Cobertura: Festival No Ar Coquetel Molotov – 1º Dia

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Marcelo Camelo

A NOITE DAS HERMANAS
Show de Marcelo Camelo atingiu um nível quase religioso e revelou, talvez o principal ídolo da geração atual
Por Fernando de Albuquerque. Foto: Anderson Ferreira da Silva

coquetelO Coquetel Molotov é com certeza o festival de música mais bem resolvido do Recife e a casa lotada no primeiro dia de apresentações já demonstrava o quanto o evento é bem amarrado, com uma identidade bem definida (e reconhecível). Da Rock Band que a Trident armou no centro (a fila para o jogo era bem grande), a pseudo-rave (meio constrangedora) que montaram em um espaço para vender as tó­picas bujingangas de festival, até mesmo a instalação do artista Killian Glasner, tudo transformava o No Ar num espetáculo bem maior do que apresentações de bandas.

Quem abriu os trabalhos nesse primeiro dia foi a pernambucana Júlia Says que fez um show para lá de correto, apesar de, num primeiro momento terem dado a impressão de que seriam engolidos pelo tamanho do teatro. Eles já haviam mostrado seu som bem acabado durante o Rec Beat e a escolha da banda para o palco principal foi uma das mais corajosas dessa edição. Quem deu continuidade as apresentações foi Cidadão Instigado, convidado de última hora devido a problemas com a viagem dos mato grossenses do Vanguart. O cancelamento da banda fez fãs recifenses repassarem os ingressos e gerou uma grande polêmica na comunidade do grupo no orkut. A troca de farpas entre a produção executiva do Coquetel e o empresário do Vanguart ganhou tópico e se tornou assunto meio velado nos corredores do teatro.

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Shout Out Louds

O quinteto sueco Shout Out Louds, que veio divulgar seu segundo álbum lançado ainda em 2007, Our Ill Wills e que contém músicas que levaram a banda a se tornar mais conhecida pelo mundo, participando de festivais pelos EUA e Europa, foi quem deu partida a tão recorrente Invasão Sueca que já é de praxe no Coquetel.

No Brasil, o grupo é conhecido pela música “Shut Your Eyes”, usada por aqui em um comercial de automóvel. Originários de Estocolmo a banda formatada em 2001 pelos os amigos de infância Adam Olenius (voz), Ted Malmros (baixo), Carl von Arbin (guitarras), Eric Edman (bateria) e Bebban Stenborg (teclados, voz), não fazem o tipo de som que vai mudar o mundo e nem sua vida. Muito pelo contrório. Eles mais parecem um pastiche do The Cure, com direito a voz parecida, viradinhas e samples pra lá de idênticos. E foi justamente isso que arrancou sorrisos e muita animação da platéia que parecia estar diante de um Robert Smith com cabelos loiros e franjinha emo. Guti-guti! Mas apesar da falta de identidade, a banda fez tudo muito bem principalmente quando entoou “Blue Headlights”, “Impossible” e até devoções maiores ao The Cure como “Parents Livingroom” e “Normandie”.

Las hermanétes
Quando Shout Out Louds saiu de cena teve início o freje em torno de Camelo. Até mesmo os auxiliares de palco que montavam a estrutura de som receberam os tradicionais gritinhos de “gostoso” que se rendiam ao ex-integrante dos Los Hermanos. O caos ganhou contornos de revolução francesa quando ele e a banda apareceram para fazer o show e uma orda de fãs desembestadas invadiram o gargarejo do palco tapando a visão de todo o resto do teatro. E foi quase inevitável o levante do “Senta! Senta! Senta!”.

Uma conclusão é inevitável: é quase impossível não se render ao bom acabamento do projeto solo de Camelo. Tudo muito bem amarrado, em seu devido lugar, melodia harmônica e letra que encantam o mais rude dos trabalhadores braçais. Coisa para embalar um romance juvenil como se via muitos casais sentados e enroscados pelo pescoço. Mas diante de tanto perfeccionismo musical chegou a ser constrangedora a performance João Gilberto Wanna Be. “Ele é o nosso Chico Buarque, o novo Chico Buarque que está¡ dando um novo sentido a música“, disse a emperdenida hermanete Inês Costa. Ela enfrentou os buracos da BR 101 Sul indo de João Pessoa ao Recife para ver camelitcho!

E ele encarnou com toda verve o sí­mbolo do “banquinho, um violão, um amor, uma canção, pra fazer feliz a quem se ama” e levou ao gozo uma orda de mocinhas que começam a fazer os simuladões do primeiro ano e se esmeram em testes vocacionais para o vestibular. E é esse o novo público que Camelo precisa pensar em conquistar tanto aqui, quanto país afora. São hermanetes que completaram a primeira década ganhando de presente Ventura e que agora já não usam mais sandálias de dedo e vestidinho de Tai-dai como as fãs do passado.

Quem conferiu esse primeiro dia ainda se deparou com uma Mallu Magalhães para lá de emocionada ao cantar com Camelo. Ao dizer que “com ela eu mudei minha forma de ver a música”, o ex-eterno-hermano levou a MM às lágrimas. Ela não conseguiu conter o nervosismo diante do culto ecumênico que se tornou o show de Marcelo Camelo. A emoção ganhou mais corpo no bis, quando o público pedia mais uma pra Camelo e ele retornou, sentou no banquinho e cantou “Tchubaruba” que não estava previsto na set list. Mallu entrou correndo novamente no palco. Tascou a cabeça na caixa dos peitos de MC, chorou novamente e ainda conseguiu entoar mais dois versos. Na manhã seguinte, claro, tinha tudo no Youtube.

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Marcelo Camelo e Mallu Magalhães