João do Morro (Foto: Priscila Dantas/ Divulgação)
João do Morro minutos antes de adentrar o palco do Rec Beat: histórico? (Foto: Priscilla Dantas)

A PRIMEIRA ATRAÇÃO DA NOITE
“Tive medo que acontecesse comigo o que aconteceu ao Carlinhos Brown no Rock in Rio”
Por Fernando de Albuquerque

Se no passado o consumo da música composta e cantada por João do Morro era restrito às festas de periferia e aos círculos não tão idissiocráticos de uma suposta elite cultural, agora, a coisa mudou. E muito! Foram cerca de cinco mil pessoas, segundo estimativas da produção do Recbeat. Um público inédito para uma apresetação que abre os trabalhos do dia, foram as palavras que sairam da boca do próprio idealizador e produtor do festival, Antônio Gutierrez, o Gutie.

Alguns especularam que no show de João do Morro teve mais gente que o Quanta Ladeira, bloco carnavalesco dos “descolados” da cidade e que reúne gente como Silvério Pessoa e Lula Queiroga. E verdade seja dita: o público era gigante e formado por todas as classes sociais possíveis e imagináveis. A platéia, que cantou junto com João todas as músicas, caiu sem pudor no velho conceito da heterotipia de Focault e assistiu ao show esbanjando uma euforia atípica, com direito a pedido de Bis e aplausos uníssonos.

Dentro de toda a programação do Recbeat, João, sem margem para dúvidas foi quem afirmou com muita vemência o próprio clichê do festival de declarar e apontar tendências. O impacto de sua apresentação fez com que a carreira do musicista, que começou numa suingueira pouco trabalhada, ganhasse a sedimentação necessária para calar a boca de muitas entidades “sem fins lucrativos” que quiseram impedir o cantor de se apresentar em palcos públicos. Tudo isso com ajuda da classe média meio debochada que o apoia desde os primórdios de suas apresentações.

E o mais bonito de tudo isso foi ver o Polo Mangue, como é conhecido o espaço localizado em frente ao Paço Alfândega, começar a ficar lotado do zero. Eram 19h30 quando este repórter estava munido de guarda-chuva e capa enquanto o espaço estava completamente às escuras, deserto e uma chuva nem um pouco amistosa espantava qualquer cidadão que chegasse perto do Reacbeat.

O temporal deu uma trégua, Os Cara – como a banda de João do Morro é conhecida – subiram ao palco que era contemplado por dez gatos literalmente pingados, mas não menos animados. João foi anunciado e bastou os primeiros acordes de “Papa Frango” serem entoados para que uma multidão ensandecida cruzasse o Paço Alfândega e a rua da Moeda para o céu a abrir, o calor surgir e o homem vestido de egípcio perder a timidez, ganhar o sorriso mais brilhante que já teve no rosto e ser ovacionado.

A sequência foi composta por todas as suas músicas, cantadas pela multidão que carregava nos refrões de “Chupa que é de Uva”, “Três Segundos”, “Gigolô”, “Quer Mamar”, “Jornalisa, ô Raça” e “Cueca de Copinho”.

João nítidamente emocionado colocou todo seu repertório para fora, todas as piadas que conseguiu arquitetar (como, “Tô vendo que tem gente aqui que não achou salão aberto”) se despediu da platéia que pedia bis ininterruptamente. Ele voltou, se emocionou novamente, cantou mais uma. Ouviu “Uh, fudeu, o João apareceu!”, chorou e partiu com a plena certeza de que todos (gays, lésbicas, heterossexuais, pobres, ricos, os cidadãos do morro e os dos arranha-céus) se divertiram como nunca antes visto. Ele consubstânciou, assim, a palavra democracia tão apregoada no carnaval recifense.

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  1. BOM, se fosse mais nova diria que gosto de JOAO DO MORRO por empolgaçao da idade ou coisa parecida . mas nao é bem o caso . tenho 34 anos e deixo meu comentario aqui , discordando com-ple-ta-men-te do meu amigo aqui em cima .Se a musica , como um todo , fosse para agradar 100% , so bastaria existir um unico estilo. para que tantos ??? Nao acho justo que se faça um tipo de critica baseado em fatos puramente particulares e que nao dizem respeito a pessoas como eu por exemplo .Sei bem quem é JOAO DO MORRO “ja o vi tocar muitas vezes. shows de bairro, rec beat, galo da madrugada em fim. Quanto a ” leoes do norte “, quem sao mesmo ? de onde vieram ? “Cada um na sua onda ” , “cada macaco no seu galho” . O Joao do Morro , nao veio “daqui e nem dali” pra comprar briga com ninguem . Nos o colocamos onde ele esta ,nos queremos ouvir suas musicas , queremos alegria , brincadeira , dar boas risadas com ele , dançar e brincar. Era o que faltava para dar uma pitada de alegria pra gente . Quem ja o viu tocar ao menos uma vez, sabe perfeitamente do que estou falando . Entao meu amigo … vamos arrumar um motivo real pra preocupaçoes, por que JOAO DO MORRO , nao é problema pra ninguem

