Crítica: O Silêncio das Montanhas, de Khaled Hosseini

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Novo livro de Khaled Hosseini tenta ousar na forma, mas escorrega no melodrama

Dez anos depois do best-seller O Caçador de Pipas, que como muitos livros do gênero criou uma espécie de “onda” abrindo espaço para outras publicações de temas afegãos, Khaled Hosseini lança seu terceiro romance. Desta vez o autor está disposto a exigir mais do seu leitor habitual ao apostar em uma estrutura diferente para uma trama lenta, contada por vezes diretamente na voz do personagem e em outras através de histórias de personagens secundários onde os principais aparecem apenas de passagem. Em O Silêncio das Montanhas Hosseini se esforça para ser um autor sério, mas escorrega no melodrama, se aproximando mais do tom novelesco que literário.

Começamos a história nos anos 50, em uma pequena aldeia a alguns dias de Cabul, com uma fábula sobre um dev das montanhas – que servirá de metáfora para a história principal do livro – onde conhecemos os irmãos Pari e Abdullah, separados ainda crianças. Eles seguem caminhos diferentes que se cruzam apenas através de pessoas que conhecem durante suas vidas. E são as histórias paralelas destas pessoas que vão compor toda a trama do livro.

Ao longo dos nove capítulos que funcionam como pequenos contos, a passagem do tempo é contada em elipses que saltam bruscamente ora para a capital de um Afeganistão em guerra, ora para a tranquilidade de uma lugares como uma cidadezinha da Grécia, passando ainda pelos Estados Unidos e França, apenas para que observemos de perto como os personagens se conheceram, como pensam e vivem e o que foi feito de suas vidas. Ainda que algumas das histórias não transmitam informações relevantes para o pano de fundo maior: são apenas recortes, recortes vistos de perto. Entre as melhores histórias estão a do personagem-chave Nabi, a da poeta Nila, do cirurgião plástico Markos e das sobrinha e tia Pari, onde Hosseini, se sai melhor.

O livro tem uma estrutura que remete a Bolaño e Jennifer Egan – no sentido das histórias independentes cujos personagens se esbarram em algum momento. No caso do primeiro ele se apropria dos capítulos cuja narrativa foge do convencional – como a baseada em excertos de entrevistas – se aproximando dos feitos da segunda em  A Visita Cruel do Tempo.

Hosseini escreve com menos charme e talento ao apelar para o melodrama com personagens clichês e tramas caricatas: temos o pai viúvo sem dinheiro para manter os filhos; a gêmea que tem inveja da irmã e causa um acidente do qual se arrepende o resto da vida; o empregado que se apaixona pela patroa mas passa a vida cuidando do patrão doente; a competição entre o primo hipócrita e o primo bonachão; a artista incompreendida e sua filha certinha, etc.; abusando do sentimentalismo superficial em passagens como “(…)acenou para mim uma vez e pôs a palma da mão no vidro. A palma da mão de Nila, esbranquiçada na janela foi a última coisa que vi quando o carro se afastou da entrada” (p. 101),  buscando extrair emoção do leitor a qualquer custo através do choro fácil – chegando perto no último capítulo, quando finalmente os personagens centrais voltam a se tornar os protagonistas da história. Mas logo Hosseini desfaz o encanto com um final óbvio e batido.

imagem2-0207O SILÊNCIO DAS MONTANHAS 
Khaled Hosseini
[Editora Globo Livros, 352 páginas / 2013]
Tradução: Claudio Carina