Gabriel García Márquez foi militante do jornalismo na América Latina

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Gabo na redação de jornal em 1995. (Divulgação/FNPI).
Foto: Reprodução via FNPI.
Foto: Reprodução via FNPI.

“Ainda que se sofra como um cão, não há profissão melhor que o jornalismo.” A frase atribuída à Gabriel García Márquez dá ideia da importância que o escritor dava à profissão que exerceu e lembra da relação quixotesca que jornalistas sempre despertaram em relação à profissão.

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Gabo, morto nesta quinta (17) vítima de câncer, foi um militante da importância do jornalismo para as sociedades democráticas, sobretudo na América Latina, terra que penou ao longo da segunda metade do século 20 com ditaduras em quase todos os países. Anos depois de vencer o prêmio Nobel da Paz em 1982, o autor foi morar na Cidade do México, onde criou a Fundação García Márquez para El Nuevo Periodismo.

A fundação realiza cursos, seminários e já teve até um prêmio internacional. “Nossa proposta é fazer uma pausa na formação acadêmica e voltar ao sistema primário das oficinas práticas formada por pequenos grupos, com um aproveitamento crítico das experiências histórias e em seu marco original de serviço público”.

Gabo também serviu para dar moral a um ofício que sempre foi colocado na berlinda. Ele escreveu o artigo “A Melhor Profissão do Mundo“, em outubro de 1996, publicado por jornais norte-americanos. Em seu longo texto, ele faz diversas reflexões sobre a profissão, além de fazer um apanhado histórico. Comenta as mudanças tecnológicas que mudaram o modo de trabalhar nas redações, as questões éticas que precisaram se atualizar ao longo dos anos e a importância para a democracia.

Gabo na redação de jornal em 1995. (Divulgação/FNPI).
Gabo na redação de jornal em 1995. (Divulgação/FNPI).

“Talvez a desgraça das faculdades de Comunicação Social seja ensinar muitas coisas úteis para a profissão, porém muito pouco da profissão propriamente dita. Claro que devem persistir em seus programas humanísticos, embora menos ambiciosos e peremptórios, para ajudar a constituir a base cultural que os alunos não trazem do curso secundário”, escreveu, em uma das suas muitas críticas ao método de ensino das escolas de jornalismo.

Durante uma sessão da assembleia da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Los Angeles, em 1996, ele respondeu a uma estudante universitária que perguntou se era preciso vocação para o jornalismo. A resposta foi enfática: “Os jornalistas não são artistas”. Seu trabalho na comunicação mostrou que o jornalismo é um gênero literário feito por gente que trabalha com informação.

“Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”, escreveu.

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