Crítica: Fiel ao seu estilo, Elba Ramalho olha adiante em disco cheio de vigor pop

elba
8.5

Elba Ramalho lançou o seu 38º disco, O Ouro do Pó da Estrada, com um fôlego renovado e uma energia cheia de vigor em um trabalho que agrega rock, pop e tradições populares. É um dos melhores trabalhos recentes da cantora e dialoga com o âmago de sua persona artística, que sempre se pautou pelo imaginário dos sons do Nordeste embalados por um verniz pop feito para as grandes audiências.

Em cena há 40 anos, Elba se deu o desafio de experimentar, mas manteve firme em suas raízes. Por isso o disco deve agradar quem já a conhece de muito tempo, mas também pode ser uma ótima porta de entrada para quem nunca ouviu um disco seu. “Calcanhar”, com participação de Yuri Queiroga e Manuca Bandini, é um rock trazido das entranhas do manguebeat com bastante peso, feito pra dançar.

“Girassol da Caverna”, de Lula Queiroga, traz Elba em dueto com Ney Matogrosso em outra faixa roqueira, mas aqui bastante orquestrada, levando a um clímax grooveado. Deve ficar linda no palco essa faixa, pois tem uma proposta bem teatralizada. “Na Areia”, de Juliano Holanda, conta com sanfona de Marcelo Jeneci e é uma música com um tom suave, mas com a interpretação cheia de profundida de Elba. Jeneci retorna em “Oxente”, um forró bem animado, típico da sonoridade da cantora. E Elba retorna a outro gênero bastante reconhecível de sua carreira, o xote, aqui representado por “Se Não Tiver Amor”.

As regravações ganham aqui novas roupagens. “Girassol”, famoso com o Cidade Negra, se transfigura do reggae para o forró. “José”, de Siba, ficou mais acelerada e roqueira. “Princesa do Meu Lugar”, de Belchior, que foi gravada também por Amelinha, aqui ficou mais suingada na interpretação de Elba. “O Fole Roncou”, de Luiz Gonzaga e Nelson Valença, encerra o disco como um cartão de visitas dessa nova fase de Elba Ramalho, mostrando que a cantora está com os olhares para a frente na estrada, mostrando que pode seguir regional, mas inovadora. A faixa coloca o forró em um pop instigado, animado e com um apelo pop conduzido pelos novos arranjos de Yuri Queiroga e Tostão.

Um dos melhores trabalhos de Elba Ramalho. O disco renova a proposta artística da cantora – com a ajuda de talentosos músicos da geração atual – mas respeitando a trajetória musical de Elba, seu estilo e timbre, sem maquiagem de “jovialidade”. O disco é pop e cheio de instiga, mas com uma assinatura que só ela poderia conceber.

ELBA RAMALHO
O Ouro do Pó da Estrada
[Deckdisc, 2018]
Produzido por Yuri Queiroga e Tostão Queiroga

Elba Ramalho O Ouro do Pó da Estrada capa