Oscar 2022: Tapa de Will Smith, poder do streaming e poucas surpresas marcaram a premiação

Coda - No Ritmo do Coração levou o prêmio de melhor filme e se consagrou como o primeiro longa do streaming a levar o prêmio máximo da Academia

will
Will Smith dá tapa em Chris Rock. (Foto: Reprodução/TNT).

A cerimônia do Oscar aconteceu neste domingo (27) e premiou Coda – No Ritmo do Coração, o primeiro filme de uma plataforma de streaming a levar o prêmio máximo da Academia. O longa sobre uma família de surdos levou ainda os troféus de melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur.

No geral, a cerimônia apresentada por Wanda Sykes, Amy Schuemer e Regina Hall, até retomou o dinamismo com boas piadas e introduções, mas em geral foi morno na entrega dos prêmios. A noite não contou com nenhuma surpresa entre os vitoriosos, com quase todos os favoritos se confirmando.

O tapa de Will Smith em Chris Rock foi, talvez, o ponto gravitacional da cerimônia do Oscar 2022. O ator venceu o prêmio de melhor ator por sua atuação em King Richard – Criando Campeãs, mas chamou atenção por responder com agressão a uma piada feita com sua mulher, Jada Pinket-Smith, que sofre de alopecia, uma doença auto-imune que causa sérios problemas de calvície.

Chris Rock, que entregou o troféu de melhor documentário para Summer Of Soul a Questlove, comparou Jada com Demi Moore no filme Até o Limite da Honra (1997) – G.I. Jane no original. “Deixe o nome da minha mulher fora da porra da sua boca”, gritou Smith após agredir o colega e retornar ao seu assento. A transmissão da TV americana chegou a cortar o palavrão, mas exibiu o momento do tapa. A situação foi tão inusitada que por algum momento chegou a se pensar se tratar de uma situação encenada. Mas a Academia logo confirmou que o ato não estava em seu roteiro.

Smith fez um discurso emocionado ao receber o prêmio de melhor ator. Chegou a pedir desculpas pela atitude e lembrou a importância do filme na luta antiracista e da dificuldade de ser um artista negro na indústria cinematográfica.

Jessica Chastain ganhou como melhor atriz por Os Olhos de Tammy Faye e destacou em seu discurso a importância de falar sobre a saúde mental, sobretudo relacionado às pessoas da comunidade LGBTQIA+. O Oscar de melhor atriz coadjuvante foi para Ariana DeBose, de Amor Sublime Amor, a primeiro mulher afro-latina e queer a vencer o prêmio.

Billie Eilish, ao lado do irmão Finneas, foi a vencedora na categoria de melhor canção por “No Time To Die”, trilha do mais recente longa de 007. A artista fez ainda uma apresentação ao vivo da canção.

Nas categorias de roteiro, nenhuma surpresa. Os favoritos Belfast, como roteiro original, e Coda, como roteiro adaptado, foram os vencedores.

Jane Campion confirmou o seu favoritismo e ganhou melhor direção. Ela se tornou a primeira mulher a ser indicada duas vezes ao Oscar de melhor direção – o anterior foi por O Piano (1994).

Olhando pra frente

O Oscar 2022 tinha como maior missão retomar a sua relevância como premiação da indústria do cinema e, talvez, amealhar novos públicos, que já não veem na premiação o mesmo poder que gerações passadas sempre outorgaram ao prêmio. Em um momento em que salas de cinema sofrem para se recuperar após mais de um ano fechadas por conta da Covid, o streaming chega ao maior evento da temporada de prêmios como um espaço revitalizado de experiências cinematográficas. Foi bem sintomático que Coda – No Ritmo do Coração, um filme da AppleTV+ (aqui no Brasil exibido no Prime Video) tenha vencido o Oscar de melhor filme. Entra para a história como o primeiro longa de uma plataforma de streaming a vencer o prêmio máximo.

A premiação vinha relutando a reconhecer o streaming como um espaço legítimo de experiência fílmica e só passou a indicar filmes das plataformas por muita pressão de empresas como Netflix. Longas como Roma, O Irlandês e Mank foram algumas das produções pensadas para fazer bonito na intensa e concorrida temporada de premiações. A cada ano, a Netflix investe cada vez mais nesse reconhecimento: este ano foram nada menos que 11 filmes na disputa. Mas a plataforma nunca ganhou o Oscar de melhor filme.

Ataque dos Cães chegou a ter muita chance e chegou a ser o favorito até que Coda – No Ritmo do Coração, com seu estilo “feel good movie” arrebatar os corações dos votantes.

Além da AppleTV+ e Netflix, outras plataformas como Amazon Prime Video, Hulu e Disney+ também tiveram filmes em disputa. Ainda mais fortalecidas durante a pandemia, as empresas de streaming miraram no Oscar como forma de estabelecer um espaço de prestígio dentro da indústria. Já o longa que tirou as salas de cinema presencial do sufoco foi totalmente esnobado na premiação: Homem-Aranha Sem Volta Pra Casa ganhou apenas indicação na categoria Efeitos Visuais (e perdeu para Duna). Falando em Duna, o longa de Dennis Villeneuve faturou seis Oscars técnicos e nem chegou a ser indicado a melhor direção, o que mostra uma miopia da Academia em reconhecer os filmes arrasa-quarteirão, de grande orçamento.

Essa conta não fecha: os filmes mais artísticos, de menor orçamento, seguem encontrando espaço no streaming, um espaço ainda esnobado pela Academia. Por outro lado, o circuito exibidor vai encontrar no cinemão sua bóia de sobrevivência, ao menos nesse período de recuperação pós-pandemia. Se o Oscar quiser reativar sua relevância e se reconectar com um novo público, é necessário abrir sua mente para essas novas dinâmicas da indústria e passar a enxergar bons filmes não importa onde estejam.