Crítica: Sob A Pele, de Jonathan Glazer

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Um oceano assassino: bonito e assustador. (Divulgação).
Foto: Divulgação/Paris Filmes.
Foto: Divulgação/Paris Filmes.

Scarlett Johansson é uma alien assassina no belo e pretensioso Sob A Pele

A imagem de Scarlett nua andando sob um cenário estéril de fundo preto, se despindo enquanto homens pelados em ereção se afogam em uma espécie de oceano assassino, parece tanto um fetiche saído de uma mente doentia quanto uma alucinação assustadora. E ambos se encaixam bem para definir Sob A Pele, longa do diretor escocês Jonathan Glazer, que estreia nos cinemas. O diferencial está no fato do diretor empreender a pretensão necessária para tornar a obra um dos filmes mais instigantes deste ano a falar de solidão, desejo e, como está no cerne de quase toda a ficção-científica em si, o sentido da existência humana.

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Sob A Pele é estranho em praticamente todas as suas tomadas, mas tem uma narrativa tradicional. Vemos Scarlett Johansson no papel de uma alienígena sem nome que roda cidades escocesas a bordo de uma van em busca de presas humanas – no caso homens fisgados por seu apetite sexual voraz. Scarlett está hipnótica no papel que mistura fleuma e lascívia sobrepostos. Ela é fria no seu papel de matar suas vítimas para sugar sua energia vital. Ela foi corajosa em uma personagem que poderia ser considerado “perigoso” para a carreira de uma atriz famosa por franquias como Vingadores.

A estranheza se dá na ambientação criada por Glazer, diretor que domina bem a arte do cinema de envolver o espectador com o impacto visual. A paisagem lúgubre dos subúrbios proletários da Escócia se contrapõem aos momentos em que Scarlett leva homens ao seu ambiente monótono e estático. Também cria situações de tensão sem dar indícios do que podemos esperar. Praticamente nada é explicado sobre essa raça alienígena, suas motivações ou planos. E praticamente não há diálogos, além das conversas genéricas e improvisadas de Scarlett com os estranhos na van (aliás, todos não-atores. O diretor colocou câmeras escondidas para captar mais realismo).

Performance de Scarlett foi essencial para compor o impacto visual do filme. (Divulgação).
Performance de Scarlett foi essencial para compor o impacto visual do filme. (Divulgação).

Essa jornada da alien assassina parece querer refletir sobre a noção de humanidade. Mas Glazer se livra da tentação de fazer da personagem de Scarlett um veículo para fazer críticas sociais ou dessa ou daquela característica “humana”. Não há maniqueísmo. O que o filme parece tentar contar é que no universo somos todos alienígenas dentro de algum contexto. Os momentos finais são tão intensos quanto bonitos – não é possível tirar os olhos da tela, ao mesmo tempo em que temos a mente espezinhada por uma experiência estética pouco comum no cinema.

Um oceano assassino: bonito e assustador. (Divulgação).
Um oceano assassino: bonito e assustador. (Divulgação).

Jonathan Glazer é hoje um dos novos nomes do cinema independente – foi diretor de Reencarnação, com Nicole Kidman – e começou a carreira trabalhando com a banda inglesa Radiohead. Sob A Pele é um filme difícil, mas com uma beleza e tensão narrativa que só alguém com muita ambição conseguiria obter êxito. Sorte ter encontrado uma atriz com o mesmo ímpeto por papéis com algum desafio criativo.

SOB A PELE
De Jonathan Glazer
[Under The Skin, GBR / Paris Filmes]
Com Scarlett Johansson, Krystof Hadek, Paul Brannigan

Nota: 9,0