Crítica-Livro: Obra de Roberto Sander sobre o Maio de 68 reflete passado e futuro do movimento

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Passeata no Brasil mostra que o movimento teve influência global. (Reprodução).

O livro 1968 – Quando a Terra Tremeu, do jornalista Roberto Sander relata como os acontecimentos de 1968 marcaram a história, não só do Brasil como do mundo. Muitos acreditavam que aquele era o ano em que alguns projetos sociais iriam se concretizar. Diante de tantas especulações, suspeitava-se de que o ano de 1968 poderia vir seguido de grandes acontecimentos e de avassaladoras emoções.

Naquele ano, segundo o autor, as trajetórias políticas e culturais, tanto do mundo quanto do Brasil, tomaram rumos que iriam marcar para sempre a história cultural e política de várias épocas. O Maio de 1968, uns dos movimentos esquerdistas mais importantes da história francesa, refletia no universo dos estudantes de São Paulo e do Rio de forma surpreendente. Uma geração ávida por luta, que nas palavras do próprio Sander, experimentou os limites de todos os horizontes político, sexual, religioso e, principalmente, comportamental. O radicalismo e conservadorismo dos ditos revolucionários são discutidos, inclusive estabelecendo os posicionamentos de famosos.

A sede de liberdade e a vontade de vivenciar novas aventuras faziam a geração de 68 quebrar barreiras sociais e valores até então estabelecidos por gerações anteriores. Esse novo existencialismo também rompia com um modelo estabelecido pelos governantes políticos.

1968O relato feito por Roberto Sander fala das conquistas de uma geração que se preocupava com a conjuntura da época. Entre essas conquistas estão a discussão sobre sexo nas salas de aula; o avanço da moda que era reflexo da rebeldia daquela geração; o uso da pílula anticoncepcional, que provocava mudanças no comportamento da mulher brasileira. Além disso, o uso da maconha pela classe média alta, muitas vezes até como forma ideológica, a necessidade de ler autores que tinham uma visão revolucionária, como Karl Marx, Trotsky, Guevara.

O autor aponta que a geração de 68 adquiria, na literatura, embasamento para suas práticas políticas. Não era uma geração de imagem, e sim, de leitura. Nem a televisão, que era uma das mais impressionantes invenções tecnológicas dos últimos tempos, impactava os estudantes revolucionários de 1968. A atração principal daquele cenário era o cinema, o teatro e a música, pois aquela geração era movida pelos grandes festivais da canção, uma vez que era nestes que colocavam para fora todo o seu talento e entusiasmo.

A música também passava por uma nova fase com o surgimento da Tropicália, movimento fruto da geração de 68, veio com uma imensa necessidade de expressar, através da arte, o momento que o Brasil estava passando. Vários artistas se consagraram naquela época como Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Zé, entre outros.

Porém, segundo o autor, não se pode dizer que foi só a música que atravessou uma nova fase em 1968, o cinema estava cada vez mais se consolidando, e o teatro era uma das maiores representações do momento, peças como Roda Vida, Um rei da vida, Um bonde chamado desejo, atraíam a atenção de uma geração eufórica e com muita sede de cultura.

Em termos políticos, o Brasil vivia um verdadeiro clima de tensão. Quatro anos depois do Golpe Militar, os governantes continuaram com o regime ditatorial, só que dessa vez de forma mais rigorosa. A censura, punição, cassação, tortura, exílio e repressão eram as características principais da política brasileira.

Sander pontua que a esquerda estudantil aos poucos começou a perder suas forças e, em 13 de dezembro de 68, durante o governo do general Costa e Silva, foi estabelecido o Ato Institucional Número 5. Esse ato legitimava a censura prévia a todos os meios de comunicação e controlava rigorosamente qualquer produção cultural. As mais diversas formas de arte eram consideradas, pelos censores, como inapropriadas para o momento político brasileiro e agressivas ao Estado. O Ato Institucional Número 5 se estendeu até 1978 e foi o período mais rigoroso da história política do Brasil. Depois desse regime só restava, à geração de 1968, privar-se dos seus sonhos e ideais, e para muitos artistas e estudantes, sobraram apenas o exílio e a tortura.

O autor foi feliz ao alternar os assuntos ao longo do livro, passando pela Guerra do Vietnã, o assassinato do pastor Martin Luther King e abordando acontecimentos importantes no cinema, na música, na política e na economia. Outro ponto a ser ressaltado é a organização do livro por meses. O autor divide a obra de janeiro até dezembro de 1968. Em cada mês, Sander trata em média sete fatos, alternando entre assuntos nacionais ou mundial. Para tal, o autor realizou uma pesquisa aprofundada sobre a história nacional e mundial para escrever.

Em suma, 1968 – Quando a Terra tremeu aborda que aquele ano foi cheio de turbulências e aventuras. O que resta agora é saber o que cada um de nós carrega dessa geração, que ao mesmo tempo em que tinha muita vontade de lutar pelos seus ideais e comemorar suas conquistas, viveu sob grande repressão e tortura. Não há dúvidas de que o ano de 1968 continuará para sempre no imaginário do povo brasileiro.

1968 – Quando a Terra tremeu
Roberto Sander
[Editora Vestígio, 304 páginas, 2018]
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