Usina de Arte inaugura “Fall of the Giants” e fortalece debate sobre altos e baixos de civilizações

Instalação dos artistas franceses Anne e Patrick Poirier reflete sobre momentos históricos do ciclo do açúcar

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Instalações artísticas abordam conflitos geopolíticos (Divulgação)

Em um novo ato na trilha de reflexões que tem provocado sobre os legados das civilizações, em especial a açucareira, que marca notadamente a sua história e geografia, a Usina de Arte incorpora ao seu acervo a instalação “Fall of the Giants” (Queda de Gigantes), dos artistas franceses Anne e Patrick Poirier. Com inauguração no próximo dia 27, às 16h, o conjunto de esculturas que compõem a obra ganha residência permanente no Parque Artístico-Botânico do projeto, em Água Preta.

O casal de artistas utiliza a força questionadora sobre a memória e a fragilidade das civilizações dos seus trabalhos, a partir da estética da ruína, como gatilhos interpretativos da relação entre passado e presente. Desenvolvida entre 1988 e 1989 para a Storm King Art Center, a obra aterrissa na Zona da Mata Sul pernambucana, uma das principais regiões geopolíticas produtoras da cana-de-açúcar do País, que viabilizou o projeto colonial no Brasil.

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O conjunto escultórico de oito peças dispostas de forma teatral, traz colunas, setas e olho, estão em um ambiente para o qual foram pensados: ao ar livre, em meio e em sintonia à natureza. Para isso, foram construídas com materiais resistentes às condições expositivas, como aço inoxidável e mármore.

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“Nosso trabalho preocupa-se com a ideia de fragilidade. Seja ela da memória, cultural, natureza ou humanidade. Para expressar esse sentimento, usamos todos os tipos de materiais, imagens e metáforas. E entre as nossas metáforas favoritas estão as ruins. Arquiteturas ou esculturas quebradas são as imagens mais evidentes dessa fragilidade”, explica o casal.

Arte como plataforma de reflexão sociopolítica e histórica

“A Usina de Arte está em conexão com a comunidade, abrigando obras de artistas que trazem temas políticos muito importantes. Como por exemplo, a ‘Faixa de Gaza’ de Georgia Kyriakakis, em que se discute a violência e a guerra histórica travada entre palestinos e israelenses; ‘Brasil 2017’ de Paulo Bruscky, sobre a dificuldade de acesso à cultura ao povo, ‘Tempo, Templo’ de Bené Fonteles que aborda as questões ligadas à formação plural do povo brasileiro, e, mais recentemente tivemos a inauguração de ‘Claro-Escuro’, do chileno Alfredo Jaar, jogando luz sobre os perigos das transições civilizacionais”, analisa o curador da Usina de Arte, Marc Pottier.

Segundo ele, desse modo, Anne e Patrick Poirier também vêm para estabelecer essa conexão com a Usina, nessa instalação estrutural que explora o mundo que caiu.

Para a presidente da Usina de Arte, Bruna Pessôa de Queiroz, enquanto um equipamento cultural, a Usina de Arte traz naturalmente nas suas proposições artísticas instrumentos para pensar criticamente seu entorno e seu contexto socioeconômico. “‘Fall of the Giants’ se conecta com uma plataforma de obras do nosso acervo que revisitam esse debate civilizacional, em especial a do açúcar, pensando nos paradoxos da dinâmica do campo, do trabalho, das ruínas, do abandono”.

É, a propósito, considerando a noção de ruína como mecanismo de construção, resgate e debate histórico, que a Usina de Arte incorporou os antigos prédios da destilaria de álcool e usina de açúcar como espaços expositivos do seu acervo, como um anexo do Parque Artístico-Botânico. Em setembro do ano passado, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) deu início ao processo de tombamento do conjunto arquitetônico da Usina Santa Terezinha, incluindo a Área Operacional e a antiga Vila Operária.