Entrevista: Diego Armés, de Portugal

diegoarmes

DESVIO HONESTO E TACITURNO DO ROCK
Uma ideia de verdade perante a música produzida em Lisboa e onde as palavras refletem um sentimento dirigido à livre interpretação

Por Pedro Salgado
Em Lisboa, Portugal

Como vocalista e guitarrista do power-trio Feromona, Diego Armés é uma peça decisiva de um projeto português, em que a união de punk-rock, grunge ou pop dos anos 1980 se traduziu em álbuns com melodias mais límpidas: Uma Vida a Direito, percorrendo caminhos mais agrestes no disco Desoliúde. O grupo já atuou no Japão e tem uma legião de fãs dedicados.

A ideia de avançar para um trabalho em nome próprio tomou forma, aproveitando temas que não se enquadravam no espírito da banda ou que não resistiram ao julgamento dos seus integrantes. Para o disco Canções Para Senhoras, o vocalista do Feromona evoluiu de um modelo de guitarra e voz, acrescentando tonalidades de piano, acordeão e violoncelo.

O disco não é o reflexo de uma etapa na vida do cantor, algumas músicas têm até quatro anos, mas é uma imagem de alguém que ousou expôr os seus sentimentos momentaneamente. Em conversa com a Revista O Grito! Diego Armés falou do seu primeiro trabalho em nome individual e do futuro.

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Porque decidiu iniciar uma carreira a solo?
De certa forma é um aparte. Eu não me vejo como músico, mas gosto de escrever canções, interpretá-las e tenho várias formas de o fazer. O meu formato preferencial será sempre numa banda rock. As músicas recentes são sobras de trabalhos anteriores e decidi enveredar por um registo mais acústico e intimista. Assinei os temas em nome próprio, tentei fazer um disco e foi isso que aconteceu. Não procuro fazer uma carreira em nome individual e se acontecer será um acaso.

O título do álbum parece indiciar fragilidade e delicadeza. Foi o seu lado feminino a falar mais alto?
É o contrário. Foi o meu lado masculino a falar mais alto (risos). Um pouco romântico, íntimo, pessoal, exposto e frágil, mas absolutamente másculo, uma vez que as canções são sobre e maioritariamente para senhoras. Trata-se da revelação de um lado menos patente nos apontamentos experimentados anteriormente.

Em “Canção Sentimental” há uma estrofe que parece marcar o disco todo: “Tento fazer rock e só me sai poesia”. Isto significa um corte com o som do Feromona ou apenas um estado de espírito?
Significa totalmente um estado de espírito. Aliás, a letra da música é feita num momento em que tentava concluír determinadas canções para o Feromona e estava com dificuldade em encontrar os caminhos. De repente, começo a brincar com a guitarra e escrevo estrofes sobre esse obstáculo, em terminar as faixas rock, e começo a ficar mais lamechas, sentimental e componho um tema sobre isso. Não é de todo um corte. O meu sonho é fazer rock e a poesia é um acrescento.

Na faixa “Mitologia Passional“, principalmente, contraria o âmago do trabalho de uma forma mais vincada. Com que intenção?
A música já estava feita antes de eu gravar o álbum. Nunca me ocorreu pensar na força da canção. Mas, depois de ouvir o disco, parece quase punk-rock para senhoras. De fato, essa faixa tinha ficado fora das composições para o Feromona e decidi aproveitá-la e dar-lhe uma roupagem diferente. Ela continuou a ser muito energética. No entanto, achei curioso verificar essa potência despida, com a guitarra acústica, e introduzindo-lhe um piano forte e esperar para ver os resultados. Julgo que funcionou. Relativamente ao alinhamento deste trabalho, acho que foi uma nuance bem introduzida para as músicas não parecerem todas iguais e existir uma oscilação e maior dinâmica.

Qual é a mensagem que lhe agradaria passar com o Canções Para Senhoras?
Julgo ser difícil falar numa mensagem. O fundamental é a busca das palavras certas para a musicalidade adequada, partindo de um princípio de grande honestidade. Isso foi algo que eu fiz questão de vincar ao longo do álbum e de todas as canções. Procurei não maquilhar, disfarçar ou arranjar subterfúgios, metáforas ou analogias. O objetivo foi que as palavras fossem mais directas e sentidas e, consequentemente, menos plásticas e mais dirigidas à essência da mensagem. A interpretação da mesma é livre.

Daqui para a frente teremos mais álbuns do Diego Armés?
É uma possibilidade em aberto. Sinto que sim, mas não sei dizer quando ou como será. Continuarei a compôr músicas que poderão encaixar neste registo e até pode surgir a possibilidade de fazer outro álbum a solo que se afaste destas coordenadas. De qualquer modo, não é um projeto definido, delineado e com prazos. E acontecerá naturalmente.