Crítica: Ava Rocha entrelaça pop, feminismo e bruxaria em novo disco

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Foto: Ana Alexandrino/Divulgação.
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O trabalho experimental que Ava Rocha vem fazendo no pop talvez só seja percebido décadas adiante. Seu novo trabalho, Trança, agrega novamente diversas referências da arte contemporânea, da moda e da música para celebrar um imaginário brasileiro além das obviedades.

É o trabalho mais colaborativo de Ava, que convidou aqui mais de 30 nomes, das diversas vertentes e estilos, entre elas Tulipa Ruiz, Linn da Quebrada, Juçara Marçal, Iara Rennó, Negro Leo, Curumin e Domenico Lancelloti.

O novo álbum traz novamente o olhar da artistas para questões do tempo presente com segregação racial, diáspora, identidade indígena, urbanidade e feminismo. Aparentemente desconexas, tais questões surgem como bricolagens nessa papa musical de Ava, potencializada por uma sonoridade cheia de intervenções, uma obra aberta feita de maneira coletiva, quase como um fluxo de consciência.

Nesse sentido, Trança tem uma proposta mais ousada que o anterior, Ava Patrya Yndia Yracema (2015), que era mais coeso e esteticamente marcado. Este novo tem uma essência mais tribal, ritualística, com coros sobrepujando instrumentos, batidas ritmadas e certo senso de tumulto.

O bojo de referências também aumentou, indo do funk com ecos afropunks de “Joana Dark” ao samba de “Anjo do Bem”, passando pelo xamanismo de “Lilith”. Construído ao longo de toda a narrativa do álbum está a força das mulheres, deixando claro uma base feminista e feminina no disco.

O disco faz referência ao trabalho do artista Tunga (1952-2016), cujos famosos trançados serviam como alegoria de um fluxo de ideias em constante transformação. Assim é Ava, uma artista em constante metamorfose e que agrega em suas tranças toda sorte de desconstruções.

AVA ROCHA
Trança
[Circus, 2018]
Produzido por Eduardo Manso e Fabiano França

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