Crítica: Mallu Magalhães | Pitanga

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QUEM É MALLU MAGALHÃES?
O tempo passa e a cantora não para de deixar interrogações. Mais madura, ela lança Pitanga, seu terceiro álbum

Por Lidiana de Moraes

Mallu Magalhães surgiu no cenário brasileiro em 2007 como uma das grandes sensações que o jornalismo musical poderia ter encontrado para encher páginas de jornal, sites, rádios e programas de TV. Mallu era propagada por todos os lados como uma menina prodígio que chamava a atenção por estar tão distante das cantoras de sua idade. Ela não se interessava em ser um rosto bonitinho ou a se render a qualquer estratagema da cultura pop. Se tratava de uma moça, muito nova, meros quinze anos, que tocava, compunha e cantava músicas de adultos, como gente grande.

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Os primeiros anos de Mallu Magalhães
Marcelo Camelo em 2011

A jovem que cantava Johnny Cash e Bob Dylan parecia para alguns como um sopro fresco no meio de tanta mesmice no universo da música tupiniquim. Para outros, era mais uma que teve sorte por ter sido escolhida pela mídia para atrair os olhares do público sedento por uma novidade. Contudo, para esses críticos, assim como tantas modas, Mallu estava fadada a uma carreira curta. E, assim como para tantos astros mirins ou adolescentes, era uma questão de tempo que ela crescesse e deixasse de ser tão interessante.

Agora, em 2011, aos 19 anos, Mallu Magalhães lança seu terceiro trabalho, Pitanga, produzido por Marcelo Camelo. E ao contrário do que muitos detratores da sua música esperavam ansiosamente que acontecesse, a cantora parece estar envelhecendo com calma e serenidade. E esse amadurecimento é refletido a cada novo trabalho.

O primeiro disco homônimo, lançado em 2008, era uma compilação daquelas canções que foram lançadas aos poucos para o público que a descobria quase que no mesmo instante que as composições criavam vida. Mallu ia experimentando musicalmente sob o olhar das pessoas que tinham interesse sobre o que ela mal tinha acabado de criar. Talvez, por essa razão, em alguns momentos o processo criativo pelo qual algumas faixas passaram pareceu infeliz, como se aquela inocência genuína de uma menina brincando de fazer música fosse eliminado pela necessidade de fazer dela o grande nome da música no século 21.

Já o segundo trabalho repetia o nome, como se numa tentativa de firmar a identidade. E mais uma vez Mallu foi aceita pela crítica. Em parte porque conseguiu manter o seu frescor de inovação, mas também porque conseguiu associar o que se esperava dela com um passo além. Dentro das possibilidades, a paulista pode ousar dentro dos limites que o pouco de tempo entre o primeiro e o segundo disco permitiam e assim colocou a prova diferentes nuances musicais, como se tentasse localizar o lugar certo para ela. E assim surgia mais uma pergunta: será que Mallu precisa de um lugar definido em um universo musical tão vasto para ser explorado?

Em alguns textos espalhados por aí, uma das críticas que mais aparecem quanto a Mallu ainda é o fato dela não conseguir decidir se canta em português ou inglês. Alguns julgam esse fato como uma demonstração das habilidades plurais dela como compositora. Enquanto outros persistem em pensar que é mais um meio de chamar a atenção. Sem escolher lados na discussão, a insistência em cantar em inglês ainda parece resquício de uma confusão identitária provocada pela rápida mudança de status na carreira que deu os primeiros passos na internet, como se ela não tivesse tempo para escolher quem ela é ou quer ser.

No entanto, em tempos de mundo globalizado, será que a língua faz tanta diferença na hora de compor? Infelizmente, é inegável que composições como “Youhuhu” quebram o ritmo de belas letras completamente brasileiras como “Sambinha Bom”, “Olha Só, Moreno” e “Por Que Você Faz Assim Comigo”. Seria uma dificuldade assumir de uma vez por todas que Mallu é uma artista tipicamente brasileira? Cantar apenas em português seria visto como um renegar de suas influências estrangeiras? Se esse é um medo da cantora, em especial porque alguns dos seus maiores sucessos até hoje eram em inglês, ela deveria o deixar de lado. Em Pitanga, duas faixas bilíngues, “Baby, I’m Sure” e “In The Morning”, saltam para os ouvidos e provocam os sentidos de forma mais intensa justamente nos momentos em que o português vem a tona.

Mallu Magalhães ainda está longe de ser uma pessoa de idade, da mesma forma como parece longe o momento em que as incógnitas deixadas por ela se esgotarão. Enquanto os anos passam, ela não para de deixar interrogações soltas pelo ar, nos instigando a desvendá-las aos pouquinhos, como se ela fosse o grande enigma musical que apareceu nos últimos tempos. No entanto, se a canção “Velha e Louca” for uma premonição do que o futuro aguarda musicalmente para a artista, envelhecer nunca foi tão bom: “Pode falar que eu não ligo, agora amigo eu tô em outra. Eu tô ficando velha, eu tô ficando louca…”.

malu magalhaes pitangaMALLU MAGALHÃES
Pitanga
[Sony/BMG, 2011]

NOTA: 8,0

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Lidiana de Moraes
é jor­na­lista e cola­bora com a Revista O Grito! com maté­rias e crí­ti­cas musi­cais. É edi­tora do Receituário Pop.