Crítica – Disco: FKA twigs | LP1

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Divulgação/Young Turks.
Divulgação/Young Turks.
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Desconstrução é a chave para entender FKA twigs

Por Paulo Floro

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A cantora britânica Tahliah Debrett Barnett, que assina como FKA twigs, soube como pouco aproveitar as ferramentas disponíveis hoje para promover sua personagem artística. Seu primeiro álbum, chamado estrategicamente apenas de LP1 é um obra-prima que coloca no mesmo patamar imagem e som.

O disco foi lançado este mês e contou com produtores conhecidos pelo experimentalismo no pop, como Clams Casino, Sampha e Devonté Hynes (mais conhecido como Blood Orange). É um trabalho meticuloso onde cada acorde e batida serve para endossar a persona de Tahliah. Mais do que criar bases viciantes e poderosas como seria praxe, a ideia foi se manter o mais inventivo possível.

LP1 pode ser encarado como um disco experimental de R&B, mas vai bem além. Usando a voz aguda e etérea da cantora como base, o álbum monta batidas desconstruídas em compasso com arranjos de métricas precisas. A orquestração dá o tom na interpretação das faixas. “Pendulum”, que saiu como single no mês passado, é um bom exemplo desse estilo pensado para o álbum. Tahliah vai crescendo com um vocal cada vez mais ofegante, tão sexy quanto lamurioso, enquanto diversas camadas de baixo e bateria vão se sobrepondo cada vez mais velozes.

Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

“Two Weeks”, a primeira música de trabalho do disco, é o mais próximo que FKA twigs conseguiu de um R&B comercial. Sua estrutura aponta para um refrão que explode em energia depois de uma introdução sôfrega. Já “Numbers”, a mais “dançante”, mostra a potência dos agudos da cantora. “Video Girl” e “Numbers” mostram que a vibe do disco encontra parâmetros no pop dentro do R&B sombrio protagonizado por James Blake.

O mais interessante de FKA twigs é o modo como ela consegue dar densidade a uma ideia. Ainda que as letras do álbum não sejam um primor, o conceito é que realmente parece importar. O que LP1 tenta passar ao ouvinte é a ideia de desconstrução: do ego do artista, do gênero musical em que se insere, do disco enquanto formato. Até as peças de divulgação lançadas na web colaboram para essa temática. Nelas vemos Tahliah com o rosto deformado em um fundo monocromático. Em outras, o destaque vai para seu belo rosto, com os cabelos formando desenhos delicados.

Enquanto artista visual, poucos têm se mostrado tão eficazes quanto FKA twigs nos últimos anos. Incluo nessa lista Arcade Fire, Lana Del Rey e Jack White. Outros artistas, em geral, ainda seguem o modus operandi do século passado no que diz respeito à produção fonográfica e sua distribuição: release de imprensa, fotos posadas, álbum. FKA twigs encapsulou todos esses processos e tanto ela quanto seu disco funcionam como uma obra única.

Seu surgimento na música tem uma origem curiosa. O início de sua carreira foi como dançarina de apoio em videoclipes. É possível vê-la em vídeos de artistas como Kylie Minogue, Ed Sheeran e Jessie Ware. Em 2012 ela começou a desenhar a persona que desembocaria no disco lançado este ano com o EP EP1. Mas chamou atenção mesmo com a faixa “Water Me”, que meio R&B meio eletrônico, era difícil de descrever. Era o nascimento de uma das atrizes mais complexas que o pop já viu nos últimos anos. O seu nome artístico veio de um apelido dado por amigos por causa do barulho que seus ossos faziam ao estalar. Como uma outra artista reclamou o uso do nome Twigs, ela passou a assinar FKA twigs (sigla para “Formely Know As”, ou “Anteriormente Conhecida Como”).

LP1 não é um disco divisor de águas no R&B, mas nos lembra que é um gênero rico em possibilidades. E se a desconstrução é a força-motriz do trabalho de FKA twigs, é bom aguardar muito mais dela no futuro.

FKAtwigsFKA twigs
LP1
[Young Turks, 2014]

Nota: 8,6

https://www.youtube.com/watch?v=Cw6H9YsTLek

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