Crítica: Divergente, de Neil Burger

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Quando nos instigamos a saber mais sobre o universo de Divergente, vemos que nada faz sentido (Divulgação/Paris Filmes).
Foto: Divulgação/Summit.
Foto: Divulgação/Summit.

DISTOPIA PARA TEENS
Divergente tem bom argumento e heroína carismática, mas execução pobre

Por Paulo Floro

O melhor que a ficção-científica fez para a cultura pop foi imaginar o absurdo das sociedades. É um exercício de imaginação que parte do pessimismo. Nisso, Divergente, cuja primeira parte da trilogia estreia essa semana no Brasil, fez muito bem. Seu mote, bobo à primeira vista, é assustador por apresentar uma tecnocracia dividida em facções.

O diretor Neil Burger se apoiou no best-seller da escritora americana Veronica Roth, que apesar das incessantes comparações com Jogos Vorazes, conseguiu seu secto fiel de seguidores. A trama mostra Beatrice, uma garota que precisa escolher uma facção ao completar 16 anos, como todos de sua faixa etária. Nesse mundo futurista, os jovens são submetidos a testes para saber de qual facção farão parte: Amizade, Abnegação, Erudição, entre outros.

Ela surpreende a todos ao escolher a facção dos Destemidos, indo de encontro à sua família, que faz parte da Abnegação, responsável pela governança nessa sociedade de castas. Dentro dessa nova facção, responsável pela segurança do mundo, ela vai aprender da pior maneira possível o quanto é difícil se impor em um ambiente inóspito que conspira contra sua própria natureza. Os destemidos são o estereótipo do cafuçú temerário: incrivelmente fortes, pouco questionadores e bastante eficientes.

Quando nos instigamos a saber mais sobre o universo de Divergente, vemos que nada faz sentido (Divulgação/Paris Filmes).
Quando nos instigamos a saber mais sobre o universo de Divergente, vemos que nada faz sentido (Divulgação/Paris Filmes).

Lá ela acaba se envolvendo com o misterioso Quatro (Theo James), que a instiga a descobrir mais sobre as vicissitudes desse mundo determinista. Controlando tudo isso temos Jeanine Matthews, interpretada por Kate Winslet, em uma ótima interpretação de uma dirigente fria. O pouco que sabemos do passado do mundo de Divergente serve para instigar a imaginação do espectador – e isso é ótimo. É dito que o planeta viveu mais uma grande guerra mundial, da qual sobrevivemos por pouco. Agora, as pessoas vivem em cidades muradas, protegidas por um sistema onde todos possuem uma função bem definida. Quem está fora dele vive como mendigos abandonados à própria sorte.

O cerne do filme é questionar esse sistema, o que é tratado de maneira um tanto simplória, mas eficiente. Apesar do potencial de seu argumento, Divergente sofre por ceder demais às pressões de ser um blockbuster adolescente. E Beatrice, uma personagem que poderia ser um ícone feminino nas telas, se vê em determinado momento como uma mocinha simplória. É uma pena. Falta mais viço aos personagens como um todo, ainda que Shailene, uma das atrizes mais carismáticas de sua geração, dê o melhor de si.

A distopia, que funciona bem como uma metáfora, fica vazia quando o roteiro tenta ligar os pontos: ficou difícil fazer sentido em alguns pontos. Faltou ao diretor Neil Burger criar algo mais conciso para a audiência se apoiar – sem falar, é claro, em uma identidade visual e narrativa que o tornasse memorável no futuro. Em Hollywood, bons efeitos especiais e romance, já não são mais suficientes há um bom tempo.

divergenteDIVERGENTE
De Neil Burger
[Divergent, EUA, 2014 / Paris Filmes]
Com Jai Courtney, Kate Winslet, Shailene Woodley, Theo James

Nota: 6,0

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