Iniciado em dezembro de 2024, o projeto Empoderarte, desenvolvido pelas artistas pernambucanas Mila Barros, Bubu e Inay, está promovendo oficinas gratuitas de graffiti nas comunidades periféricas do Recife. O objetivo da iniciativa é dar acesso às mulheres de todas as idades às artes de rua, incentivando o empoderamento feminino e a valorização da cultura hip hop.
O circuito artístico passa por quatro espaços culturais na cidade, sendo eles: Cores do Amanhã (bairro do Totó), Gris Solidário (bairro da Várzea), Revelar.si (bairro do Coque) – com a parceria do Ilé Asé Omó Obá Itotôfun – e Coletivo Fala Alto (bairro de Água Fria). As oficinas, que têm como foco a prática do graffiti, são realizadas exclusivamente para os moradores dessas comunidades e não exigem inscrição prévia.
De acordo com Mila Barros, idealizadora do projeto, o Empoderarte busca não apenas compartilhar saberes artísticos, mas também fortalecer o protagonismo das mulheres nas artes urbanas. “A Empoderarte é feita a partir das próprias referências, técnicas e da forma potente que a arte nos permite nos empoderar de nós mesmas”, afirmou Mila, que é artista visual e grafiteira.




As oficinas oferecem aos participantes a oportunidade de aprender técnicas de graffiti e, ao final, realizar uma pintura coletiva autoral, que é assinada por todos os envolvidos. Cada comunidade conta com a participação de dez pessoas por espaço cultural, somando um total de 72 horas de atividade ao longo de oito encontros.
Segundo Inay Victoria, grafiteira e arte-educadora do projeto, “trocamos e crescemos com muita cor, conhecimento e arte, e a força de outras mulheres é o que nos faz ainda maiores. Devemos mostrar sempre que essas mulheres existem e resistem, permitindo que as suas virtudes também influenciem outras mais e que sejam potências geradoras de novas artistas.”
O projeto também busca incentivar o acesso à cultura e ao lazer nas periferias, ao mesmo tempo em que abre caminhos para a economia criativa, através do graffiti como ferramenta de autonomia e geração de renda.
No entanto, a ação foi marcada por um episódio de intolerância religiosa. Após a pintura de um mural na comunidade do Coque, no muro do Compaz, as obras realizadas pelas participantes do Empoderarte foram cobertas por pessoas da própria localidade.
O Ilé Asé Omó Obá Itotôfun, que também é parceiro do projeto, denunciou o ato nas redes sociais, classificando-o como “intolerância religiosa e vandalismo”. O grupo reforçou que as pinturas haviam sido autorizadas pelo Compaz e que a ação desrespeitou tanto a fé quanto a arte das participantes.
“Essa atitude desrespeita a nossa espiritualidade, a diversidade religiosa das pessoas da comunidade e o tempo que as participantes da oficina dedicaram para realizar a pintura”, afirmou a publicação no Instagram do Ilé Asé Omó Obá Itotôfun.
O projeto Empoderarte conta com o apoio do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, da Secretaria de Cultura e da Prefeitura do Recife. A primeira edição aconteceu em dezembro de 2024 no bairro do Totó, e as atividades seguem até janeiro de 2025 com a realização das oficinas no bairro da Várzea (09 e 10 de janeiro), no Coque (18 e 19 de janeiro), e em Água Fria (23 e 24 de janeiro).