Livro reúne clássicos do humor brasileiro nas HQs nos anos 1980 e 90

circo
Fotos: Divulgação/Sesi.
Fotos: Divulgação/Sesi.
Fotos: Divulgação/Sesi.

O Sesi de São Paulo recupera este mês um dos momentos mais importantes dos quadrinhos brasileiros com o lançamento da coletânea Humor Paulistano – A Experiência da Circo Editorial (1984 – 1995) que reúne HQs que saíram pela Circo Editorial, cuja produção em bancas revelou nomes como Glauco, Laerte, Luiz Gê e Angeli. Nos anos 1980, a editora era uma espécie de resistência frente ao domínio das comics norte-americanas.

Como explica o texto de lançamento da coletânea, a HQ no Brasil teve seu auge com a chegada da produção estrangeira. “O auge das HQs no Brasil teve lugar no momento em que editoras como a Abril e a Globo passaram a negociar fortemente como os syndicates, as agências estrangeiras especializadas na venda de quadrinhos, como o King Feature Syndicate, Warner Brother/ Western Printing & Lithographing Company, entre muitos outros. Aliás, foi graças ao Pato Donald que a Editora Abril lançou-se no mercado, transformando-se na grande corporação que é hoje.”

Edição de luxo que chega às livrarias é biblioteca básica das HQs brasileiras (Divulgação/Sesi).
Edição de luxo que chega às livrarias é biblioteca básica das HQs brasileiras (Divulgação/Sesi).

Desde o século 19, brasileiros consumiam charges e caricaturas publicadas nos jornais e revistas. O marco considerado como o início das histórias em quadrinhos aconteceu em 1869 com a publicação, na revista Vida Fluminense, de As Aventuras de Nhô Quim, de Angelo Agostini, um italiano radicado no Brasil. Mas, o que não existia era um mercado consolidado, com um modelo de negócios, a exemplo do que acontecia nos EUA, Japão e Itália.

No início dos anos 1980 surge um nome ainda hoje pouco conhecido, mas importante para a produção de quadrinhos no Brasil nas décadas seguintes, Toninho Mendes. Foi ele o responsável por levar para as bancas as revistas Chiclete com Banana, Circo e Piratas do Tietê. Apesar de serem famosos por causa das tiras publicadas na Folha de S. Paulo, as revistas foram além com trabalhos mais ousados e fizeram a fama de personagens como Rê Bordosa.

circo4

Sucesso underground

Tidos como heróis do underground dos quadrinhos – quando comparados com os heróis da Marvel e com os bichos humanizados da Disney – as revistas da Circo eram sucesso de vendas em bancas. Ivan Finotti, nesse novo livro do Sesi, lembra que a edição com a morte de Rê Bordosa, em dezembro de 1987, teve 100 mil exemplares. O encalhe foi de apenas 83 revistas. Hoje em dia, até mesmo títulos conhecidos não alcançam essa marca.

A Circo ainda publicava quadrinhos de Paulo Caruso, Níquel Náusea, de Fernando Gonsales, Rango, de Edgar Vasques, Alcy e Luiz Gê.

Surgida em 1984, a Circo viveu rápido seu auge. A editora sofreu com a inflação e Toninho se viu obrigado a atuar em outras frentes, em 1991 – foi um dos responsável pela reforma gráfica que introduziu cor no O Estado de S. Paulo. Sem o pique inicial, o editor tentou negociar como pôde o encalhe das revistas. No início dos anos 1990, a Circo mandava revistas de volta às bancas com promoções, pacotes, o que desvalorizou o produto.

Sem conseguir manter o espaço onde mantinha a editora, entregou todo o estoque para o galpão de um amigo. Em 1999, uma das maiores enchentes da cidade de São Paulo destruiu a maior parte do material. Em 2000, a Jacarandá, em parceria com a Devir, passou a editar em formato livro autores da Circo, como Laerte. Em 2006 foi a vez da L&PM. Em 2010, a Peixe Grande soltou seis livros, de baixíssima tiragem, com autores da editora.

circo3

Clássico

A edição que chega agora pela editora do Sesi-SP é a mais completa já lançada. São 432 páginas com a trajetória da Circo. Além dos quadrinhos, textos de introdução abrem cada capítulo, contextualizando as críticas sociais do período, as drogas e o estilo dos autores.

“Esta é a magia da Circo, ela veio para ser o que fosse – ninguém estava a fim de nada sério, ou de mudar, de impor conceitos”, disse Toninho Mendes, no Sesi. “Todos eles juntos eram um bicho. Todo mundo criado na ditadura, com um arquivo morto que não podiam publicar. E isso desembocou comigo, não é que fiz as coisas que
prestam, eu apenas estava lá. Não tenho culpa se tenho tantos amigos gênios”.

A edição é imprescindível em toda coleção de quadrinhos que se preze. O livro está sendo distribuído em livrarias e custa R$ 120.

circo2