Crítica: Baby’s In Black – O Quinto Beatle

Astrid and Stuart from Arne Bellstorfs Babys in Black

PASSADO OBSCURO
HQ conta a trágica história de amor de Stuart Sutcliffe, o esquecido quinto integrante dos Beatles

Por Paulo Floro

Ainda hoje é muito pouco conhecida a história de Stuart Sutcliffe, o quinto integrante dos Beatles, que fez parte da formação original da banda mais famosa de todos os tempos, em 1960. Ainda mais desconhecida é a triste história de amor que ele protagonizou com a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr. É esse momento que Arne Belstorf revela na HQ alemã Baby’s In Black, lançada na Europa em 2010 e que só agora chega ao Brasil pela 8Inverso.

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Estamos em outubro de 1960 e os Beatles, então um quinteto, fazem shows diários em um bar chamado Kaiserkeller, uma espelunca esfumaçada, em Hamburgo, frequentada por marinheiros, arruaceiros e marginais de todo o tipo. Todos eram adolescentes – George Harrinson tinha 17 anos, John Lennon, 19 e Paul McCartney, 18. O baterista Pete Best, 19 – e chegaram a ter problemas com a polícia por causa da pouca idade. O estudante de arte Klaus Voorman convence sua amiga, Astrid, a assistir a apresentação do grupo. Ela, acaba se apaixonando por uma figura misteriosa na formação, um baixista que praticamente não olha para o público, usa óculos escuros e conserva um ar taciturno. Era Stuart.

A história desse Beatle, amigo de infância de John Lennon, que foi convencido por este a largar suas pinturas para se arriscar em um grupo de rock, é o mote desta HQ, sucesso na Alemanha quando foi lançada. A relação do casal em Hamburgo nos anos 1960 ajuda a entender os primeiros anos da banda que redefiniu a música pop no século passado. A história, pouco conhecida, por muito tempo ficou oculta aos olhos dos fãs, já que Stu abandonou o quinteto antes mesmo da gravação do primeiro disco. Sua ideia era estudar artes plásticas em uma renomada escola alemã.

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A presença de Astrid foi importante em sua formação, influenciando seu trabalho. Ele morreu muito jovem, de uma hemorragia cerebral, interrompendo uma possível trajetória de sucesso. Professores em Hamburgo e na Inglaterra, que tiveram contato com Sutcliffe demonstravam entusiasmo com o trabalho do garoto, então com 19 anos, que buscava inspiração no expressionismo. Ele vendeu um quadro em uma exposição para comprar seu primeiro baixo e sair na estrada com os Beatles. Astrid acabou aproximando-se do Fab Four, assim como seu amigo Klaus, o autor da capa do disco Revolver.

A fotógrafa foi a responsável por fotos clássicas do início da formação dos Beatles e chegou a morar em Liverpool na época da febre beatlemaníaca que varreu a Europa – e depois o mundo. Seu trabalho dessa época já foi usado em diversas exposições e chegou a ganhar uma grande retrospectiva. Ela, no entanto, decidiu abandonar a vida pública e passou a recusar pedidos de fotos dos integrantes. Baby’s In Black tem uma força emocional grande por decidir se ater à relação amorosa de Astrid e Stuart, nos primeiros momentos da banda.

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o autor alemão Arne Bellstorff (Divulgação)

Arne Bellstorf, um dos destaques da nova geração de quadrinistas alemães, conseguiu trabalhar com subjetividade para contar a história do casal. Para isso, usou referências das artes plásticas e também da música. Os interlúdios de Astrid, retomando a lembrança do primeiro encontro com Stuart, vão se tornando cada vez mais dolorosos, a medida em que avançam seus problemas de saúde e a saudade aumenta. Há também as cenas de shows, com dinamismo, criando uma sensação de estar no meio do público. A edição brasileira decidiu manter as letras das músicas em inglês, o que vai agradar os fãs de música pop.

É uma HQ que requer tempo para uma entrega total do leitor. Ao contrário do que poderíamos imaginar, não há o ritmo acelerado, esfuziante, que um clichê sobre os Beatles poderia nos remeter. Pelo contrário, chega a ser melancólica na maior parte do tempo. A única coisa que atrapalha é que o traço de Belstorf faz com quem os personagens sejam muito parecidos entre si, o que confunde o entendimento algumas vezes. A seu favor, no entanto, está a caracterização muito bem feita do período, como roupas, cenários, e algumas curiosidades, como as referências ao pós-Guerra, nazismo e o surgimento do rock’n’ roll.

Baby’s In Black é uma HQ imprescindível para os fãs de Beatles, mas ela vai além desse público, ao ter como seu objetivo principal revelar uma das mais trágicas histórias de amor da cultura pop de todos os tempos.

O Quinto BeatleBABY’S IN BLACK – O QUINTO BEATLE
Arne Bellstorf
[8Inverso, 212 páginas, R$ 51 / 2012]
Tradução: Augusto Paim (do alemão) e Cassio Pantaleoni (do inglês)

Nota: 8,7

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Astrid e Stuart em foto dos anos 1960 (Reprodução)

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Paul McCartney, com Stuart ao fundo, em uma das fotos mais famosas do início dos Beatles nos anos 1960 (Reprodução)