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Baby do Brasil, Pepeu Gomes e Paulinho são hoje os três membros restantes do Novos Baianos. (Foto: Divulgação).

Uma conversa com Pepeu Gomes, dos Novos Baianos: “Temos a mesma energia de quando gravamos o Acabou Chorare”

Grupo retorna aos palcos e faz show no Baile da Macuca. Dono de um dos maiores clássicos da MPB, Papeu diz que trabalho inédito da banda está a caminho

Pepeu Gomes é um dos mais emblemáticos músicos do Brasil: cantor, herói da guitarra elétrica, violonista, multi-instrumentista e compositor, astro pop com muitos sucessos de rádio, o eterno novo baiano se prepara para apresentação, nesta sexta-feira (2), no Baile da Macuca, uma das prévias de Carnaval mais aguardadas pelo público em Pernambuco, que ocorre no Clube Português, no Recife.

Arnaldo Antunes e Criolo, além de Céu e Uana entram na escalação sob o comando da Orquestra Frevo do Mundo. DJ Luana e a Orquestra do Maestro Oséas completam as atrações da edição 2024 do baile.

Os Novos Baianos marcaram mais que uma geração e continua a servir como referência para quem veio depois, adotando um mix de rock e ritmos brasileiros como samba, choro, MPB e bossa nova. “As canções mesmo tendo um tempo de vida, permanecem atuais”, destaca Pedro Anibal de Oliveira Gomes, que completa 72 anos no próximo dia 7 de fevereiro.

O mundo mudou, a música mudou, mas ele ainda se sente como aquele garoto de 17 anos que subiu ao palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, com a missão de acompanhar Caetano Veloso e Gilberto Gil no show “Barra 69”.

Quando tinha menos de 20 anos, Pepeu formou o grupo Novos Baianos ao lado de outros nomes que se tornariam conhecidos, como Baby do Brasil (com quem foi casado), Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão, Moraes Moreira, Jorginho Gomes e Dadi Carvalho. Em 1972, a banda lançou o clássico disco Acabou Chorare, considerado um marco da música brasileira.

O primeiro fim dos Novos Baianos, em 1979, empurrou Pepeu para a carreira solo. Em pouco tempo, ele dominava as rádios não só tocando, mas compondo, e, principalmente, cantando hits como “Eu também quero beijar”, “Fazendo música, jogando bola” e “Um raio laser”.

Após quase duas décadas separados, os Novos Baianos se reuniriam novamente em 1997 para a gravação de um disco duplo para a MTV. Quase 20 anos depois, o grupo se reuniria novamente, com Pepeu Gomes, Paulinho Boca, Baby do Brasil, Moraes Moreira e Luiz Galvão.

Filho de uma professora de piano e de um violonista, Pepeu e nem os seus dez irmãos escaparam de ser músicos. Pepeu é cria da geração do rock que amou os Beatles, dançou ao som da Jovem Guarda – influência da primeira banda, Los Gatos, integrada pelo músico ainda amador da adolescência – e pirou quando ouviu Jimi Hendrix (1942 – 1970).

Inteligente, o artista aliou essa gama de influências ao som tropical brasileiro. Um dos maiores guitarristas do mundo, Pepeu transitou por grupos como Os Minos e Os Leif’s antes da fama, tendo criado identidade brasileira ao integrar os Novos Baianos e, mais tarde, ao ir atrás do trio elétrico. “Como sou um multi-instrumentista, as minhas influências musicais são diversas”, pontua o artista baiano.

Presente em boa parte das faixas do álbum duplo “Fa-Tal – Gal a todo vapor”, registro ao vivo de show icônico de Gal Costa, a guitarra de Pepeu Gomes também sobressaiu no antológico álbum “Acabou chorare”, ápice da trajetória da banda, por essa assinatura pop brasileira que reverbera a boa influência dos choros e sons de Waldir Azevedo, mestre no toque do cavaquinho, e de Jacob do Bandolim na alquimia de Pepeu.

Fundindo rock, baião, samba, blues, choro e jazz em som de aura por vezes psicodélica, Pepeu Gomes alcançou a glória como guitarrista, criando inclusive instrumentos derivados da guitarra, como o guibando, mix de guitarra e bandolim.

Os ingressos para o Baile da Macuca nesta sexta estão no site do Sympla, com opções de pista, mezanino (individual) e mesas para até oito pessoas.

Confira o papo com exclusividade de Pepeu Gomes à Revista O Grito!:

O Baile da Macuca está de volta para agitar o pré-Carnaval do Recife! O Clube Português traz o emblemático grupo Novos Baianos como atração principal. Como é voltar aos palcos de Pernambuco?

