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Tagore produz memória nostálgica da música pernambucana em “Barra de Jangada”

Disco é uma homenagem ao guitarrista Paulo Rafael e suas colaborações com Alceu Valença

Tagore produz memória nostálgica da música pernambucana em “Barra de Jangada”
3.7

Tagore
Barra de Jangada
Selo Estelita, 2024, Gênero: MPB, Alternativo


A colaboração entre Paulo Rafael e Alceu Valença durante os anos 1980 produziu canções que, hoje, são tidas como clássicos. “Tropicana”, “Como Dois Animais”, “Coração Bobo” e, talvez a mais famosa, “Anunciação” são algumas das músicas nascidas da parceria entre os dois músicos. A memória nostálgica dessa parceria é a ideia central de Barra de Jangada, quarto álbum de Tagore.

Apesar do trabalho de Paulo Rafael realmente ter deixado um legado na música de Pernambuco através da discografia de Alceu, a sua guitarra não é algo que tem um protagonismo nas canções, sobressaindo-se mais em “Anunciação”. O que Tagore faz, no entanto, é elevar a potência do estilo da guitarra de Paulo Rafael em suas canções, de um jeito que a guitarra se torna protagonista do álbum ao lado de sua voz. O trabalho do guitarrista Arthur Dossa acaba se tornando o elemento principal na construção da sonoridade do álbum pelo fato das harmonias da guitarra guiarem as músicas como um todo.

Na produção, Barra de Jangada segue se aprofundando nas referências à produção oitentista de Alceu Valença, com as referências da faixa homônima do disco “Como Dois Animais” e a “Solidão”, mas também em “Países e Emoções” – um dos destaques do disco -, que apresenta muitas semelhanças com “Anunciação”.

Um ponto diferente no trabalho de Tagore é a substituição de elementos do forró e do frevo – que tinham muito peso nas produções de Alceu – para dar espaço ao brega presente em “Sargaços” e “Destino Ligeiro”. Essa mudança faz com que o álbum soe como álbum mais contemporâneo apesar de estar com os pés fincados em referências de 40 anos atrás.

Ainda entre todas as influências que parecem fazer parte de Barra de Jangada, o álbum não se apresenta como algo acelerado; pelo contrário, a parte mais envolvente na escuta do disco é se deixar levar pelos sintetizadores casados à guitarra, e isso se mantém em quase todas as faixas, exceto por “Maré Minina”, que inclusive conta a participação de Juba Valença, filho de Alceu. Mesmo que a faixa não seja completamente diferente das outras na sua produção, ela parece destoar por conta do ritmo acelerado, mas não como algo que chame mais atenção do que a coesão do trabalho completo.

Tagore.
(Foto: Vinicius Lezo/ Divulgação)

Nas letras – quase todas assinadas por Tagore – é possível notar a similaridade com o universo lírico que é característico da música nordestina, não só de Alceu, mas também Zé Ramalho, com os amores, a infância e o sexo sendo seus temas recorrentes.

Como um trabalho que se propõe a homenagear um certo período da música, Tagore acerta em deixar claro quais são suas inspirações musicais. Se abrir sobre suas inspirações permite que ele se aprofunde nas suas referências sem precisar temer que apontem as semelhanças entre sua música e dos artistas que o motivaram, e, além de tudo, ele consegue inserir suas personalidade em um disco que consagra o trabalho de outros.

Ouça Barra de Jangada, de Tagore

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