  2. Reflexões sobre João do Morro e a homofobia.

    Bastante esperto esse tal “João do Morro”, até bem pouco tempo só ouvíamos suas músicas, dignas da lata de lixo, nas carrocinhas de cd pirata nas ruas, foi só acontecer essa polêmica envolvendo seu nome com homofobia, em justa ação promovida pela ONG defensora dos direitos dos homossexuais – Leões do Norte e prontamente aceita pelo Ministério Público de Pernambuco; que essa figura, de um mau gosto musical “doentio” e que beira a “sociopatia”, se aproveitou para fazer uma jogada de marketing muito bem planejada pelos seus produtores.

    Vivemos em uma sociedade que sofre com a falta de valores tangíveis, onde espertos dessa natureza proliferam como moscas sobre a carniça, vide as bandas de forro pornô que proliferam em nossa região, era de se esperar que isso viesse a acontecer.

    O histórico de suas composições não deixa dúvidas com letras que tem como títulos pejorativos exemplos do tipo:

    · As Nêga Endoida
    · Balaiagem
    · Bicha Boa Do Carai
    · Chupa Que É De Uva
    · Frentinha
    · Gigolô
    · Me Ter
    · Na Mamata (Quer Mamar)
    · Papa Frango
    · Putaria
    · Sarrá
    · Sinal De Puta .

    Em suas letras podemos encontrar manifestações de toda a sorte de preconceito e ataques contra as mais variadas nuances do comportamento humano, atingindo grupos étnicos, gêneros e orientações sexuais. Fazendo parecer que são apenas inocentes brincadeiras e caricaturas com assuntos sérios, mas que, na verdade, geram sofrimento, dor e transtornos para o ser humano, tripudiando de nossos ouvidos e do bom senso estético.

    Sua aparente ingenuidade é falsa e dissimulada, quer se passar por vitima, conforme divulgado pela imprensa, quando vitima, realmente, é a sociedade, que vê o “marketing da polêmica” prevalecer sobre os Direitos Humanos e a dignidade daqueles que são alvo gratuito deste senhor, e destroçados os valores éticos pelos quais tanto lutaram poetas e artistas de nosso pais, dentre os quais muitos pagaram com a própria vida, durante os tenebrosos tempos da ditadura militar.

    Tudo isso só demonstra o quanto a “cultura” desse “artista” é mínima e distorcida, quer se fazer passar por personagem “cult”, mas não passa de mais um espertalhão aproveitando os ventos consumistas do momento, sua cultura, isto sim, é baseada em evidente e sólida experiência preconceituosa, o que faz questão de deixar evidenciado em suas letras, recheadas de termos baixos e grosseiros e caracterizada pelo duplo sentido.

    E para nossa maior surpresa a última desse espertalhão, é a de possar de “Pop Gay”, muito cinismo e cara de pau, depois de ser processado pela sua homofobia, comprovada pelo Ministério Público e denunciada pela valoroza ONG; não podia se esperar outra coisa de um personagem com o seu histórico e com a sua produção, que só está afim de faturar uma grana fácil, achincalhando ainda mais a nossa cena cultural, e que repassa para uma parcela da impressa “paga” e que fatura com jaba, numa tentativa, desesperada, de se safar da imagem homofóbica e preconceituosa que o tal “cantor” deixou em nossa sociedade e diante das pessoas que levam a sério nossa cena cultural.

    Esse senhor enoja a nós pernambucanos e a toda a parcela da sociedade que cuida de preservar os valores culturais e incentivar as manifestações genuinamente populares e herdadas dos nossos ancestrais, que lutaram arduamente para trazer até os nossos dias toda a história de nossas raízes africanas, indígenas, árabes e européias.

    Sua “onda” vai passar, espero que as pessoas possam questionar e tirar alguma coisa de positivo, se é que há algo de positivo nesse personagem homofóbico e oportunista que fere os nossos ouvidos com o seu trabalho de gosto artístico duvidoso, e que quer sobreviver da desgraça alheia arrancando uma “grana” em cima do preconceito a da baixaria.

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