scorpio rising
Foto: Reprodução/Mubi.

Scorpio Rising: o mais fantástico, deslumbrante e assombroso filme de toda a história do cinema

O fascínio e o assombro das imagens perturbadoras e deslumbrantes que Kenneth Anger entrelaça de modo desavergonhadamente perverso

Especial para a Revista O Grito!

Não lembro em que contexto vi Scorpio Rising pela primeira vez, mas causou tanto espanto quanto nas vezes seguintes. E foram muitas. Esse filme não cansa de me causar espanto.  A mínima desculpa serve para passá-lo em aula ou para amigas e amigos que ainda não conhecem. Ou que conhecem, mas precisam revê-lo. E sempre precisam. 

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É um objeto único. Começa enfileirando pérolas do rock’n’roll juvenil da primeira metade dos anos 1960 sobre imagens sensuais de selvagens da motocicleta em suas garagens, em seus quartos. Lustrando motos, lustrando botas. Exibindo músculos, usando couro, usando drogas, flertando com a morte.

Logo saem de casa e estão em uma festa. Em montagem paralela, vemos imagens de Jesus açoitando vendilhões, discutindo com apóstolos, dando sermões agressivos – imagens retiradas de filmes direcionados às escolas de catequese da época. He’s a rebel and he’ll never be understood na trilha sonora, Jesus se anima em violência, mesclando-se às imagens documentais da festa dos motociclistas enquanto estes começam a despir-se agressivamente uns aos outros e simular sexo.

Scorpio Rising.

Ainda sob o som dos hits inocentes da época, uma outra sequência se junta às anteriores: um motociclista adentra uma igreja, metralhadoras em punho, e começa a profanar móveis e livros. Urina em seu próprio capacete e consagra o espaço atirando o líquido à sua volta.

O filme intercala a sequência com imagens de batalhões e símbolos nazistas e logo estamos de volta aos motociclistas sobre suas motos, agora entre disputas, manobras e acidentes. A montagem acelera trazendo de volta orgia gay, Jesus, Hitler, violência, correntes, couro, sirenes e um ápice de morte iminente e estridente que termina por ocupar todo o espaço disponível.

Ao fim de cada uma das vezes fica o fascínio e o assombro com a pletora de imagens perturbadoras e deslumbrantes que Kenneth Anger entrelaça de modo desavergonhadamente perverso. Como que diante da esfinge – os sentidos das imagens sempre inalcançáveis – este espectador é deixado ao devaneio de uma experiência sensorial e afetiva potente como poucas.

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