Voltar em Pernambuco para este pré-Carnaval, será uma grande festa, pois o público de Pernambuco é muito festivo e animado, estamos com as melhores das expectativas possíveis, vamos nos divertir muito!      

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Louvado como instrumentista, artista merece reconhecimento pela contribuição ao tecnopop nacional da década de 1980. (Foto: Daryan Dornelles / Divulgação)

Vocês caíram de cabeça nesse repertório tão emblemático. Revisitar as canções que fizeram na juventude mudou a forma como vocês as enxergam hoje?

O mundo vem evoluindo… e as canções mesmo tendo um tempo de vida, permanecem atuais, porém, na minha visão de arranjador, eu consigo trabalhar nelas de várias formas!     

Após a morte de Moraes Moreira, e dois anos depois, de Luiz Galvão, você, Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor voltaram a se reunir para uma nova turnê. Como foi a retomada do projeto sem os dois? Qual o sentimento?

Nossa volta aos palcos está sendo uma bênção, temos a mesma energia de quando gravamos o Acabou Chorare. O sentimento que tenho é de gratidão aos Irmãos Moreira e Galvis, pela colaboração de toda a obra que juntos construímos, eles fazem falta, mas, precisamos continuar, e a vida tem seguir nos caminhos de Deus. 

Quando gravou Acabou Chorare, vocês não tinham como saber, mas esse se tornaria o melhor disco brasileiro de todos os tempos de acordo com a primeira edição da Rolling Stone Brasil, publicada há 15 anos. Apesar da surpresa com o título, vocês sabiam o que estavam fazendo e onde queriam chegar com as composições? Já tinham em mente em realizar algo inovador para a época?

A gravação do acabou Chorare foi algo incrível e mágico, pois fiz todos os arranjos no próprio estúdio de gravação, falo que é mágico, porque foi gravado em quatro canais em uma época que a tecnologia ainda não era presente. Sabíamos que as músicas eram boas, a forma de tocar é a vibração da banda, fez com que as canções crescessem e tornarem-se referência até hoje na música brasileira. O processo de gravação foi muito natural, nós tocávamos o fruto das nossas influências: João Gilberto, Paulinho da Viola, Assis Valente, Jacob do Bandolim entre outros.

Pepeu Gomes, herói da guitarra tropicalista (Foto: Daryan Dornelles / Divulgação)
tropicalista (Foto: Daryan Dornelles / Divulgação)

Para se dedicarem de alma e corpo em um dos maiores sucessos do grupo, passaram a morar na mesma casa. Como foi a experiência da banda morar todo mundo junto? Diria que deixaram de ser um grupo musical para se tornar uma família?

Nós nos tornamos uma grande família, mesmo sendo um grupo musical, e vivíamos desapegados das coisas materiais e só fazíamos músicas o tempo todo. Morar todos juntos, nos proporcionou nos conhecermos melhor como seres humanos.              

Por falar em instrumento, você foi considerado um dos dez melhores guitarristas do mundo pela revista norte-americana Guitar World. Quais suas influências musicais?

Como sou um multi-instrumentista, as minhas influências musicais são diversas. Comecei ouvindo Valdir Azevedo e Jacob do Bandolim na rádio, com eles aprendi a tocar “Brasileirinho”, e depois chegou João Gilberto, e, na sequência, a guitarra do Jimi Hendrix, no qual misturei a influência americana com a brasileira, resultando no músico universal que sou.       

Vivemos um momento em que música e internet estão extremamente conectadas, baixa-se disco e artistas como Chico Buarque se apresentam na rede. Qual sua opinião a respeito?

Eu acho a internet a maior invenção do mundo, e nós artistas que sempre tivemos durante um tempo pouca visualização na mídia, ganhamos um espaço infinito.            

Os Novos Baianos sempre serão novos, atuais, modernos!.Como é pra vocês dialogar com as novas gerações que continuam descobrindo seus álbuns e comparecendo aos shows?

Conseguimos com nossa música atravessar gerações. As nossas canções tornaram-se eternas, pois em cada canção que fazíamos, tínhamos o cuidado de ter as nossas raízes e harmonia brasileira. O nosso público de hoje, são os filhos e netos dos nossos fãs das gerações que nos acompanhou durante décadas. 

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Baby e Pepeu no auge do sucesso na década de 1980

Quais seus próximos trabalhos?

Estamos com um projeto de gravarmos um novo trabalho de inéditas num futuro próximo, mas no momento estamos focados em nossos carreira individuais. Já estou em estúdio gravando um novo trabalho. Muito obrigado, um abraço!    

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