Deafheaven
Lonely People With Power
Roadrunner, 2025. Gênero: Post-Metal, Rock, Experimental
A banda californiana Deafheaven explora novas propostas sonoras neste novo trabalho, Lonely People With Power, mas sem deixar de lado sua assinatura inconfundível, como o paredão sonoro de guitarras e os vocais guturais do vocalista George Clark. A estética do grupo ainda aplica a fórmula dos trabalhos anteriores, com as interpretações atormentadas em canções que trazem um estilo emocional, agressivo, mas ao mesmo tempo soturno.
Mas o fã mais atento vai notar um refinamento nessa proposta, ainda que o disco guarde semelhanças com a brutalidade metaleira de New Bermuda (2015), um dos clássicos da banda. Há, por exemplo, aproximações com o death metal, de sons absurdamente pesados e vocais gritados, mas agora convivendo com vocais cantados, quase singelos. Essa dicotomia por vezes aparece na mesma faixa, com um resultado excelente, como é o caso de “Heathen”.
O Deafheaven dialoga com diferentes tendências do metal, mas sem se apegar a nenhuma das liturgias dos metaleiros inveterados. Trata-se, na verdade, de uma experiência de post-metal, vertente do indie-rock que mistura diferentes estilos sem nenhum compromisso formal. Do shoegaze ao hardcore, passando pelo black metal e post-punk, cabe tudo no caldeirão metaleiro do grupo, que ainda incorpora influências de nomes como Sigur Rós e Godspeed You! Black Emperor.
A banda chamou atenção do cenário independente com o excelente Sunbather (2013), cujas letras traduziam inquietações modernas que iam da ansiedade à frustração, sempre com um tom melancólico misturado ao rock pesado. O trabalho seguinte, o já citado New Bermuda, estabeleceu um patamar altíssimo na proposta sonora do grupo, que já se destacava pelo vocal quase superhumano de George Clark.

O diferencial nesse novo disco é o refinamento no bojo de referências que o grupo sempre buscou. Outro ponto interessante é que o progressivo ficou mais evidente, perpassando a maior parte das faixas.
E há um salto evidente nas letras. Clark consegue explorar com ainda mais clareza o tom pessimista com que a banda vê o mundo, sempre destacando a sensação de isolamento dos dias atuais. É possível encontrar pontos de contato com o clima político atual, como “Revelator”, que fala sobre poder e religião e “Body Behavior”, em que aborda violências derivadas de uma ideal de masculinidade.
As participações especiais, outra novidade em relação aos discos anteriores, trazem nomes como Paul Banks (do Interpol) e Jae Matthews (do Boy Harsher). São faixas de interlúdio, com certa calmaria, que antecedem momentos de fúria explosiva, com destaque para “Winona”.
Por todas essas inovações em sua própria proposta, o Deafheaven mostra que seu projeto artístico ainda tem muito a ser explorado, sem que a banda tenha que se repetir. Ao explorar as potencialidades de sua sonoridade, o grupo só reforça o quanto é inimitável no rock hoje.
Ouça Deafheaven – Lonely People With Power
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