HQs do Orgulho: Carol Almeida indica Fun Home, de Alison Bechdel

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Para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+ convidamos artistas, editores e demais profissionais ligados aos quadrinhos para indicarem obras com conteúdos ligados à diversidade sexual e de gênero.


HQs do Orgulho
Amanda Miranda indica Lalo, Diana Salu e QueNuncaAcaba
Alexandre Figueirôa indica Bendita Cura
Lima Neto indica O Marido do Meu Irmão
Dandara Palankof indica Estranhos no Paraíso
Mário César indica Renata Nolasco e Ralf König
Carol Almeida indica Fun Home, de Alison Bechdel
Alessandra Costa indica Histórias Quentinhas Sobre Sair do Armário
Aline Zouvi indica Aline Lemos e Kael Vitorelo


Carol Almeida, jornalista, pesquisadora e uma das editoras da Plaf

Fun Home, de Alison Bechdel

Desde sua publicação original, em 2006, Fun Home teve uma trajetória atípica para qualquer publicação em quadrinhos: além de ganhar o prêmio Eisner, o “Oscar” das HQs, ganhou, pelo menos, 10 diferentes traduções no mundo, incluindo a versão brasileira, e chegou aos palcos da Broadway como uma adaptação musical que levou nada menos que cinco prêmios Tony em 2015.

Apesar de ser tão elogiada pelas demais obras que assina, tanto no caso do livro sobre a mãe, na peça e nas suas famosas tirinhas Dykes to watch out for, foi com Fun Home que Bechdel escalou o mais alto degrau da combinação forma/conteúdo. A maneira como ela sutilmente se usa dos recursos gráficos dos quadrinhos para dar textura sensível às memórias sobre seu pai, um homem apaixonado por outros homens, enquanto ela se descobria uma menina que viria a se apaixonar por outras meninas, é algo que vi sendo subestimado ao longo dos anos.

Numa mirada rápida, parece que Bechdel trabalha em cima de um grau de controle bastante linear e clássico sobre a errância da memória na qual se fundaria o gênero literário dos diários. Mas isso que ela dispõe sobre as páginas como uma colagem convencional de fragmentos e, por vezes até didáticos e ilustrativos de algumas teses pré-formadas sobre seu pai e sobre ela mesma, trata-se, na verdade, de uma sofisticada arquitetura narrativa.

À medida que se avança no álbum, a história tende a pôr os personagens em xeque. Bechdel não precisa de que confiemos em sua “versão da história”, porque ela mesma se abre às brechas das criações que fazemos quando construímos memória.

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Carol Almeida é doutora em comunicação pela UFPE, jornalista, editora e crítica de cinema. Assina o blog Fora de Quadro. É uma das editoras da revista Plaf. Siga no Twitter.