Lady Gaga
Mayhem
Interscope Records/ 2024. Gênero: Pop, Rock
O Mayhem é o sétimo álbum solo de Lady Gaga e, assim como tudo que ela faz, esteve coberto de expectativas desde que ela lançou “Disease”, o primeiro single. Diferente dos outros grandes nomes do pop, tudo que Gaga faz – musicalmente falando – é cercado de uma nostalgia que vem não só dos fãs, mas também do público geral que a conheceu através dos figurinos exagerados e do tom provocativo durante os anos entre o The Fame (2008) e o ARTPOP (2013). Todos esperavam (ou ainda esperam) o momento em que a Gaga “antiga” voltaria.
No entanto, os rumos da carreira da artista novaiorquina foram outros, muito além do que qualquer fã poderia esperar, e não só na música (onde houve migrações para o jazz e o country), mas nas artes como um todo. E ao contrário do que normalmente acontece, as especulações sobre seu retorno ao Pop não aquietaram, mas tornaram-se mais comuns. Agora, o Mayhem traz a resposta para dizer que, na verdade, ela não vai voltar.
Nas entrevistas de Gaga para o Apple Music e para o New York Times, a cantora se debruça sobre o início de sua vida artística, o processo de surgimento da persona Lady Gaga, e sobre como esse álbum é sobre um “resgate” do que Lady Gaga realmente significa, e isso passa um pouco longe do que ela nos apresentou anos atrás.
O Mayhem caminha por lado mais próximo da psicodelia, quase sempre perto do rock e dos artistas adorados pela própria Gaga – Prince e David Bowie – e brevemente próximo da disco, com guitarras marcadas e sintetizadores suaves, como na deliciosa “Killah” – que traz um lado diferente de Gesalffestein -, ou num tom mais pesado como “Perfect Celebrity”, que explode no refrão. Apesar da nova direção, o álbum ainda faz referências ao passado, como na interpolação da melodia de “Bad Romance” incorporada ao refrão de “Garden Of Eden”.

Pensando na linha sonora que o disco segue, os seus dois singles principais, “Disease” e “Abracadabra”, parecem soltos dentro do álbum, além de terem servido como “iscas” um tanto quanto ilusórias sobre quais os caminhos que o disco tomaria. Aqui, me parece que as trocas bruscas de gênero prometidas pela própria Gaga se limitam a estes dois momentos, que não fazem sentido, apesar de ambas serem ótimas faixas.
Pontuando outra vez o “resgate” que o disco faz, também há o empenho em mostrar uma Lady Gaga bem mais lúcida, o que também parece ser uma aproximação da persona com a pessoa por trás dela. Grande parte do álbum é sobre o relacionamento da artista com o empresário Michael Polansky, que tem uma música explicitamente dedicada a ele, “Blade Of Grass”. Esse lado romântico, embora importante na narrativa do disco, ocupa tempo demais, principalmente quando o álbum oferece vislumbres tão interessantes dos pensamentos de Gaga sobre sua carreira.
Dentro dessas irregularidades, Mayhem soa como um trabalho maduro e coerente nas referências, independentemente daquilo que fosse esperado dele ou do trabalho de Lady Gaga como um todo. Sinceramente, o disco chega como um atestado daquilo que a transformou em uma estrela: sua capacidade de reinvenção e mudança.

Ouça Mayhem, de Lady Gaga
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