza apenas pelo prazer momentâneo, que “a caça havia terminado” – se referindo ao fim da procura pelo seu grande amor.

Donald Glover fez ponta na série como interesse romântico de Hanna. (Divulgação)
Donald Glover fez ponta na série como interesse romântico de Hanna. (Divulgação)

O que no início pareciam ser só flores e sexo, se transforma em uma realidade triste (mas ao mesmo tempo cômica), descrita de forma pontual na cena do quarto episódio, “It’s a shame about Ray”, onde Jessa mostra o seu verdadeiro “eu” em um jantar com os pais do marido. Abalando assim uma relação baseada em mentiras, comodismo, medo e dinheiro.

Marnie (Allison Williams), nessa temporada, terá uma das histórias mais interessantes ao se envolver com o amigo e ex-namorado gay de Hannah, e logo depois engatar um romance com um artista plástico que sempre admirou, mas que no fundo não irá corresponder suas expectativas. Ela também começa a trabalhar como hostess em um bar, apenas pela grana e por se encontrar, como grande parte dos jovens de 25 anos, em uma crise de não-saber-o-que-fazer-da-vida.

Lena Dunham parece entender sua geração como poucas (Divulgação)
Lena Dunham parece entender sua geração como poucas (Divulgação)

Por fim, Shoshanna (Zosia Mamet), que na primeira temporada se deparava sozinha e com zero experiência na vida sexual, perde a sua virgindade com o amigo do ex de Marnie, Ray Ploshansky (Alex Karpovsky), e aprende a enfrentar os sabores e dissabores de sua primeira relação afetiva, o que rende uma boa fonte de risadas e de fofura. A trilha sonora pode ser considerada a personagem mais descolada do seriado, sempre eclética e bem escolhida, passando por artistas como Oasis, Fleet Foxes, M.I.A e pela banda Fun., de Jack Antonoff, namorado de Lena.

Girls não tem esse nome à toa: Dunham faz, pensa e direciona a sua criação especialmente para garotas como ela: na faixa de 20 a 30 anos, que se identificam, riem e temem a chegada da vida real e de seus desafios, muitas vezes acompanhados com drogas, músicas indies melosas, amizades verdadeiras, ou então, dúvidas, perdas, decepções e ilusões.

Previsivelmente, a série já foi comparada com Sex and The City, por ter em comum a cidade de Nova York e por contar a história de quatro amigas. Diferentemente de Carrie e cia, onde as personagens são mais velhas e com personalidades e conflitos distintos dos de Hanna, Jessa, Shoshanna e Marnie, Girls se difere porque não brinca tanto com a moda, as roupas, e o glamur que acabaram se tornando marca registrada da série de Carrie Bradshaw.

Por outro lado, ambas se assemelham ao transmitir sentimentos de insegurança, e até de certa futilidade traduzidos em certas atitudes egoístas de Hanna (no caso de Girls) ou na compulsão por compras ou vaidade excessiva de Carrie (em SATC), por exemplo.

Mas o que realmente cria uma identificação genuína com o público de Girls é a realidade que todos os jovens terão de enfrentar um dia. Entre elas, a falta de dinheiro, a busca por independência longe da proteção emocional e financeira dos pais, sonhos frustrados, rejeições, medo de comprometimento/responsabilidades, e uma fome danada por novos sentimentos ou simplesmente a total inabilidade de lidar com eles. Felizmente, o seriado consegue transmitir esses e outros dilemas de forma simples, popular, e de fácil entendimento.

Ha espaço para cenas forçadas nesta segunda temporada, tudo para evidenciar uma excentricidade, humor e modernidade apenas existentes na cabeça da autora. A imaturidade e os mimos excessivos (típicos da geração “Y”), parecem não diminuir, e vir de forma insistente e até mesmo irritante nos sentimentos e ações de Hanna, o que mostra a sua falta de capacidade em lidar com diferenças e intimidades em uma relação a dois.

No entanto, muitas situações, que podem ser consideradas exageradas ou “sem noção”, despertam o sentimento de “pelo menos tem alguém passando por um perrengue ainda pior ou maior do que o meu”, ou então, “e eu achava que eu era maluca…”.

Uma mulher escrevendo sobre e para mulheres pode parecer pouco atrativo, e por demais clichê, gerando um ar de desconfiança e de preguiça no público-não-alvo da série (leia-se os homens). Mas, assim como New Girl, de Zoey Deschanel, Girls pode ser descaracterizado se tratado apenas como um seriado “girly”. Um olhar mais cuidadoso vai revelar o que essas meninas tem características sensíveis e bem humoradas visíveis a todos. A série se aproxima de um final, e ainda há muitas reviravoltas a acontecer. A HBO já confirmou o terceiro ano, o que mostra que a produção vem agradando audiência e executivos da emissora, apesar das controvérsias.

GIRLS – 2ª TEMPORADA
HBO, domingos, 21h
[Criada por Lena Dunham, HBO, 2013]

Nota: 8,0