Espetáculo “Àwọn Irúgbin” marca início da programação da Ocupação Espaço O Poste, no Recife

Montagem é fruto de residência artística com jovens da Região Metropolitana e apresenta dramaturgia autoral baseada em vivências e ancestralidade negra e indígena

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Foto: Samuel Santos/Divulgação.

A Ocupação Espaço O Poste dá início à sua programação cultural em 2025 com a temporada do espetáculo teatral Àwọn Irúgbin, produção do núcleo de pesquisa O Postinho, voltado para crianças e jovens. As apresentações ocorrem sempre às sextas-feiras e aos sábados do mês de maio, às 19h, no Espaço O Poste, localizado na Rua do Riachuelo, nº 641, bairro da Boa Vista, no centro do Recife. A entrada custa R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira), com vendas antecipadas pela internet.

A montagem, cujo título significa “sementes” na língua yorubá — falada principalmente na Nigéria —, reúne oito sessões nos dias 9, 10, 16, 17, 23, 24, 30 e 31 de maio. Dirigida por Samuel Santos, a peça é encenada por Cecília Chá, Larissa Lira, Sthe Vieira e Thallis Ítalo, jovens artistas que participaram por dois anos de uma residência artística no Espaço O Poste.

De acordo com o diretor Samuel Santos, o espetáculo “reúne cenas que interpretam personagens e vivências da negritude em diversos contextos, tocando em pontos como as noites dos bailes charmes, transformação social, identidade racial e visibilidade da mulher negra, com a operação de som e de luz ao vivo, realizada pelo próprio elenco”. Ainda segundo ele, “as histórias se entrelaçam simbolizando ‘sementes ancestrais’ trazidas no corpo negro”.

Samuel Santos foto. A Ocupacao Espaco O Poste tem o incentivo publico do programa Funarte de Apoio a Acoes Continuadas 2023 Espacos Artisticos
Foto: Samuel Santos/Divulgação.

A narrativa acompanha diferentes personagens, entre eles uma jovem negra que encontra uma Iriti (esperança) e busca ser ouvida em um mundo que a silencia, descobrindo referências ancestrais que a fortalecem. Outro eixo acompanha a trajetória de uma jovem indígena em processo de retomada, em busca de pertencimento em uma sociedade que apaga sua existência. A peça também destaca a presença das mulheres mais velhas por meio das memórias familiares e, por fim, narra o percurso de um jovem em busca da compreensão sobre a cor de sua pele e as raízes que carrega, até encontrar respostas no “caminho das águas”.

A dramaturgia da peça é construída a partir do conceito de Escrevivência, da escritora Conceição Evaristo, em diálogo com os conceitos de Tempo Espiralar e Encruzilhada, elaborados pela pesquisadora Leda Maria Martins. O espetáculo se ancora na noção de que “é preciso a imagem para recuperar a identidade”, como afirmou a historiadora Beatriz Nascimento.

“Cada cena da peça brota da própria vida e da ancestralidade negra. Ela une escrevivências, identidade e força ancestral em cenas”, destaca Samuel Santos. O diretor complementa que as dramaturgias “criam lugares de protagonismo para jovens negros e indígenas. São cenas, histórias e interpretações de jovens que evocam, através desse corpo-tela espiralar, as suas origens ancestrais, onde passado, presente e futuro se fundem; começo, presente e futuro são presentificados em ‘in-corpo-ações’, como nos terreiros de matrizes africanas e indígenas”.