Expo As Meninas do Quarto 28, sobre meninas judias aprisionadas, chega ao Recife

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A réplica do quarto em que as crianças judias ficaram aprisionadas, exibida na exposição. Foto: Felipe Aca/Divulgação.

A Galeria Janete Costa, no Recife, recebe a exposição internacional As Meninas do Quarto 28. A mostra fará sua estreia no Nordeste no próximo dia 11, apresentando desenhos de meninas judias presas em campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

A mostra relata o dia a dia de cerca de 50 meninas que viveram por dois anos no campo de concentração de Theresienstadt, na República Tcheca, durante a Segunda Guerra Mundial. Com entrada franca, a exposição fica em cartaz até 29 de outubro.

Vista por mais de 40 mil pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília, a mostra, que chegou ao Brasil após passar por diversos países da Europa e Israel, é uma adaptação do livro da jornalista alemã Hannelore Brenner. A exposição contém 50 desenhos e uma réplica de 18 metros quadrados do quarto em que as crianças judias ficaram aprisionadas, além de painéis com detalhes históricos da época.

Brasil

Não foi à toa que Hannelore Brenner, a idealizadora e detentora dos direitos da exposição e autora do livro As Meninas do Quarto 28, lançado pela Editora LeYa, incluiu o capítulo “Ecos Tardios do Brasil” em sua obra. A relação entre o país e essa história foi estreitada por Erika Stránská, filha do primeiro casamento do judeu George Stransky. Em 1938, a mãe deixou Erika aos cuidados do pai para sair em busca de melhores condições de vida na Inglaterra. George acabou se apaixonando por Valeria, então primeira bailarina do Teatro de Viena, com quem se casou e teve Monika, sete anos mais jovem que a meia-irmã.

As duas costumavam brincar juntas até que Erika e seu pai foram levados para campos de concentração mantidos pelo regime nazista. Ele foi para um campo de trabalho forçado e Erika foi encaminhada para Theresienstadt, mais precisamente para o Quarto 28. Enquanto a mãe e a filha mais nova se refugiaram na pequena Boskov, George conseguiu escapar do campo de trabalho e ir ao encontro delas. Após o final da guerra, ele começou a procurar por Erika, chegando, inclusive, a ir até a Suíça atrás de uma pista de seu paradeiro. Mas acabou descobrindo que sua filha mais velha tinha sido deportada para Auschwitz, onde foi morta numa câmara de gás.

Após a tragédia, a família tentou retomar a vida da maneira que podia e, em 1946, mudou-se para São Paulo. Alguns anos depois, a caçula se casou com Gregorio Zolko, criando seu próprio clã: as filhas Sandra e Karen Zolko e os netos André, Adriana e Lara. Em 1974, viajaram para a antiga Tchecoslováquia (que se desmembrou em República Tcheca e Eslováquia) e, durante um passeio pelo Museu Judaico de Praga, visitaram uma exposição de desenhos de crianças feitos durante a Segunda Guerra no campo de concentração de Theresienstadt. A enorme surpresa se deu quando Monika reconheceu a assinatura da sua irmã, Erika Stránská, em um deles. Começou, então, a busca por detalhes de como teria sido a sua vida. Mas quase nada foi descoberto naquela época devido ao regime comunista que vigorava.

Em 2012, incentivada por um amigo, Karen Zolko resolveu mais uma vez procurar informações sobre o paradeiro da meia-irmã de sua mãe. Com a dissolução da Tchecoslováquia e as facilidades da internet, a brasileira conseguiu entrar em contato com o diretor do museu e descobriu que lá não estava apenas um desenho de Érika, mas sim 30 deles. “Montar esse quebra-cabeça era um presente que eu queria dar para a minha mãe. Consegui 70 anos depois, com a ajuda fundamental de amigos e familiares”, conta Karen Zolko.

Além de um link para acessar as imagens, o diretor do museu mandou uma lista de contatos de pessoas que poderiam ajudar com mais informações sobre a história. Uma delas era a jornalista Hannelore Brenner, que trocou dados e documentos com a brasileira e mostrou para a família que Erika era uma das meninas que morou no Quarto 28. Dessa ligação surgiu uma amizade e a ideia de trazer a exposição para o Brasil. “Nosso objetivo agora é levá-la para mais capitais do país e, quem sabe, ajudar outras famílias a conhecer e finalizar suas histórias pessoais, como aconteceu com a minha”, revela Karen.

A visitação acontece de 11 de agosto a 29 de outubro. A Galeria Janete Costa (Parque Dona Lindu) fica na Av. Boa Viagem, s/n, Boa Viagem. Entrada gratuita